A resposta de defesa do organismo a casos assintomáticos ou brandos de Covid-19 pode não ser suficiente para proteger uma pessoa de uma reinfecção pelo coronavírus, alerta um estudo de cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Realizado com pacientes do Rio de Janeiro, o trabalho mostra que não apenas essa resposta fraca abre caminho para a reinfecção quanto ainda acende um sinal de alerta para vacinas.
O estudo identifica duas possíveis reinfecções. Também ressalta que a vacinação poderá precisar ser reforçada. Em seu artigo, os cientistas disseram que “esses resultados mostram que a vacinação poderá requerer estratégias de reforço”.
As vacinas costumam produzir uma resposta mais potente do que as infecções naturais. Para isso, têm em sua formulação mecanismos para estimular o sistema imunológico. Ainda assim, para alguns vírus são necessárias doses de reforço.
A maioria das vacinas contra a Covid-19 já demanda duas doses. Mas, alguns trabalhos recentes sugerem que poderá vir a ser preciso, por exemplo, reforço anual.
A principal conclusão do estudo da Fiocruz é que um primeiro episódio de Covid-19 não gera necessariamente imunidade a uma segunda infecção. Algumas pessoas que desenvolvem casos leves conseguem apenas produzir defesas frágeis.
Nelas, a chamada resposta imune adaptativa, surgida após a infecção, não é forte o suficiente para impedir que, caso a pessoa seja infectada de novo pelo Sars-CoV-2, ele deixe de causar doença. E isso pode servir de combustível para novas ondas da pandemia.
Família analisada
Coordenado pelo virologista Thiago Moreno, o estudo foi submetido ao periódico e repositório SSRN. Os pesquisadores investigaram os casos de quatro pessoas de uma mesma família do Rio de Janeiro que tiveram diagnóstico de RT-PCR positivo para o vírus.
As quatro manifestaram sintomas da Covid-19 em março e, de novo, no fim de maio. Elas foram acompanhadas semanalmente e, segundo Moreno, foi uma reinfecção dentro do ambiente familiar.
A equipe da Fiocruz sequenciou os genomas dos vírus nos dois episódios de Covid-19 de cada uma delas. Também analisaram o plasma sanguíneo para investigar a resposta do sistema imunológico, tanto a produção de memória celular quanto a de anticorpos neutralizantes.
Só foi possível encontrar sinais conclusivos de reinfecção em duas delas, pois, para isso, é preciso mostrar que os coronavírus presentes nos dois episódios são distintos e isso nem sempre é viável.
O sequenciamento do vírus revelou que uma das pessoas foi infectada por coronavírus de linhagem “importada” em março. Mas, em maio, adoeceu em função de uma outra linhagem, em circulação no Rio de Janeiro.
O sequenciamento também identificou que uma das quatro pessoas havia sido infectada duas vezes por cepas do Rio. Porém, o acúmulo de mutações observado foi indicativo que se tratava de uma reinfecção, e não de uma persistência. Nesse último caso, se a pessoa jamais tivesse se livrado do vírus, não haveria tantas alterações, concluíram os pesquisadores.
Eles lembram que a reinfecção é comum em vírus respiratórios, e o coronavírus Sars-CoV-2 está mostrando que não é exceção à regra.
“Casos assintomáticos ou muito brandos, se forem reexpostos ao vírus, poderão ter novamente uma infecção. Desta vez, pode ser que o quadro se agrave e que essa infecção seja mais severa do que a primeira, como demonstrado na pesquisa. Por isso, o alerta à população sobre a imunidade para o coronavírus. Em alguns casos, as respostas imunes podem ser fortes num primeiro momento, mas não significa que elas sejam duradouras”, destacou Moreno, em nota.
O Globo