OS cinco novos diretores indicados para a Petrobras pelo presidente da estatal, Jean Paul Prates, tem perfil técnico, longo currículo nas áreas afins e não deve enfrentar dificuldades para aprovação pela empresa. Facilitaria, também, o fato de quatro dos escolhidos atuarem ou terem atuado por décadas na companhia. A avaliação é de agentes do mercado e conselheiros da estatal, que falaram sob anonimato.
Para a diretoria executiva de Exploração e Produção (E&P), o escolhido foi Joelson Falcão; para Comercialização e Logística, o indicado foi Claudio Schlosser; para Desenvolvimento da Produção, Carlos Travassos; Refino e Gás Natural, William França; e Transformação Digital e Inovação, Carlos Augusto Barreto. A Petrobras informou que as indicações serão agora submetidas à governança interna, ao Comitê de Pessoas do Conselho de Administração e, por fim, ao pleno do colegiado.
A Petrobras tem oito diretorias. Com as escolhas, restam ainda duas indicações a serem feitas: para as áreas Financeira e de Relacionamento Institucional e Sustentabilidade. O atual diretor executivo de Governança e Conformidade, Salvador Dahan, tem mandato de dois anos com término no fim de março, quando então poderá ser trocado.
Prates também tem planos de criar uma nona diretoria, de Transição Energética, para a qual está cotado o professor e ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, conforme informado pelo Broadcast.
Centro das atenções
Um dos nomes mais aguardados pelo mercado era o do novo diretor de Exploração e Produção de Petróleo e Gás, cargo para o qual Prates indicou o engenheiro mecânico Joelson Falcão, atual gerente-executivo de Segurança, Meio Ambiente e Saúde da estatal. Segundo um ex-conselheiro da Petrobras, que ficou na empresa até agosto de 2022, Falcão é um alto quadro da Petrobras, que já figurava na fila de sucessão para a diretoria executiva.
“É nome extremamente técnico, que já estava na mesa de gestões passadas como um nome capaz para comandar uma diretoria dessa importância”, define a fonte. Um atual conselheiro minoritário da Petrobras confirma. A diretoria de Exploração e Produção comanda o principal negócio da empresa e concentra cerca de 80% do orçamento da Petrobras.
Nos corredores da estatal, circula a versão de que Falcão foi uma opção para substituir o geólogo e atual gerente-executivo de Exploração, Mario Carminatti, que chegou a ser cotado para vaga, mas sofreu fritura de alas da empresa e sindicatos devido a supostas declarações anti-Lula e de apoio à reeleição de Jair Bolsonaro (PL).
Inicialmente, apurou o Broadcast, Prates queria um nome que já ocupasse um alto cargo de E&P para chefiar sua diretoria mais importante, caso de Carminatti. O desconforto causado pelo nome, no entanto, teria inviabilizado a escolha. Entre funcionários da Petrobras, chegou a circular um meme com a foto do gerente e os dizeres “Apoie Bolsonaro e ganhe uma diretoria”.
Foi então que Falcão ganhou força. Uma fonte do governo detalha que o executivo goza de total confiança junto a Prates e tem bom trânsito com o “chão de fábrica” da empresa. Ele chegou a ser alvo de perseguição de bolsonaristas dentro da Petrobras por ser considerado de esquerda, mas foi mantido por ser “unanimidade técnica”.
Falcão é funcionário de carreira da Petrobras desde 1987. Engenheiro mecânico pela UFRJ com MBA em gestão empresarial pela FGV e especialização em gestão avançada pelo Instituto Europeu de Administração de Empresas (Insead), na França, ocupou diversas funções de gerência, o que inclui a gerência executiva de águas profundas e a gerência executiva de águas ultraprofundas da Petrobras.
Comercialização e Logística
O segundo cargo mais relevante da lista é o de diretor de Comercialização e Logística, para o qual foi apontado o engenheiro químico e bacharel em direito Claudio Schlosser. A posição é considerada estratégica porque junto a Prates e o diretor financeiro – ainda não escolhido – forma o trio responsável pela definição de reajustes no preço dos combustíveis da Petrobras, tema sensível ao governo.
Fonte com conhecimento da seleção informou tratar-se de nome técnico com grande parte da carreira dentro da Petrobras, da qual saiu há “dois ou três anos”. A Petrobras informou que Schlosser também entrou na Petrobras em 1987 e passou pelas áreas de processamento, comercialização e logística de petróleo e derivados, tendo sido gerente geral de refinarias até chegar à vice-presidência da Petrobras America e, depois, a gerência-executiva de Refino, Petroquímica e Fertilizantes da Petrobras, onde comandou 13 refinarias e demais unidades de processamento de petróleo e gás.
Um ex-conselheiro da Petrobras observa que o nome de Schlosser consta implicado em processo do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a compra superfaturada da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Mas o Broadcast verificou que a própria Petrobras pediu ao Tribunal que isentasse o executivo de responsabilidade no caso. A justificativa: ele estava no cargo de gerente de Refino e Abastecimento havia só dois meses antes da conclusão da compra, quando o negócio já estava avançado.
Refino e Gás e Desenvolvimento da Produção
Currículo também não falta aos indicados para as diretorias de Refino e Gás e Desenvolvimento da Produção. Para a primeira foi alçado o engenheiro químico William França, que começou na Petrobras em 1988. Ele foi gerente de ativo da Refinaria Guillermo Bell/Bolívia e gerente geral das unidades RPBC (SP), REGAP (MG); RLAM (BA) e REDUC (RJ). França também foi também gerente executivo e diretor da Transpetro e da Transpetro Internacional.
Já o apontado para Desenvolvimento da Produção, Carlos Travassos está há 33 anos na Petrobras, sendo hoje Gerente Executivo de Sistemas de Superfície, Refino, Gás e Energia, responsável pela implementação das grandes obras de investimento de capital. Ele teve passagens pelas Diretorias de Exploração e Produção e de Desenvolvimento da Produção.
Uma fonte define o nome como “inegavelmente técnico”, mas afirma que Travassos participou ativamente da política de redução de contratações de empresas nacionais pela Petrobras, o que deve voltar à ordem do dia sob Prates. Seja como for, trata-se de continuidade em uma diretoria que tem levado a Petrobras a volumes recordes de produção de óleo e gás.
Exceção
A exceção da lista fica por conta de Carlos Augusto Barreto, escolhido por Prates para a Diretoria Executiva de Transformação Digital e Inovação. Fontes dizem que o executivo já era próximo de Prates, o que teria pesado na indicação.
Barreto, informou a Petrobras, tem mais de 25 anos de carreira com passagens pelo Federal Reserve (FED), Banco Mitsubishi, Charter Communications, Cushman Wakefield e IBM. O executivo acumula graduação em Tecnologia da Informação (TI) pela PUC-Rio e cursos de extensão pela New York University (NYU), com certificações na área de TI, gerência de projetos e gestão de processos.