O HOMEM PÚBLICO


GILSON MOURA
O que se espera de um homem público? Eis o questionamento que se ergue, buscando respostas objetivas e contundentes. Há os que pensam ser os legisladores e executivos somente homens letrados, eruditos, mestres, doutores, cientistas, jornalistas etc. Existem os que desejam e aspiram indivíduos teóricos, paternalistas, falsos caridosos, amadores e descomprometidos com o serviço. “São os que se servem do povo e não servem ao povo”, no dizer de Dom Helder Câmara. Não é disto que a nossa gente necessita, tampouco desse tipo de homem público que nossos conterrâneos de Parnamirim esperam. O homem público, engajado na política, deve ser alguém com alta sensibilidade, humanista, antenado com os problemas atuais, criativos, disponíveis, desafiadores e desafiados. Foi-se o tempo em que o homem público devia ser um “doutor”, anelão no dedo, longe e distante de sua gente. Não é disso que os potiguares, máxime os parnamirinenses, carecem. Temos exemplos que falam e cujos mandatos são as melhores respostas. Como não citar Agnelo Alves, que administrou Parnamirim, por dois mandatos? Não era detentor de diploma ou título universitário. Estudou até o quinto primário, mas sua sensibilidade e amor pelo próximo o fez ir longe: jornalista, legislador e administrador, culminando com a sua glória, enquanto membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras.
Como não citar Dinarte de Medeiros Mariz, detentor apenas do certificado do antigo ensino primário (primeira etapa do ensino fundamental). Homem aparentemente pouco erudito e ilustrado, que revolucionou o Rio Grande do Norte, dotando-o com a sua primeira Universidade? Seria interessante rever a sua entrevista no Programa Memória Viva. Talvez, muitos ficassem desarmados de seus preconceitos e idiossincrasias.
É impossível não citar João Café Filho, um homem de grande atenção ao povo a ponto de ser eleito vice-presidente da República, com uma vitória esmagadora de mais de duzentos mil votos sobre o seu concorrente. Café Filho não tinha título acadêmico, havia apenas frequentado os primeiros anos do antigo ensino secundário. Sensível aos problemas dos potiguares, tornou-se advogado provisionado (rábula) para defender os interesses de seus conterrâneos. Chegou a ser discriminado pois era presbiteriano, recendo inúmeras críticas da Liga Eleitoral Católica, ao tornar-se o primeiro presidente da República evangélico.
Nosso torrão potiguar está cheio de exemplos e testemunhos de pessoas simples, aparentemente incultas ou pouco alfabetizadas, que honraram nossa terra com mandatos e administrações profícuas. Quem não se lembra de Radir Pereira, sertanejo, homem valente do Seridó, que tanto bem ao RN, estadualizando a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte?
Inspirado nesse exemplo, o vereador Abidene Salustiano da Silva, que volta-se para as letras, entre tantos feitos, criando uma biblioteca ambulante, permitindo que os habitantes desta Cidade possam desfrutar do sabor da leitura e do conhecimento, já que na sua infância e juventude, tendo que lutar pela sobrevivência, bem cedo, não pode desfrutar dos bens culturais. Homem simples, de origem humilde, traz para todos o legado de homem trabalhador, honrado, vencedor, sucedido como empresário e industrial. Seu amor aos simples e humildes levou-o a renunciar em favor dos desvalidos seus honorários como vereador do terceiro maior município potiguar. Abidene é um homem curtido pela luta, pelas provações e pelo sofrimento. Cada limitação o desafia, não se rendendo aos obstáculos que a vida e o tempo lhe colocam no caminho.
É preciso dizer, como alguns pensam, que Abidene não se candidatou a ser membro de uma academia de letras ou ciências, à cátedra universitária, mas a um cargo de servidor do povo. Capacidade de trabalho, devotamento à causa pública, desejo de servir não lhe faltam. Seu desprendimento como um homem de fé leva-o a pensar no próximo num mundo e num tempo de egoísmo, de materialismo, de consumo e prazer.
Enquanto homem cristão, caro vereador Abidene, lembre-se do Salmo 23/22: “O Senhor é meu pastor, nada me faltará”. Ou por outra do hino religioso cantado nas igrejas evangélicas e católicas: “Segura na mão de Deus e vai. Ela te sustentará”. E como diz o poeta: “A vida é luta renhida, viver é lutar”!