Uma das signatárias do requerimento para criar uma comissão parlamentar de inquérito para investigar integrantes do Supremo Tribunal Federal, a senadora Juíza Selma (PSL-MT) disse que foi procurada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL), para retirar sua assinatura e inviabilizar a CPI da Lava Toga
Em entrevista à Folha, Selma, 56, disse que Flávio chegou a gritar com ela ao telefone em ligação no último dia 21. “Eu me recuso a ouvir grito, então desliguei o telefone.”
Nesta semana, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, se manifestou favoravelmente à cassação da senadora por caixa dois e abuso de poder econômico. A PGR diz que a campanha deixou de contabilizar R$ 1,232 milhão e omitiu 72,29% dos gastos. A senadora diz que está sendo acusada por algo que fez na pré-campanha.
Seu gabinete divulgou nota no início da semana informando que, por causa de “divergências políticas internas” e “pressão partidária pela derrubada da CPI da Lava Toga”, a sra. cogitava deixar o partido. A sra. está de saída do PSL? Estou cogitando ainda, conversando com alguns partidos. Mas não pretendo sair da base do governo.
De onde partiu esta pressão? A pressão vem de todo lado. A gente sofre um bombardeio. Ontem [quarta-feira, 11], um dos senadores que assinou também relatou que está sendo pressionado. Mas, das pessoas que assinaram, a mais vulnerável sou eu porque tenho um processo na Justiça. Fico sendo sempre a mais atingida.
A sra. diz que a pressão vem de todo lado, mas na nota colocou que há divergências internas. Internamente, de onde está vindo esta pressão? Divergência política não é necessariamente a pressão. Vejo no PSL um partido que ainda não se estruturou como um partido. Ele não acolhe, ainda é um partido muito novo, de muita gente sem história política. Não sabe o que é se comportar num partido. Nunca tive uma pessoa do partido para me defender publicamente. Você já viu alguma declaração do presidente do partido dizendo ‘a senadora Selma tem todo o nosso apoio’? Não. Eles estão, evidentemente, me ajudando, inclusive pagando meu advogado. Mas não é uma coisa que você sinta a acolhida, você sente solta.
O senador Flávio chegou a pedir à sra. que retirasse a assinatura? Chegou.
Como foi esta conversa? Não vou te contar detalhes.
Por quê? Porque é melhor não. Mas pediu. Davi Alcolumbre pediu também. Tenho recebido alguns recados até mais, digamos, chatos, tipo ‘cuidado, você tem um processo, tira a assinatura’. Não vou tirar não. Prefiro perder o processo.
Esta relação entre seu processo e a retirada de assinatura foi feita pelo senador Flávio ou pelo presidente Davi? Não. O que eles argumentam é que uma CPI vai trazer instabilidade para o Brasil porque vai mexer com as instituições, com a integridade delas etc. Não acredito nisso.
Quem fez esta condicionante então? Pessoas do partido. É gente do partido que veio com esta conversa ‘olha, você tem que se aproximar do pessoal porque aí vão te ajudar’. Deste pessoal que está alvo de CPI.
Mas não o Flávio? Não foi o Flávio.
O Flávio falou como colega da sra. ou como filho do presidente da República? Não dá para dissociar. Ele estava um pouco chateado. Alguém disse para ele que nós tínhamos assinado uma CPI que iria prejudicar ele e ele falou comigo meio chateado, num tom meio estranho. Eu me recuso a ouvir grito, então, desliguei o telefone.
Ele chegou a gritar com a sra.? A pessoa fala exaltada, né? E era uma coisa que não era verdade, portanto não dei atenção.
Qual o sentimento da sra. diante disso? Não sei se compreendo muito bem por que razão ele teria feito isso, mas acho que, talvez, mais decepcionada. Ele é uma pessoa tão agradável, tão simpática.
(FOLHAPRESS)