Padre João Medeiros Filho
No Natal celebrado, há poucos dias, as luzes e os cânticos anunciaram a alegria da Vida, o sorriso encantador da esperança e a certeza inefável da vitória. E tudo isto é, a um só tempo, tão simples e frágil, grandioso e resplandecente. É o precônio do verdadeiro Ano Novo, pois a grande e perene novidade é a Encarnação de Cristo, Deus entre nós. No limiar de mais um ciclo do tempo, ainda envolvidos pelos problemas, angústias, conflitos, crises e expectativas que atingiram o Brasil hodierno, vale recordar as palavras do profeta Isaías: “A quantas está a noite? A sentinela responde: Não tardará o amanhecer” (Is 21, 12). Como será o ano vindouro? Mesmo que tenhamos muitos planos, a sua concretização inquieta-nosdiante das incertezas do amanhã. O romper de um ano lança-nos sempre um desafio, enfrentado satisfatoriamente apenas com a graça divina. Há encontros e confrontos, em que nos deparamos com projetos e dúvidas, o desejado e o desconhecido. É o futuro cronológico dos homens, presente nas entranhas da eternidade do Pai.
Durante 2022, vivemos momentos difíceis e conturbados. Quem sabe se no ano que se iniciará, seremos capazes de entender a mensagem natalina e colocar em prática as palavras de Cristo. Este pregou um mundo, onde haja lugar digno para todos: crianças, idosos, doentes, pobres e excluídos pela sociedade. Só viverá a lição do Natal e desejará verdadeiramente um Feliz Ano Novo, quem for capaz de compreender que nosso Deus é a plenitude do amor, da ternura e misericórdia.
É lugar comum externar votos de um feliz Natal e próspero ano. Mas, por vezes, isto soa como uma expressão meramente formal, um chavão desgastado, um gesto pálido de afeto. O augúrio de paz deve brotar da sinceridade de nosso coração. Mister se faz que tais manifestações estejam arraigadas no esforço de todos para construir uma sociedade onde reinem o respeito, a solidariedade e a fraternidade. As formas de dignidade humana devem abranger a razão da nossa alegria e daefusão de nossos sentimentos na beleza dos fogos de artifício, iluminando a noite e saudando o alvorecer do ano que começa.
No dia primeiro de janeiro, os católicos veneramMaria Santíssima sob a invocação ou o título de Mãe de Deus. Na aurora de mais um tempo, deseja a Igrejaapontar Nossa Senhora como a nova humanidade. O mundo marcado de erros e desacertos necessita conhecermelhor Aquela que é isenta de maldade. A sociedadeimperfeita e iníqua precisa reconhecer sua pureza e a justiça de Deus. Em Maria, nasce um novo tempo, marcado de esperança. É um convite a reiniciar a vida e a história. São estes os sentimentos que devem aflorar à consciência dos cristãos. Maria Santíssima gerou a permanente novidade: o Emanuel, Deus conosco. Ela é genitora da Luz e da Vida. Um mundo diferente e renovado se inspira na vivência do seu exemplo. A Virgem de Nazaré é a nova cronologia, porque nos presenteouCristo, sacramento vivo do Eterno, portador do perdão e da paz. Assim, faz sentido celebrar Nossa Senhora, no início de janeiro.
No raiar de um novo ano, a harmonia deve ser o grande dom que aspiramos para nossas vidas e a sociedade. Queira Deus, recebamos, em todos os momentos de 2023, a bênção bíblica, retomada por São Francisco de Assis: “O Senhor te abençoe e te guarde. OSenhor faça resplandecer a sua face sobre ti, e tenha misericórdia de ti. O Senhor levante sobre ti o seu rosto, e te dê a sua Paz” (Nm 6, 24-26). Rezemos fervorosamentepara que o “fruto bendito do ventre de Maria” seja mais reconhecido e amado. A Palavra por Ela gerada seja ardorosamente escutada e vivida. O amor por Ele pregado seja compreendido e transmitido. O perdão trazido aos homens pela prodigalidade divina seja repartido. A doçura e a misericórdia do Eterno substituam a insensibilidade e o egoísmo. Assim, haveremos de sentir que teremos um ano de graça e paz, que vêm de Jesus Cristo, Salvador do Mundo.