Pesquisa PoderData mostra que o percentual de brasileiros dispostos a receber doses de vacinas contra a covid-19 desenvolvidas por empresas farmacêuticas da China cresceu nos últimos 90 dias no país. Passou de 8% para 15%. Houve alta de 7 pontos percentuais.
Apesar da alta, a maior parte dos entrevistados pelo instituto de pesquisas confia mais em mais confiança em imunizantes produzidos nos Estados Unidos. O levantamento mostra que 27% preferem vacinas norte-americanas –houve variação dentro da margem de erro de 2 pontos percentuais nos últimos 3 meses, considerando os levantamentos feitos de 17 a 19 de agosto e de 26 a 28 de outubro.
Também são 15% os que optam por uma produzida por países da Europa. Só 4% tomariam um imunizante desenvolvido pela Rússia.
A pesquisa foi realizada pelo PoderData, divisão de estudos estatísticos do Poder360. A divulgação do levantamento é feita em parceria editorial com o Grupo Bandeirantes.
Os dados foram coletados de 23 a 25 de novembro, por meio de ligações para celulares e telefones fixos. Foram 2.500 entrevistas em 479 municípios, nas 27 unidades da Federação. A margem de erro é de 2 pontos percentuais. Saiba mais sobre a metodologia lendo este texto.
Para chegar a 2.500 entrevistas que preencham proporcionalmente (conforme aparecem na sociedade) os grupos por sexo, idade, renda, escolaridade e localização geográfica, o PoderData faz dezenas de milhares de telefonemas. Muitas vezes, mais de 100 mil ligações até que sejam encontrados os entrevistados que representem de forma fiel o conjunto da população.
O debate sobre a preferência de uma vacina, considerando o país de origem das empresas de biotecnologia e de farmacêuticas, foi impulsionado em outubro, quando houve embate entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) envolvendo o tema. Adversários ferrenhos, o presidente e o tucano divergem ainda sobre a obrigatoriedade da vacina.
Em 21 de outubro, em ato contrário à vacina da China, o Bolsonaro cancelou 1 acordo firmado pelo Ministério da Saúde para aquisição de 46 milhões de doses da CoronaVac, imunizante contra covid-19 desenvolvido pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo.
Frente à resistência do governo federal, Doria decidiu fechar o contrato pela compra da CoronaVac. Das 46 milhões de doses do imunizante, 40 milhões serão produzidas no Brasil. Em 28 de outubro, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou a importação de matéria-prima da China para produção da vacina. Em 19 de novembro, o governo de São Paulo recebeu 120 mil doses numa 1ª remessa.
Os temas repercutiram fortemente na mídia, principalmente de forma negativa. Em grupos de WhatsApp, pipocaram vídeos de supostos médicos e profissionais de saúde criticando e elogiando o governo.
Após a mobilização de partidos, tanto a obrigatoriedade da vacina, quanto a desistência da compra da CoronaVac pelo governo federal serão analisadas pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Em uma das ações, o relator, ministro Ricardo Lewandowski apresentou voto antecipado, em 24 de novembro, favorável ao pedido para obrigar o governo federal a apresentar em 30 dias o plano de vacinação contra a covid-19.
O PoderData também mostrou que 59% dos brasileiros defendem a obrigatoriedade da vacina e 33% são contra essa medida.
ESTRATIFICAÇÃO
O PoderData separou o recorte da pesquisa por sexo, idade, região, escolaridade e renda. Observam-se os maiores percentuais de preferência nos seguintes grupos e regiões:
- Vacina feita na China – homens (16%); pessoas de 45 a 59 anos (18%); moradores da região Norte (31%); os que têm ensino superior (17%); os que recebem mais de 10 salários mínimos (29%).
- Vacina feita nos Estados Unidos – homens (31%); pessoas de 16 a 24 anos (36%); moradores do Sul (38%); os que têm só o ensino fundamental (29%); os que ganham até 2 salários mínimos (34%).
- Vacina feita em países da Europa –mulheres (18%); pessoas de 25 a 44 anos (19%); moradores do Centro-Oeste (35%); os que têm ensino superior (22%); os que recebem mais de 10 salários mínimos (44%);
- Vacina feita na Rússia – homens (6%); pessoas de 16 a 24 anos (10%); moradores da região Norte (10%); os que têm ensino superior (5%); os que recebem de 5 a 10 salários mínimos.
Atualmente, estão sendo realizados 4 estudos clínicos de vacinas contra o coronavírus no Brasil, todos estão na 3ª e última fase de testes. Eis quais são:
- Vacina de Oxford – produzida pelo laboratório sueco AstraZeneca e pela Universidade de Oxford, da Inglaterra;
- CoronaVac – desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan;
- Vacina BNT162b1 – desenvolvida pela empresa alemã de biotecnologia BioNTech e pela farmacêutica norte-americana Pfizer;
- Vacina Jansen-Cilag – produzida pela farmacêutica belga Janssen, do grupo norte-americano Johnson-Johnson.
