Padre João Medeiros Filho
As relíquias de Santa Teresinha do Menino Jesus estarão expostas à visitação, de um a cinco de maio próximo, na Arquidiocese de Natal (RN), mormente no Carmelo de Emaús (Parnamirim). Guardamos com carinho lembranças materiais inestimáveis de nossos pais e pessoas queridas. Assim age a Igreja com os restos mortais dos santos e beatos, bem como objetos por eles usados. São sinais indicativos para a veneração dos fiéis. De Leão XIII a Francisco, os pontífices manifestaram encantamento com o testemunho cristão da Santa de Lisieux. Esta entrou para a vida religiosa, aos quinze anos de idade, com o beneplácito de Leão XIII. “É a maior santa dos tempos modernos”, declarou Pio X, exaltando a profunda espiritualidade da jovem carmelita. Um dos últimos atos desse Pontífice foi abrir o processo de beatificação da jovem religiosa. Bento XV introduziu a expressão teológica “infância espiritual”, referindo-se à vivência mística de Thérèse Martin. Ela seguiu o ensinamento do Mestre: “Se não vos converterdes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 18, 3). A infância espiritual consiste na confiança em Deus e no entregar-se nas mãos do Pai.
Pio XI chamava Teresa de Lisieux “Estrela do meu pontificado.” Mesmo antes de ocupar o trono de Pedro, devotava-lhe profunda reverência. Elevou-a à honra dos altares, aos 17 de maio de 1925, constituindo-a padroeira das missões, em 14/12/1927. Desde cedo, o culto àquela eleita de Deus se fez presente no RN. Nosso terceiro bispo diocesano, Dom José Pereira Alves e o primeiro arcebispo metropolitano, Dom Marcolino de Souza Dantas, dedicavam-lhe especial devoção. O primeiro educandário feminino de Caicó, construído em 1925 pelo Cônego Celso Cicco recebeu, por sugestão de Dom José Pereira, o nome de Santa Teresinha. Em 1930, Dom Marcolino inaugurou o Santuário do Tirol, elevando-o posteriormente à condição de paróquia. Apôs o nome da santa carmelitana como co-padroeira. Ela marcou tanto a piedade dos fiéis, a ponto de denominarem até hoje Igreja de Santa Teresinha, geralmente omitindo Nossa Senhora das Graças, também co-patrona.
Pio XII manteve correspondência assídua com o Carmelo de Lisieux. Enquanto cardeal, ali esteve diversas vezes a fim de presidir solenidades. Em 1934, foi designado legado papal “a latere” no Congresso Eucarístico Internacional de Buenos Aires. Levou consigo uma relíquia de Teresa à qual confiara a sua missão. Durante o tempo em que viveu no Vaticano, mantinha contato com as carmelitas Pauline (Madre Agnes) e Celine (Ir. Geneviève), irmãs biológicas de Teresinha. “Esta discípula do Menino Jesus nos conduz ao porto seguro”, assim se expressou João XXIII. Na audiência geral de 16 de outubro de 1960, proclamou: “Ela foi grande por ter sabido, na humildade, simplicidade e constante abnegação, colaborar para o bem de inúmeros fiéis.” Paulo VI chegou a afirmar: “Nasci para a Igreja no dia em que Teresinha partiu para o céu.” Reconheceu que a humildade é o espaço do amor. A intimidade com Deus inspira a transcendente caridade. João Paulo I, quando Patriarca de Veneza, fez uma conferência por ocasião do centenário do nascimento de Teresa, escrevendo-lhe uma carta em seu livro “Illustrissimi”. Confessa ter lido “História de uma alma”, aos dezessete anos.
Em 1977, ao proclamá-la Doutora da Igreja, João Paulo II efetivou o sentimento de seus predecessores. Na audiência geral de 6/4/2011, Bento XVI pronunciou significativa alocução sobre Teresinha. Antes de morrer, rezou como ela, olhando para o crucifixo: “Meu Deus, amo-Te.” O ato de amor, expresso no último suspiro, traduzia o incessante balbuciar de preces de Teresa e Joseph Ratzinger. Em 2023, por ocasião do sesquicentenário de nascimento da Santa de Lisieux, Francisco dedicou-lhe a Exortação Apostólica “C’est la confiance”. Assim escreve: “Em nossa existência, onde muitas vezes, nos dominam medos, desejo de segurança humana, necessidade de ter tudo sob controle, a entrega a Deus liberta-nos de cálculos obsessivos, preocupação constante com o futuro e medos que nos tiram a paz.” “Teresa do Menino Jesus é um mimo de Deus para nós, suas crianças”, pregou Dom Nivaldo Monte, por ocasião do centenário natalício (1973) da filha dos Santos Luiz e Zélia Martin. “Sede, portanto, perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito” (Mt 5, 48), recomendou Cristo aos discípulos.