Demitido nesta quinta-feira (13) do cargo de ministro da Secretaria de Governo, na primeira baixa de um militar da administração de Jair Bolsonaro, Santos Cruz teve em sua gestão atritos com o escritor Olavo de Carvalho.
General da reserva, Carlos Alberto dos Santos Cruz foi alvo, no mês passado, de ataques do ideólogo do governo Bolsonaro. As críticas, dirigidas também a outros militares, tiveram aval de um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC).
No início de maio, Olavo de Carvalho usou uma entrevista concedida pelo então ministro à rádio Jovem Pan e ao jornal “O Estado de S.Paulo” para atacá-lo e xingá-lo em diversos posts redes sociais.
Na entrevista, de 5 de abril, Santos Cruz foi questionado sobre o uso das redes sociais como instrumento pelo governo. Ele respondeu que elas tinham de ser usadas com muito cuidado para “evitar distorções” e não virar “arma nas mãos de grupos radicais, sejam eles de uma ponta ou outra”. Também defendeu mais diálogo e o aprimoramento da legislação.
Pouco depois, ao blog de Andréia Sadi no G1, Santos Cruz disse que não levava a sério as críticas geradas contra ele pelos posts de Olavo. Com relação aos comentários do escritor, o então ministro resumiu: “É baixo”.
Ele foi perguntado ainda se cogitava deixar o governo após os ataques, que tinham sido duramente criticados pelas Forças Armadas. E respondeu: “Essa função, você não pede para sair nem para entrar. O cargo não me emociona, mas estou aqui para trabalhar, para ajudar”.
Comunicação do governo
No mesmo final de semana em que Olavo de Carvalho criticou militares, Bolsonaro postou uma mensagem nas redes sociais que amigos de Santos Cruz classificaram como um aval aos ataques feitos pelo escritor, relatou em Valdo Cruz em seu blog no G1.
Amigos de Santos Cruz afirmaram que em nenhum momento ele quis defender a adoção de regras para regulamentar e limitar o uso das redes sociais. Apesar disso, avaliaram, essa foi a interpretação difundida pela ala ideológica do governo.
O próprio presidente Jair Bolsonaro, diante do debate de tensão elevada na rede virtual, postou mensagem afirmando que em seu governo não há possibilidade de se regulamentar as redes sociais.
Segundo o blog, interlocutores de Santos Cruz se questionaram, na época, se Bolsonaro estaria indiretamente dando munição à ala do governo que desejava derrubar o então ministro da Secretaria de Governo. Na ocasião, o presidente disse a Santos Cruz que não tinha interesse em sua saída do governo.
Nos bastidores, porém, a guerra contra Santos Cruz passava pelo controle da comunicação do governo. A ala ligada a Olavo de Carvalho acusava o ministro de travar as estratégias de comunicação do Palácio do Planalto, cancelando vários contratos e vetando a distribuição de verbas para alguns blogs, informou Valdo Cruz.
Na época das críticas, militares defenderam Santos Cruz
Um dos integrantes das Forças Armadas que defenderam Santos Cruz dos ataques de Olavo de Carvalho foi general Eduardo Villas Boas, ex-comandante do Exército e hoje assessor do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República.
Na época das críticas e xingamentos a Santos Cruz e militares no início de maio, Olavo de Carvalho chegou a escrever que “há coisas que nunca esperei ver, mas estou vendo”. “A pior delas foi altos oficiais militares, acossados por informações minhas que não conseguem contestar, irem buscar proteção escondendo-se atrás de um doente preso a uma cadeira de rodas”, escreveu.
Era uma referência ao próprio Villas Boas, que sofre de esclerose lateral amiotrófica, uma doença grave e degenerativa.
O ex-comandante do Exército reagiu na ocasião e postou em uma rede social que o Olavo de Carvalho é um “Trotsky de direita”.
(G1)