Em 9 de novembro, a Pfizer divulgou estudos preliminares que apontam que o imunizante desenvolvido tem 95% de eficácia contra o novo coronavírus. Na 3ª feira (1º.dez.2020), a a farmacêutica pediu às autoridades de regulação de medicamentos da Europa a autorização para uso emergencial de sua vacina. A mesma solicitação foi feita nos Estados Unidos, em 18 de novembro.
A vacina de Oxford também teve um estudo preliminar divulgado em 23 de novembro. Os resultados indicam 90% de eficácia do imunizante quando os participantes receberam meia dose da vacina e, 1 mês depois, uma dose completa. Quando foram aplicadas duas doses completas, também com 1 mês de diferença entre elas, a eficácia caiu para 62%.
No mundo, a 1ª vacina que recebeu aprovação regulatória foi a da Rússia: a Sputinik V, desenvolvida pelo Instituto Gamaleya de Moscou. A vacinação com o imunizante já começou no país, mesmo ainda sem a conclusão dos testes. O anúncio foi feito nessa 3ª feira (1º.dez).
Além disso, apesar de não ser testada no Brasil, análise preliminar da vacina desenvolvida pela farmacêutica norte-americana Moderna mostrou 94,5% de eficácia do imunizante.
VACINA X BOLSONARO
O presidente Jair Bolsonaro e parte da sua base de apoio, inclusive seus filhos, glorificam rotineiramente a aproximação da administração federal com o governo dos Estados Unidos, que antecipou em julho a compra de US$ 1,95 bilhão em vacinas da Pfizer e BioNTech.
Bolsonaro, no entanto, ainda não manifestou nenhuma preferência sobre alguma vacina, mas se disse contrário à da China. Em 26 de outubro, o presidente ainda defendeu o investimento no tratamento da doença ao em vez da produção de 1 imunizante contra o coronavírus, que já matou mais de 173 mil pessoas no país.
O posicionamento do presidente parece influenciar os que avaliam positivamente seu trabalho individual na Presidência. Dos que acham o Bolsonaro “ótimo” ou “bom”, 37% preferem tomar uma vacina feita nos Estados Unidos.
No entanto, houve 1 aumento do percentual nesse grupo dos que optam por uma vacina da China. Há 1 mês, só 2% queriam 1 imunizante da China. Agora, são 13%.
Já dos que acham o presidente “ruim” ou “péssimo”, 21% preferem uma fórmula desenvolvida na Europa. Outros 18% preferem a produção chinesa e 6% preferem uma feita na Rússia.
Apesar da resistência a uma vacina, em 6 de agosto, o governo comprou 100 milhões de doses da vacina desenvolvida pelo laboratório AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford por R$ 1,9 bilhão. Os recursos foram liberados por uma medida provisória. O Brasil também integra o Covax, 1 consórcio internacional para facilitar a compra de vacinas contra a covid-19.
O dinheiro será destinado à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), que usará o montante para incorporar a tecnologia desenvolvida pela empresa britânica para fabricar a vacina. Com isso, caso a eficácia do imunobiológico seja comprovada e o suo da vacina seja autorizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o Brasil deverá produzir 100 milhões de doses até o 2º trimestre de 2021.
Em entrevista a jornalistas, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros, disse na última 3ª feira (1º.dez.2020) que o Plano Nacional de Imunização contra a covid-19 só ficará pronto quando houver uma vacina registrada na Anvisa. Mas, no mesmo dia, o governo divulgou um documento com um plano preliminar, que indica que 4 fases previstas pela equipe técnica da pasta. A prioridade será para idosos, pessoas com comorbidades, profissionais de saúde e indígenas.
O secretário também disse que as vacinas contra o coronavírus que serão incluídas no plano de vacinação devem ser “fundamentalmente” termoestáveis por longos períodos e que possam ser armazenadas em temperaturas de 2°C a 8°C, compatível com a capacidade da rede de resfriamento nacional. Ele não citou especificamente nenhuma vacina.
No entanto, o critério estabelecido pelo governo afasta a possibilidade de aquisição do imunizante desenvolvido pela farmacêutica Pfizer e pela empresa de biotecnologia alemã BioNTech. Batizada de BNT162b2, a vacina do laboratório norte-americano exige condições especiais de armazenamento, com temperaturas de -70º C.
O coordenador dos estudos da Pfizer em São Paulo e diretor do Centro Paulista de Investigação Clínica, Cristiano Zerbini, disse nesta 4ª feira (2.dez.2020), em entrevista à rádio BandNews FM, que a temperatura de armazenamento da vacina da farmacêutica norte-americana Pfizer não é um impedimento para sua distribuição no Brasil.
Sem citar valores de custo, o Conselho Nacional de Climatização e Refrigeração afirmou, em comunicado (íntegra – 160 KB), que o setor de serviços de refrigeração nacional pode buscar adequar a infraestrutura e disponibilizar soluções para qualquer temperatura, inclusive a exigida pelo imunizante BNT162b2, com planejamento e investimento.
Outros países já têm previsão para vacinação contra covid-19. O Poder360 preparou 1 infográfico com as datas.
Poder 360.