Foto:AFP/National Park Rescue
Toxinas na água, produzidas por cianobactérias, mataram mais de 300 elefantes em Botsuana este ano, afirmaram autoridades nesta segunda-feira (21), ao anunciar o resultado de uma investigação sobre as mortes que deixaram os conservacionistas ambientais confusos e alarmados.
As cianobactérias são organismos microscópicos comuns na água e às vezes encontrados no solo. Nem todas produzem toxinas, mas os cientistas dizem que as tóxicas estão ocorrendo com mais frequência à medida que as mudanças climáticas aumentam as temperaturas globais.
Cyril Taolo, vice-diretor do Departamento de Vida Selvagem e Parques Nacionais, disse em uma entrevista coletiva que o número de carcaças de elefantes encontradas desde que as mortes foram relatadas pela primeira vez no início de maio subiu para 330. O tipo específico de neurotoxina ainda não foi identificado.
As autoridades irão monitorar a situação durante a próxima estação chuvosa, e Taolo disse que, por enquanto, não havia evidências que sugerissem que a vida selvagem de Botsuana ainda esteja sob ameaça, pois as autoridades não estavam mais constatando mortes.
O veterinário principal do departamento, Mmadi Reuben, disse na mesma entrevista coletiva que ainda havia dúvidas sobre por que, entre os animais da região, apenas os elefantes foram afetados.
Algumas proliferações de cianobactérias podem prejudicar pessoas e animais, e os cientistas estão preocupados com seu impacto potencial, já que a mudança climática leva a temperaturas mais altas da água, o que favorece muitas cianobactérias.
As temperaturas da África Austral estão subindo duas vezes a média global, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.
— É necessário ter as condições certas, o momento certo, e o lugar certo e essas espécies vão proliferar. Essas condições estão surgindo com mais frequência, em mais lugares, então estamos vendo mais dessas proliferações tóxicas em todo o mundo — disse Patricia Glibert, professora do Centro de Ciências Ambientais da Universidade de Maryland, que estudou cianobactérias.
No vizinho Zimbábue, cerca de 25 carcaças de elefantes foram encontradas perto do maior parque de caça do país e as autoridades suspeitam que eles tenham sucumbido a uma infecção bacteriana.
Os animais foram encontrados com as presas intactas, o que exclui a caça furtiva e o envenenamento deliberado. As autoridades dos parques acreditam que os elefantes podem ter ingerido a bactéria enquanto procuravam comida. As carcaças foram encontradas perto de fontes de água.
— Nós consideramos a possibilidade de cianobactérias, mas não temos evidências de que este seja o caso aqui [no Zimbábue] — disse Chris Foggin, veterinário do Victoria Falls Wildlife Trust, que testou amostras de elefantes mortos do Zimbábue e em Botsuana.
O Zimbábue enviou amostras para a Grã-Bretanha e está aguardando permissão para enviar amostras para outros dois países, afirmou Foggin.
A população geral de elefantes da África está diminuindo devido à caça ilegal, mas Botsuana, lar de quase um terço dos elefantes do continente, viu os números crescerem para cerca de 130.000.
O Globo