
O Carnaval é um dos momentos mais aguardados do ano, especialmente pela energia da festa contagia milhares de foliões. Os blocos, as marchinhas e os desfiles representam uma época de descontração e liberdade, mas também de excessos alimentares e consumo exagerado de bebidas alcoólicas. Embora o Carnaval seja sinônimo de alegria, o abuso de comidas gordurosas, açúcares, frituras e bebidas pode prejudicar o organismo, especialmente se as pessoas não tiverem os cuidados apropriados com sua alimentação e hidratação.
Segundo o médico nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), o consumo de alimentos ultraprocessados, ricos em gorduras e açúcar, pode ter efeitos imediatos no corpo. “Eles podem causar desconfortos digestivos, como indigestão, refluxo e formação de gases. O estômago fica pesado, e a sensação de inchaço pode ser acompanhada por retenção de líquidos, o que resulta em um mal-estar geral”, explica. Ele ainda destaca que o álcool potencializa esses efeitos, provocando desidratação e aumentando a intensidade da ressaca no dia seguinte.
Com a alta animação durante a festa, a fadiga, a sonolência e a irritabilidade são problemas comuns que também surgem durante a festa. Durval ainda explica que a ingestão de açúcares refinados pode causar uma queda na disposição, gerando um ciclo de cansaço e mal-estar. Por isso, o presidente da ABRAN recomenda moderar no consumo de doces e garantir uma hidratação constante, intercalando o consumo de água com as bebidas alcoólicas.
Em Natal, boa parte das programações promovidas pela Prefeitura de polos como Ginásio Nélio Dias e Praça dos Gringos estão previstas com duração superior às 2h da madrugada. Para quem segue uma rotina de sono, precisará de uma adaptação. O mesmo se aplica a blocos que iniciam durante o período diurno e o folião se estende até a noite. Essa prática, apesar de momentânea, pode trazer prejuízos a curto prazo.
De acordo com Ricardo Toscano, médico nutrólogo especializado em emagrecimento e metabolismo, a privação de sono também desempenha um papel negativo no bem-estar geral dos foliões. A falta de descanso adequado interfere diretamente nas funções metabólicas do corpo e reduz a imunidade. “O estresse causado pela falta de sono pode aumentar o cortisol, o hormônio do estresse, e reduzir a leptina, que é responsável pela sensação de saciedade. Isso resulta em maior fome e compulsão alimentar, além de uma queda na imunidade”, alerta.
O ideal, segundo Ricardo, é intercalar os momentos de diversão com períodos de descanso e garantir uma alimentação equilibrada para não prejudicar o organismo. Quando isso não acontece, o nutrólogo explica que o metabolismo fica desregulado diante da falta de nutrientes adequados, prejudicando o rendimento físico e mental.
Durval Ribas complementa ainda que essa prática pode também aumentar o estresse oxidativo e a inflamação, tornando o organismo humano mais suscetível a infecções e também a dificultar o processo de recuperação pós-festa. “Para minimizar esses efeitos, além de descansar pelo menos 8h, elas têm que se hidratar muito e com frequência, consumir os antioxidantes naturais, que são frutas, verduras e vegetais”, explica o presidente da ABRAN.
Outro ponto de preocupação citado pelos nutrólogos está nas condições climáticas associadas a essa má alimentação. Segundo dados atualizados pelo Clima Tempo até a última sexta-feira (28), a previsão é que Natal alcance 30ºC até o fim das festividades de Carnaval, na quarta-feira de cinzas (5). Já em Caicó, outro grande ponto das festividades, as temperaturas podem superar os 32ºC.
Ricardo Toscano alerta que o calor intenso, causado tanto pelas temperaturas já conhecidas no Rio Grande do Norte durante o verão aliado a grande quantidade de pessoas em um espaço, pode causar efeitos adversos no organismo. “A combinação de calor, esforço físico e alimentação inadequada pode levar à desidratação, tontura, fraqueza e até desmaios. Além disso, a perda de sódio e potássio pode gerar cãibras e fraqueza muscular”, afirma.
Todos esses cenários apresentados pelos médicos são reforçados para quem já possui alguma condição pré-existente ou até mesmo histórico familiar de diabetes ou hipertensão arterial. “Toda essa combinação, desidratação, excesso de sódio, carboidratos simples em excesso, pode gerar complicações cardiovasculares graves, incluindo infarto e também o acidente vascular cerebral. A pessoa que perceber algum desses sintomas deve imediatamente buscar uma ajuda médica”, reforça Durval Ribas Filho
Como se alimentar antes da folia?
