Padre João Medeiros Filho
“Tudo tem seu tempo. Há um momento oportuno para cada coisa, debaixo do céu. Tempo de falar e tempo de calar” (Ecl 3, 1-7). Essa máxima bíblica deveria ser mais lembrada, ao adentrar as igrejas, lugares sagrados, em sinal de reverência à presença de Cristo Eucarístico. Não raro, dentro dos templos, observa-se um clima de entretenimento, iniciado lá fora. As conversas, mesmo a meia voz, servem de passatempo, enquanto se aguarda o ato litúrgico. A casa de oração transforma-se em lugar de comentários, críticas etc. O mais grave é isto ocorrer durante as celebrações religiosas. Nos cinemas e teatros, pairam a atenção e o silêncio, durante as exibições e apresentações. Importa valorizá-los mais. Calar significa também nossa condição de pecador. Assim fala o apóstolo Paulo: “Toda a boca se cale. Todos se sintam culpados diante de Deus” (Rm 3,19).
O Senhor, no sacrário das igrejas, pede o recolhimento pessoal e o da comunidade. Ali, o relacionamento é com Deus. O evangelho de Lucas conta que, ao ser revelada a divindade de Jesus na transfiguração no Monte Tabor, “os discípulos ficaram calados” (Lc 9, 36). O profeta Habacuc nos adverte: “Mas, o Senhor está no seu templo santo. Silêncio diante de sua face, toda terra” (Hab 2, 20). Sofonias insiste, no mesmo sentido: “Silêncio, diante do Senhor” (Sf 1, 7). Santo Ambrósio já advertia, no século IV: “O demônio busca o barulho, Cristo, o silêncio”.
Essas considerações levam-nos a especificar algumas circunstâncias para melhor compreensão. Na missa, o deslocamento na ocasião do abraço da paz, por vezes quebra o silêncio e a piedade exigidos para esse momento. Isso prejudica o recolhimento espiritual, antes da comunhão. Pelas diretrizes litúrgicas, essa saudação deve ser feita aos mais próximos. Certos cânticos – mesmo de cunho religioso – podem ser apropriados a outros locais e circunstâncias, que não o templo sagrado e as celebrações litúrgicas. A missa não deve ser usada para protestos político-ideológicos, através de “homilias”, cânticos etc. As preces da comunidade tampouco podem ser aproveitadas para se inserir críticas ou externar determinadas posições, à margem da sacralidade do ato que se celebra. Algumas cerimônias de casamento não condizem com a liturgia da Igreja. As pessoas devem sempre ter em mente a sacralidade do local em que se encontram, assumindo uma atitude respeitosa. Ninguém é obrigado a comparecer a tais cerimônias, mas se livremente ali está, subentende-se que acate uma postura de reverência.
Esses exemplos e outras circunstâncias sugerem a necessidade de consubstanciar a importância do sagrado, numa sociedade que se afasta cada vez mais dos valores religiosos. Como proceder para preservar um ambiente verdadeiramente adequado à santidade de nossos templos? Primeiramente, dever-se-á fortalecer o espírito de fé. A crença bem viva na infinita grandeza de Deus leva-nos a um profundo respeito. E o silêncio é uma das expressões desses sentimentos. Ao penetrar nos umbrais da casa do Senhor, por mais humilde que seja, deve-se ter presente a dignidade espiritual do lugar. É preciso aprender e exclamar como o salmista, em atitude de prece: “pois o zelo de tua casa me devorou” (Sl 69/68, 10).
É necessário ter bem viva a responsabilidade de dar exemplo cristão ao próximo, especialmente às pessoas afastadas da fé. Esse trabalho educativo pode ser dinamizado pelos que se acham vinculados à Igreja. Exemplos, por vezes, são mais eloquentes do que uma exortação ou apelo. Muitos poderiam perguntar por que tratar desse assunto, quando há outros, aparentemente de maior importância? A resposta é muito simples: tudo o que se refere a Deus é prioritário, valioso e oportuno. Além disso, o cuidado com as necessidades materiais do nosso próximo será mais eficaz quando elas estão vinculadas ao divino. Este é um alicerce sólido sobre o qual se possibilita a edificação da espiritualidade. Louvemos ao Senhor com os lábios e também com o coração na Casa de Deus, lembrando-nos das palavras do Evangelho: “O Mestre está aqui e te chama” (Jo 11, 28). “Este [Jesus Cristo] é o meu Filho muito amado, escutai-o” (Mc 9, 7