Vai ser no voto

Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay

Nunca uma eleição mobilizou tanto o país. Normalmente, quem gosta de política e sabe o quanto é importante se posicionar na escolha dos representantes acompanha com detalhes os momentos pré-eleitorais. É um acompanhar sem grandes sofrimentos ou sem uma paixão muito explicitada. Porém, desta vez, a campanha dividiu o país, os amigos e as famílias. Rigorosamente, não estamos tratando apenas de dois projetos diferentes como propostas para governar os rumos do Brasil. O que está efetivamente em jogo é a civilização contra a barbárie; o fascismo contra a democracia; a vida versus a morte. Simples assim.

Num país em tempos de normalidade democrática, é natural que ocorra a alternância de poder. É até salutar. Mesmo quando nos defrontamos com propostas e ideias diferentes no trato com a coisa pública, todas se preocupam com a preservação do Estado democrático de direito. Sem nenhum risco de quebra da institucionalidade. Sem nenhuma irresponsabilidade que torne o Brasil um pária internacional como que vagando em mares revoltos, sem rumo e sem respeitabilidade.

Há uns dias, escrevi um artigo contando que durante anos fui dono do Piantella, o reduto gastronômico dos políticos em Brasília. E era comum que, após os grandes debates nacionais, os principais atores políticos dividissem a mesma mesa. O restaurante era uma espécie de puxadinho do Congresso Nacional, mas recebia também, diariamente, ministros do Executivo e do Judiciário. Entre aquelas mesas e copos, discutiam-se, de maneira vibrante, mas respeitosa e com urbanidade, os destinos do país. E era bom para a estabilidade democrática que as questões mais sérias fossem debatidas fora dos espaços públicos tradicionais. Havia respeito pela democracia. Saímos de uma ditadura militar com muita conversa e articulação.

Hoje, o Brasil vive sob o jugo do fascismo, sob o medo das milícias, da violência física e das repetidas ameaças de quebra da normalidade democrática. O governo fascista armou a população e estabeleceu o ódio como única forma de atuação. É um verdadeiro culto à violência, à misoginia e ao racismo, o desrespeito às minorias, a aversão às mulheres e o nojo ao pobre. É a não democracia. É como se tivessem vendado os nossos olhos, tirado o nosso ar e atado as nossas pernas e mãos. Sufocaram nossas vozes e roubaram nossa esperança, apoderando-se até das nossas cores e símbolos nacionais.

Mas não há mal que dure para sempre. E é a nossa resistência que nos permite furar essa onda de negacionismo e de tragédias diárias. Por isso, agora no dia 2 de outubro, no próximo domingo, nós vamos usar a verdadeira arma da democracia: o voto. É com essa arma que travaremos o duelo que vai nos afastar da mediocridade obtusa e que é a responsável pela volta da fome para 33 milhões de brasileiros.

Vamos resgatar nossa dignidade e nossa esperança. Vamos derrotar o fascista no primeiro turno, colocando o velho Lula de volta ao poder. E depois de Lula eleito, vamos voltar a sorrir e trabalhar ainda mais para trazer a alegria e a honradez ao Rio de Janeiro. Com Freixo no governo, estaremos dando ao Rio a chance de alçar voos em nome da liberdade, da paz e da honestidade. Nós merecemos isso.

Na poesia do grande Leminski, no poema “Aço em flor”: “Quem nunca viu que a flor, a faca e a fera tanto fez como tanto faz, e a forte flor que a faca faz na fraca carne, um pouco menos, um pouco mais, quem nunca viu a ternura que vai no fio da lâmina samurai, esse, nunca vai ser capaz.”

Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay

Fonte: ig último segundo