De acordo com a nutricionista clínica e funcional Christiane Potter, antes de ir as festividades, é preciso se programar na alimentação e evitar contratempos. Para isso, é recomendado uma refeição completa, priorizando proteínas, bons carboidratos, vegetais e gorduras de qualidade, que favorecem o fortalecimento da energia durante o esforço físico.
Para quem vai curtir um bloco durante a manhã, a nutricionista explica que o dia deve começar com água em jejum e shots matinais, para em seguida partir para a alimentação sólida. “Para um bom café da manhã, frutas variadas coloridas, iogurte natural, sementes como chia, sementes de abóbora e girassol, ovos, queijos magros e pão, trazem saciedade e nutrientes que irão ajudar o corpo a se recuperar”, afirma.
Já a quem sai às ruas durante o período da tarde, ela reforça que alimentos leves devem ser prioridade na hora do almoço, montando pratos com saladas frescas, proteínas magras, a exemplo de frango, peixe e ovos, e carboidratos complexos, como o arroz, macarrão integral, batata ou mandioca. Esses alimentos podem ser encontrados e preparados com facilidade, independente de onde o potiguar planeje curtir o Carnaval.
Aliado a isso, a nutricionista clínica e esportiva Virna Ferreira, destaca que pular refeições jamais deverá ser uma estratégia na folia. “Isso pode prejudicar a massa muscular e comprometer o desempenho físico. O ideal é sempre ter lanches rápidos e nutritivos entre os blocos de festa”, explica. Ela sugere opções como picolé de frutas, açaí, biscoito de polvilho e sanduíches leves para manter a energia. Barras de proteína também pode ser uma boa escolha, podendo ser guardada em bolsos ou em uma doleira.
Cuidado com a ressaca
Com o alto consumo de bebidas alcoólicas durante o período carnavalesco, Christiane Potter reforça a importância de uma hidratação constante. “É fundamental consumir água enquanto se ingere bebidas alcoólicas, especialmente durante o dia, quando a exposição ao sol é maior”, afirma. Christiane recomenda que os foliões bebam ao menos 500 ml de água por hora e aumentem a ingestão nos dias mais quentes ou em situações de maior esforço físico.
Muitos foliões, no entanto, negligenciam esse cuidado por receio de precisar ir ao banheiro com frequência e atrapalhar a folia, porém a nutricionista afirma que é preciso encontrar um meio termo para evitar impactos significativos. “Mesmo que aumente o número de idas ao banheiro, o consumo de água junto com o álcool é fundamental e indispensável durante o carnaval”, defende Christiane Potter.
Diante do alto consumo de álcool, ela chama atenção para os excessos de dosagem, em especial pelos resultados negativos ao corpo em geral. Segundo a nutricionista, existem danos sistêmicos, como fígado e coração impactados diante de sinais físicos que podem ser percebidos rapidamente, como tonturas, náuseas, mal-estar e até mesmo questões comportamentais que devem ser avaliadas.
Para minimizar esses sintomas comuns da ressaca, ela sugere o uso de suplementos específicos. “Nosso corpo responde de forma clara, e é importante ter essa auto-percepção de quando o álcool começa a trazer desconfortos. Existem shots anti-ressaca que ajudam na hepato proteção, deixando o folião mais tranquilo no dia seguinte. Mas, o mais importante é a hidratação e estar bem alimentado, pois isso torna a metabolização do álcool mais lenta”, explica.
Além da água já reforçada por Christiane para consumo antes, durante e depois da folia, Virna também recomenda outras opções para manter o corpo hidratado e não ter contratempos durante o bom proveito dos blocos. “A água de coco, sucos de frutas e chás gelados podem ser opções interessantes para manter o corpo hidratado. Além das bebidas isotônicas que são excelentes para reposição de eletrólitos”, defende.
Outro ponto ressaltado pelas nutricionistas é a importância de cuidar da alimentação no pós-Carnaval. Após os excessos, o corpo precisa de uma recuperação gradual. “É importante que o corpo seja reidratado intensivamente, e que se ingira alimentos que ajudem a restaurar o equilíbrio, como frutas, vegetais e alimentos com baixo teor de sódio”, explica Christiane. Virna complementa, sugerindo que os foliões priorizem o descanso e a prática de atividades físicas leves para recuperar a energia e reduzir os efeitos da sobrecarga alimentar.
O segredo para aproveitar o Carnaval sem sofrer com os efeitos negativos está no equilíbrio, segundo os médicos nutrólogos e as nutricionistas. Uma alimentação adequada, hidratação constante e moderação no consumo de álcool são estratégias fundamentais para manter o organismo saudável durante a festa.