Um novo bispo para Caicó

Padre João Medeiros Filho

Os católicos do Seridó esperam um novo pastor. O oitavo desde 1941, quando chegou Dom José de Medeiros Delgado, um homem de Deus, que deixou saudades. Era um paraibano dinâmico, com ancestralidade em Serra Negra do Norte (RN), animando a Igreja daquela região. Criou o Ginásio Diocesano Seridoense para educar os rapazes. Fundou o Seminário Santo Cura d´Ars a fim de formar os sacerdotes. Organizou a Escola Pré-vocacional, experiência pioneira de ensino profissionalizante no RN, bem como a Escola Doméstica com o objetivo de preparar as donas de casa. Pensou nas mães operárias, idealizando a “Pupileira”, primeira creche caicoense. Preocupou-se com a formação dos líderes cristãos, ministrando palestras e cursos organizados pela Ação Católica. Desejou um clero bem preparado teologicamente, enviando seminaristas para estudar na Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma). Pensou na solidão dos idosos, legando à região o Abrigo Professor Pedro Gurgel. Amava nossa cultura. Visitava as fazendas, bebia leite nos currais, participava de vaquejadas, degustava cuscuz, tapioca, mungunzá, arribaçã, curimatã, peba e mocó. Jantava coalhada adoçada com rapadura. Exalava o cheiro de suas ovelhas. Mostrou-se autêntico sertanejo, vivendo o que escreveu Paulo: “Para todos eu me fiz tudo, para certamente salvar alguns” (1Cor 9, 22).

O pastor que há de vir, seja: José, Luiz, Francisco ou qualquer outro, alguém que ame profundamente o Povo de Deus e queira bem ao Seridó, encantando-se com suas pedras. Fique extasiado com o pôr do sol, anunciando o fim de mais um dia de graças e alegria. Saiba ver a vida e os traços divinos na beleza de nossas tradições e costumes. Queira sentir a brisa da aurora e se emocione com o aboio dos vaqueiros, tangendo o gado, metáfora dos fiéis na procissão da vida rumo ao Infinito. Rezo para que o próximo bispo possa ser um conhecedor das experiências de chuva, vibre com açudes e barragens sangrando. Saiba a hora indicada pela estrela da manhã – imagem bíblica de Maria – para recitar o Rosário e o Ofício da Virgem. Peço a Cristo que o vindouro bispo assimile a mentalidade seridoense para celebrar a liturgia de seus valores. Possa o Espírito Santo conceder-lhe a criatividade semelhante à de Delgado, a piedade de Adelino, a missionariedade de Tavares, a mansidão de Heitor, a preocupação com o social de Jaime, a simplicidade de Delson e o espírito fraternal de Antônio.

Rogo ao Pai que o futuro prelado se coloque onde seus fiéis estiverem, aos pés de Sant’Ana ou à sombra das folhagens parcas dos sítios, ouvindo o clamor oriundo da seca. Admire a arte dos bordados seridoenses, trazendo para os cristãos a harmonia dos pontos e o colorido das linhas. Assim almejo um bispo, capaz de dialogar com os mestres e doutores nos “campi” universitários, alegrar-se com a singeleza e contrição da velhinha que sequer canta acertadamente o bendito: “Ó Virgem Senhora, Mãe da Piedade, livrai-nos da pena da ‘maternidade’ [por eternidade].” Espera-se um pastor identificado com o rebanho, cantando as ladainhas do Maestro Felinto Lúcio e de outros compositores do Seridó.

Rezarei para que o futuro prelado caicoense se apresente como um peregrino em permanente estado de escuta, diálogo, conversão e prece. Tenha a influência de Sant’Ana, educadora que transmitiu com amor e respeito a Palavra Sagrada a Maria Santíssima. Seja bem-vindo o escolhido de Deus, ao aceitar com gratidão e responsabilidade o bispado que lhe é confiado por Cristo. Sinta-se sempre feliz, dizendo: “Sou do meu [povo] amado” (Ct 6, 3). Ao longo do seu pastoreio, lembre-se das palavras do Papa “Quem aceitar ser bispo, pensando em status e poder, não se realizará em seu ministério” (Discurso aos representantes do CELAM, na JMJ/RJ). Seja capaz de animar as ovelhas do seu redil: clero, religiosos e leigos, esperançosos e revigorados na fé e caridade. Deseja-se um pai terno, paciente e solícito. Nossa prece para que o novo antístite viva o que disse Francisco ao episcopado holandês, na visita “ad limina”, em 2013: “Não se esqueçam de ir em busca das ovelhas famintas, que não conseguem se aproximar.”  E que, um dia, todos possam proclamar: “Bendito aquele que vem em nome do Senhor” (Lc 19, 38).