Padre João Medeiros Filho
No próximo dia dez, celebrar-se-á o décimo sextoaniversário de vida eterna de Dom Nivaldo Monte. Na liturgia católica, festejam-se os eleitos de Deus na data de sua volta para a Casa do Pai e não no dia de seu nascimento terreno. “A morte é o verdadeiro natalício do ser humano”, afirmou Santo Agostinho. Os restos mortais de Dom Nivaldo repousam no silêncio do Mosteiro de Sant’Ana de Emaús, em meio à natureza, que é um permanente bálsamo divino. Lá, os pássaros esvoaçam,como em uma dança de alegria e as rosas espargem perfume sobre a sua sepultura. Os fiéis, que por ali passam, demonstram o quanto era amado em vida, em culto à sua memória. Muito poderá ser dito sobre esse pastor. Múltiplo pelas atividades que exerceu: sacerdote,bispo, escritor, professor, poeta e botânico. Uno, porque nele tudo convergia para o Mestre. “Para mim o viver é Cristo” (Fl 1, 21) era o seu lema episcopal. No final de seus dias, marcados pela enfermidade, acentuou a certeza de que o importante não é a duração da existência e sim a intensidade do amor com que se vive. E isso fazia com maestria e profundidade, a ponto de intitular uma de suas obras: “O coração é para amar.”
Dom Nivaldo costumava chamar as plantas, as quais admirava e cuidava, de “catequese de Deus”. Não fazia discursos sobre ecologia. Sempre demonstrou um granderespeito à natureza, imagem do Belo e Sagrado. Adquiriu terras, não para acumular bens, mas preservar o solo fecundo – presente de Deus aos homens – a fim de torná-lo berço de frutos e dons. O objetivo precípuo era proclamar a beleza da dádiva sobrenatural às criaturas humanas. Para ele, “nossa mãe terra é extensão do colo divino.” Apaixonado pelos jardins, pomares e hortas, denominava-os “meus irmãos”, usando uma expressão bem franciscana. Deixou-nos inúmeros testemunhos de ternura e bondade. Quantas histórias edificantes a seu respeito, marcadas de encanto e paz poder-se-iam contar.
Ao preservar sua memória, sirvam-nos de lição assábias palavras de Santa Bernadete Soubirous, testemunha dos acontecimentos, em Lourdes (França): “Quando se for escrever a história daquilo que aqui aconteceu, que se procure ser fiel.” Ao recordar Dom Nivaldo, a verdade que desponta diante de todos é a de um homem místico e telúrico, irradiando simplicidade, sabedoria, otimismo,acolhimento e perdão. Era um ardoroso defensor da natureza, filha esplendorosa de um Deus do silêncio eloquente. Aqueles que educam para a paz e justiça brilharão para sempre como estrelas. No firmamento celeste, cintila uma luz que nos acalenta: Dom Nivaldo. Exemplo e incentivo para os cristãos e o povo potiguar que tanto amara. Em reconhecimento e gratidão a tudo o que ele foi e realizou, o Prefeito de Parnamirim, Rossano Taveira, sancionou a Lei 2.307/22 (Diário Oficial, de 02/09/22), aprovada pela Câmara de Vereadores, por iniciativa e proposição do edil Vavá Azevedo, denominando Dom Nivaldo Monte uma rua de Emaús, que ladeia sua antiga granja, hoje Recanto Santa Marta.
Dom Nivaldo, em seu despojamento, homenageando a terra que cultivara, descansa no solo que abençoou. Era um sacerdote em permanente comunhão com Deus e as criaturas. Ver um arcebispo inumado de forma tão simples e telúrica, talvez cause surpresa a alguns. Cumprindo seu desejo, na lápide tumular constam seu nome, as datas de nascimento e partida para a eternidade e seu lema episcopal em latim. Faz-nos lembrar Léon Bloy: “Quero para mim a beleza, a quietude e o silêncio do Infinito.”Nosso inesquecível arcebispo não quis ser sepultado emigreja. Nelas não haverá colibris em voo rasante, saudandoo santo e sábio que descansa no chão sagrado de Emaús. Nos templos, inexistiriam o brilho do sol tocando o seu corpo, nem diversas flores para engalanar e perfumar sua última morada. Em Emaús, as mãos puras e piedosas dasirmãs contemplativas (filhas de Sant’Ana) depositam em seu túmulo girassóis (que especialmente o encantavam), rosas e preces de gratidão por todo o seu amor à Igreja de Cristo. Sobre ele, poder-se-ia aplicar a frase evangélica:“In finem dilexit”, ou seja, “Amou até o fim” (Jo 13, 1).