Por Kakay.
“Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez.” –Frase atribuída a Jean Cocteau (pode não ser dele, mas se aplica ao Gabrielzinho). O fim das Paralimpíadas em Paris 2024, que foi um sucesso absoluto, deixou um ar de quero mais no mundo todo, pelo sucesso absoluto das competições, e um sentimento de enorme alegria e alívio na França. Foram momentos de tensão e de inúmeros boatos de atentados que intranquilizaram o governo e os franceses. E, claro, a todos nós turistas. Em um evento dessa magnitude, sempre fica um espaço para reflexão: a união dos povos, a solidariedade, o espírito olímpico, a garra e a dedicação dos atletas. São muitas as lições que deixam um legado. Cada país, nessa hora, olha para o que foi marcante e para o que mais emocionou.
No caso brasileiro, a performance exuberante da Rebeca Andrade, juntamente com sua história de vida, sua técnica, leveza, beleza e charme, já seriam mais do que suficientes para nos encher de orgulho. Bem como a garra e a determinação do vôlei e do futebol femininos.
São muitos os exemplos que nos dão satisfação. Desde aquele atleta que não conseguiu nenhum destaque na prova, mas que, parece óbvio, só por estar lá competindo já demonstra que todo o esforço e sacrifício valeram a pena. Até aquele que arrematou uma medalha. Seja de ouro, de prata ou de bronze. Para um esportista, levar a medalha para casa é carregar consigo um pouco do país dentro do peito.
Cada um faz o registro da sua emoção. O esporte é um misto de paixão e emoção. Sou apaixonado por futebol. E fiquei muito frustrado de ver a não classificação do time masculino brasileiro para disputar as Olimpíadas.
Senti aquele gosto amargo na boca de que o exemplo de um bilionário como Neymar, com suas caidinhas ridículas e patéticas, chamuscou toda uma geração de jogadores. Será que os salários megaestratosféricos e o excesso de glamour idiota deram um tiro no futebol brasileiro?
É verdade que, desde a 1ª participação em uma edição dos Jogos Olímpicos, em Helsinque 1952, já ficamos fora de 5 Olimpíadas:
- Melbourne 1956;
- Moscou 1980;
- Barcelona 1992;
- Atenas 2004;
- e a última, Paris 2024.
Com o coração na mão, estamos acompanhando o sofrimento da fase eliminatória da Copa do Mundo. Não é demais registrar que o Brasil foi sede de duas Copas do Mundo, em 1950 e 2014, e é a única Seleção que esteve em todas as edições do evento. É o maior vencedor da competição, com 5 títulos. É bom lembrar que só participou de todas as Copas porque decidiu furar um bloqueio dos países vizinhos e frustrou um boicote. Todavia, essa é outra história.
Porém, o que mais me emocionou foi a participação nas Paralimpíadas de Paris do nadador Gabrielzinho. Sem os 2 braços e com as pernas bem pequenininhas, ele ganhou 3 medalhas de ouro. Virou o xodó da torcida francesa e disse que sua 4ª medalha era exatamente a receptividade que teve dos torcedores. Imagino, na verdade nem posso imaginar, o quanto sua vida deve ser sofrida.
Mesmo os detalhes do dia a dia, certamente, são de enorme dificuldade e superação. Mas ele exala alegria, simpatia, solidariedade e dedicação. Realmente, foi muito emocionante vê-lo disputar as provas de natação com a surpreendente habilidade na água.
Imagino quando disse, pela 1ª vez, que queria ser nadador. Coloquei-me na piscina e me comovo só em pensar na cena. E foi desconcertante e estimulante ver os vídeos da sua preparação para as provas.
Ao ver esses mimados se mostrando nos iates, nos carrões e nas caidinhas esdrúxulas, valorizo ainda mais a força de um exemplo como o Gabrielzinho. Penso que sim, o Brasil tem jeito. Obrigado, Gabrielzinho!
Remeto-me a Pessoa, na pessoa de Ricardo Reis:
“Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago
a lua toda brilha, porque alta vive.”
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