Sara Winter tem perfis encerrados por expor criança vítima de estupro

Após expor o nome da menina de 10 anos estuprada pelo tio nas redes sociais, a extremista Sara Winter teve contas excluídas nas principais redes sociais. O encerramento dos perfis ocorreu na madrugada desta terça-feira (18/8), dia seguinte à determinação de exclusão das postagens pela Justiça.

A extremista expôs o nome da vítima no último domingo (16/8), dois dias antes do bloqueio. No YouTube, a plataforma diz que a conta foi encerrada por “violação dos termos de serviço”, enquanto o Twitter alega que o encerramento é consequente de uma “demanda legal”.

Além do nome, Sara havia revelado nas redes o endereço da unidade de saúde onde a criança faria o aborto. Ela usou o termo “aborteiro” para se referir ao médico responsável pelo procedimento.

O caso seguia em sigilo e o nome da vítima estava protegido pelo fato de ser uma menina de apenas 10 anos. Com a repercussão negativa às postagens, a Justiça do Espírito Santo determinou na segunda-feira (17/8) que Facebook, Twitter e YouTube retirassem do ar as informações sobre a identidade da menina.

Em defesa, Sara disse que os dados já haviam sido divulgados e que trata-se de um “ideologismo” a acusação de ter publicado de forma inédita o nome da criança.

Esta não é a primeira vez que o YouTube e Winter se enfrentam. Ao ser presa pela Polícia Federal (PF) pelo inquérito contra as fake news que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), a extremista perdeu a monetização do seu canal. Segundo ela, a estimativa é de que perdas foram de US$ 1,8 mil mensais. Segundo ela, a página na plataforma é a principal fonte de renda, juntamente a palestras e livros publicados.

Ainda, por decisão do relator do processo, o ministro Alexandre de Moraes, Sara teve as contas no Facebook e no Twitter suspensas por decisão da Corte, nos casos das investigações sobre a divulgação de notícias falsas e pelos atos antidemocráticos. Apesar da ordem judicial, ela abriu novos perfis e seguiu ativa nas redes sociais.

Metrópoles

Racismo e violência contra criança e adolescente são desafios do país

Publicado há 30 anos, o Estatuto da Criança e do Adolescente trouxe avanços na abordagem dos direitos essenciais do público para o qual foi criado em diversas áreas, como saúde, educação e também no combate ao trabalho infantil. No entanto, a situação no país está longe de ser a ideal em alguns aspectos como o racismo, a violência doméstica e o abuso sexual. Para o coordenador do Programa de Cidadania dos Adolescentes do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Mario Volpi, o maior dos desafios para fazer valer esses direitos no Brasil é a desigualdade, e, entre as diversas formas em que ela se apresenta no país, destaca-se o racismo.

“Esse elemento do racismo, da desigualdade racial, é um elemento que o país ainda não superou. E um dos motivos é porque o Brasil é um país que demorou a admitir que existe discriminação racial. Tivemos uma ideologia de uma pseudodemocracia racial, quando todo os conteúdos escolares e referências de acesso a políticas públicas são brancos.”

O Unicef apresenta diversos dados que corroboram essa avaliação: 64,1% das crianças e adolescentes em trabalho infantil em 2016 eram negros, assim como 82,9% das vítimas de homicídios entre 10 e 19 anos e 75% das meninas que engravidam entre 10 e 14 anos. “Uma criança negra tem três vezes mais possibilidades de abandonar a escola que crianças não negras”, acrescenta Volpi.

Ao contrário da maioria dos indicadores, a taxa de homicídios de adolescentes teve uma alta preocupante nos 30 anos do ECA. O número de adolescentes assassinados mais que dobrou no país entre 1990 e 2017, ano em que 32 brasileiros de 10 a 19 anos foram mortos por dia. Somente entre 1996 e 2017, o número de vítimas chega a 191 mil, estima o Unicef.

Vulnerabilidade

A letalidade infantojuvenil é considerada pela Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente um dos problemas mais urgentes. O secretário nacional, Maurício Cunha, conta que a situação vem sendo discutida entre governo e Unicef, e uma das frentes de atuação será a redução da evasão escolar. “Está provado que reduzir a evasão escolar diminui a letalidade juvenil”, disse o secretário, que aponta ações de busca ativa de adolescentes fora da escola como uma das estratégias.

Cunha destaca que as desigualdades são um elemento que precisa ser observado para além dos indicadores gerais, mas alerta que há problemas que afetam todas as classes sociais, como a violência doméstica, os abusos sexuais dentro e fora da internet e o cyberbullying.

“Independentemente da classe social, ser criança no Brasil é estar em situação de vulnerabilidade. Há uma série de violações que independem da classe social, embora sejam muito maiores na condição da pobreza”, diz ele, que destaca a internet como um desses desafios e cita a exploração sexual no meio virtual. “O Brasil, infelizmente, não é só consumidor dessas imagens, é um exportador.”

Pandemia e violência

Esse conjunto de preocupações se acirrou com a chegada da pandemia de covid-19. Entre os dados mais alarmantes, sublinha Cunha, está a queda nos registros de violência contra crianças e adolescentes no Disque 100, que recebe denúncias de violações aos direitos humanos.

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