Padre João Medeiros Filho
Além das adversidades da pandemia da Covid-19 e suas consequências, somos ainda surpreendidos por notícias deploráveis. São várias as narrativas sobre comportamentos inescrupulosos no que tange a desvios de recursos destinados a minorar o sofrimento da população. E como se não bastasse, advêm agora vultosos gastos com a campanha eleitoral para a escolha de prefeitos e vereadores, custeada com recursos oriundos do suor de nossa gente, sedimentando conchavos e negociatas. Isso leva a algumas perguntas: será que não se aprendeu ainda com a História? Vão continuar sendo repetidos os mesmos erros? O dramaturgo Plauto, popularizado por Thomas Hobbes, afirmava “Homo homini lupus est” (“o homem é o lobo do próprio homem”). Contudo, nota-se a convicção de que há vários vínculos a nos aproximar. Estamos no mesmo barco. Os problemas de cada pessoa devem ser também nossos. O apóstolo Paulo já chamava a atenção, na “Carta aos Romanos”, para o sentimento de solidariedade: “Alegrai-vos com os que se alegram. Chorai com os que choram. Mantende um bom entendimento uns com os outros” (Rm 12, 15).
Uma exigência imprescindível na vida social é o compromisso de dizer e praticar sempre a verdade. A ele deve-se acrescentar o postulado da honestidade intelectual, escassa no mundo de hoje. Notícias falsas, sofismas, meias verdades, fatos distorcidos ou fora do contexto são apenas exemplos, dentre tantos. É necessário buscar incessantemente a verdade sem usá-la para fins ideológicos. Justo e verdadeiro não são a conveniência para um grupo ou partido. É preciso incluir a abertura ao Transcendente. Santo Agostinho lembra-nos que Deus criou o ser humano e “inquieto está o seu coração enquanto Nele não repousar”.
Uma autêntica postura ética implica igualmente em respeito a tudo aquilo que é público. Pensa-se que ser inteligente é tirar proveito dele em benefício próprio. Parece que essa ainda é uma opinião partilhada por muitos, nesta Terra de Santa Cruz. Outros princípios fundamentais não podem ser esquecidos. Primeiramente, é preciso ter consciência de que a política é a arte de se procurar o bem da sociedade, não de si mesmo, de grupos ou agremiações partidárias, por mais relevantes que possam parecer.
A transparência e a honestidade nos negócios opõem-se à mentalidade de que “é preciso levar vantagem em tudo”. A economia necessita também estar subordinada à Ética. Portanto, o que é lucrativo, nem sempre é o melhor. Vale aquilo que favorece o bem-comum. “Não cuide somente do que é seu, mas também do que é dos outros” (Fl 2, 4). Assim, tudo deve guiar-se por normas éticas, cujo objetivo primordial é a busca do bem-estar de todos. Tal princípio deve nortear a vida social, inclusive os meios de comunicação. A mídia, muitas vezes, oferece guarida àquilo que reverte em patrocínio ou audiência, mas destrói valores consagrados, tais como: família, solidariedade etc. Será uma utopia? Se não sonharmos alto, não progrediremos! “Buscai, portanto, as coisas do alto” (Col 3, 1), aconselha o Apóstolo dos Gentios.
O homem tornar-se-á “lobo do próprio homem”, se não aceitar guiar-se pela Ética. Sua conduta lupina é o ódio, a agressividade, a violência e a destruição do outro. Esta se agrava, cada vez mais, nas manifestações das redes sociais. Quando ela prevalece, surgem guerras, crescem os desentendimentos e multiplicam-se as grades de proteção internas e externas. Se cada um faz somente o que lhe apraz, esquecendo ou desrespeitando o próximo, não é de admirar a falta de paz e a multiplicação de injustiças e desigualdades. Não será a hora de se valorizar o milenar decálogo judaico-cristão? Ele é sempre atual, apesar de ser considerado superado por alguns e relegado a um segundo plano. Os Dez Mandamentos não são uma simples lista de proibições e faltas religiosas. Trata-se de sinalizações, indicando os caminhos mais adequados para a boa convivência com os seus semelhantes e um aproximar-se de nosso Deus. Jesus Cristo resumiu numa frase a Ética humana e cristã, válida em todos os tempos: “Tudo, pois, quanto quereis que os outros vos façam, fazei-o, vós também, a eles” (Mt 7, 12).