Nas ruas de Paris, corredor brasileiro confirma boa fase e a 20ª medalha do país no atletismo.
“Medalha no Brasil não tem cor, né?” A de Caio Bonfim é prata, após cuidadosos 20 km da marcha atlética, na manhã desta quinta-feira (1º), uma medalha inédita na história do atletismo nacional. É o quinto pódio do Brasil nos Jogos de Paris-2024, o 20º do país na modalidade. É também a melhor colocação em uma prova de rua desde o bronze de Vanderlei Cordeiro de Lima na maratona, em Atenas-2004. “O Brasil agora tem um marchador”, declarou Bonfim, muito emocionado
O atleta, natural de Sobradinho (DF), “terra de Joaquim Cruz”, chegou ao último quilômetro na liderança, mas diminuiu o ritmo após ser advertido –na modalidade, o competidor não pode o contato dos pés com o solo. “Era melhor garantir a prata”, explicou. Uma nova punição poderia lhe custar tempo ou mesmo a desclassificação. O equatoriano Brian Daniel Pintado, seu rival em boa parte do circuito e sem faltas, então acelerou. Chegou 14 segundos à frente de Bonfim e a 16 do terceiro colocado, o espanhol Álvaro Martin. Pintado percorreu os 20 km em 1h18min55s.
Nas ruas ainda molhadas, Bonfim manteve-se sempre no primeiro pelotão, chegando a liderar nos quilômetros 1, 10 e 17. O atleta reconheceu que modulou o ritmo para garantir a medalha. “Não sou europeu nem sul-americano”, afirmou, de forma figurada, sobre o fato de o Brasil não estar entre os países dominantes do esporte. “Eu tinha que tomar mais cuidado do que eles.”
Bonfim ocupa a terceira posição do ranking mundial e vem de duas boas temporadas. Em sua quarta participação olímpica, consolida a ascensão em uma modalidade muito particular “e com muito preconceito”, disse o atleta. Na marcha atlética, o atleta não pode tirar os dois pés ao mesmo tempo da pista, como ocorre em uma corrida, provocando um movimento característico do corpo. “Comigo não acontece mais, mas mais muitos marchadores são xingados”, afirmou. A atuação dos competidores é fiscalizada na pista e faltas reiteradas podem gerar desclassificação.
A conquista da prata é também uma vitória familiar. Bonfim é treinado pela mãe, Giannete Bonfim Sena, oito vezes campeã brasileira da marcha, que por sua vez foi treinado pelo pai, João Sena. “Ela se classificou para Atlanta-1996, mas mudaram os critérios em cima da hora e ela não foi. Agora ela é medalhista olímpica”, disse o atleta, mais uma vez emocionado,
Os outros brasileiros na corrida, disputada em circuito montado entre cartões postais de Paris, como o Trocadéro e a Torre Eiffel, Max Batista Gonçalves dos Santos, e Matheus Correa, chegaram em 28º e 39º.
Caio ainda disputa o revezamento misto da marcha em Paris.
Com a vitória de Bonfim, o Brasil chega a cinco medalhas, três bronzes e duas pratas.
Folha de S. Paulo