Padre João Medeiros Filho
Celebra-se a festa litúrgica de Santo Inácio de Loyola, no dia 31 de julho, aniversário de sua morte, ocorrida em 1556. Piedoso, mas sem pieguice. Firme, contudo, terno e compassivo; culto e erudito, porém desnudado de arrogância. Obediente à Igreja, todavia sem subserviência. Teólogo, no entanto, distante de ideologias; humano, entretanto, sedento do divino! Poderia ser este o perfil de Inácio. O centro de sua vida foi Cristo. Denominou a ordem religiosa por ele fundada de Companhia de Jesus.
Nasceu, aos 31 de maio de 1491, em Loyola, município de Azpeitia, no País Basco. Recebeu o nome de Íñigo López. Perdera a mãe na tenra idade e o pai, aosdezesseis anos. Em 1506, tornou-se pajem do ministro do Tesouro Real de Castela. Em 1516, colocou-se a serviço do vice-rei de Navarra. Gravemente ferido na batalha de Pamplona, passou meses convalescendo. Durante talperíodo, dedicou-se à leitura de obras cristãs, como: “Vita Christi”, de Rodolfo da Saxônia, Imitação de Cristo, de Tomás Kempis e “Legenda Áurea”, de Jacopo de Varazze. Desejou uma vida voltada para Deus, seguindo o exemplo de Francisco de Assis e outros líderes espirituais.Desenvolveu os primeiros passos dos Exercícios Espirituais, que exerceriam grande influência naevangelização da Igreja. Após recuperar a saúde, decidiu consagrar-se ao serviço da Divina Majestade.
Em 1528, entrou para a Universidade de Paris. Ali,com outros universitários, plantou a semente de sua futura ordem religiosa. Incentivava o amor ao estudo, tornandoos padres da Companhia de Jesus muito bem preparadosintelectualmente. Isso explica sua vocação de educadores ededicação a colégios e universidades. No dia 15 de agosto de 1534, é fundada oficialmente a Companhia de Jesus na cripta de Saint-Denis da Igreja de Santa Maria, em Montmartre. Em 1537, o Papa Paulo III concedeu a aprovação canônica à ordem religiosa, autorizando a ordenação sacerdotal de seus fundadores.
O Papa Francisco é membro dessa ordem religiosa. Há seis anos, o mundo admirou a sua humildade. Em lugar da bênção que todos aguardavam, inclinou a cabeça e pediu que rezassem por ele. Nesses anos de pontificado, Bergoglio tem realizado um caminho renovador. O que importa para ele, como sacerdote jesuíta, é a centralidade em Jesus Cristo e seu ensinamento, não somente anunciado com palavras, mas com a vida. Procura agircomo o fariam o Mestre e Santo Inácio, aproximando-se das pessoas, escutando-as, consolando-as, sem julgá-las, porém amando-as. Bergoglio sentiu-se tocado pela vida de Inácio de Loyola, o qual era um apaixonado pelo Evangelho, sedento da graça divina, semelhante aoapóstolo Paulo: “Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20).
Inegavelmente, a educação brasileira muito deve à Companhia de Jesus. Como não reconhecer o valor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, confiada aos jesuítas, desde a sua fundação pelo Cardeal Leme? É valioso o contributo da Universidade do Rio dosSinos, em São Leopoldo (RS), da Universidade Católica de Pernambuco, da Faculdade Jesuíta, de Belo Horizonte, dos colégios Anchieta, Nóbrega, Padre Antônio Vieira, São Luís, Santo Inácio e outros, para a formação de tantoslíderes cristãos e quadros profissionais. No passado, o Rio Grande do Norte beneficiou-se da catequese dos jesuítas. Atualmente, tem-se o exemplo da obra evangelizadora de padre Agustin Catalayud, em Natal. “Tudo para a maior glória de Deus”, segundo o lema inaciano. Câmara Cascudo registra a presença dos jesuítas em Arês, Extremoz, Angicos (outrora Curral dos Padres, em alusão aos presbíteros jesuítas) e até na pequena Jucurutu, de antanho. Eis o que também afirma o historiador Serafim Leite: “Perseguidos, os nossos [termo como os jesuítas chamam os confrades] se refugiaram numa pequena aldeia, administrada pela Companhia [de Jesus], que do Arraial [Açu] dista cerca de dez léguas, à margem de um rio, povoado de piranhas, que banha igualmente o citadoarraial”. Inácio de Loyola e seus discípulos combateram os erros e desvios do seu tempo. Seu testemunho de vida deve ser lembrado no Brasil de hoje, tão carente de justiça, de verdade, sobretudo de Deus!