Herdeiro da OAS sofre infarto durante depoimento da Lava Jato em Curitiba

O empreiteiro Cesar Mata Pires Filho, 41, herdeiro do grupo empresarial baiano OAS, sofreu um infarto, nesta segunda-feira (8), na Justiça Federal do Paraná, enquanto prestava depoimento em uma das fases da Operação Lava Jato.

Ele falava com o juiz federal Luiz Bonat, responsável pela operação, quando caiu com o rosto na mesa, desacordado.

Foi socorrido inicialmente por advogados, até a chegada de um médico cardiologista que fazia plantão na Justiça. Ele foi levado, em seguida, de ambulância para o hospital Santa Cruz, em Curitiba.

O hospital não deu informações sobre o estado de saúde do empreiteiro alegando questões legais. A reportagem apurou que Cesar Mata Pires Filho sofreu um princípio de infarto, mas, na noite desta segunda, passava bem, segundo informações de amigos e familiares. Ele estava internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Santa Cruz.

A assessoria da força-tarefa do Ministério Público Federal do Paraná informou que as audiências do processo foram suspensas até setembro.

Fiança milionária há oito meses

Mata Pires Filho é um dos alvos da Lava Jato nesta ação que investiga desvios durante a construção da sede da Petrobras em Salvador. Ele chegou a ser preso, em novembro do ano passado, mas foi solto no mês seguinte após pagar R$ 29 milhões de fiança.

Segundo a PF, os contratos do empreendimento foram direcionados e superfaturados para que houvesse pagamento de ao menos R$ 68,3 milhões em vantagens indevidas para políticos do PT e diretores da Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras.

A Petros financiou a construção da sede da Petrobras em Salvador, chamada de Torre Pituba, que depois de pronta seria alugada por 30 anos para a estatal.

A obra foi realizada pela OAS em parceria com a Odebrecht.

Funcionários o incriminam

O depoimento de Mata Pires Filho era um dos mais esperados no processo.

O empreiteiro foi incriminado por funcionários da própria OAS envolvidos no caso.

Três dos oito executivos do setor de propinas da empreiteira que assinaram acordo de delação premiada com a Lava Jato disseram que os pagamentos de suborno foram feitos com a concordância do herdeiro da companhia.

Questionado em ocasiões anteriores, ele não comentou as acusações. A reportagem tentou contato com sua defesa, nesta segunda (8), sem sucesso.

Os delatores que implicaram o herdeiro da empreiteira no esquema de corrupção foram José Maria Linhares Neto, Ramilton Machado Júnior e Roberto Souza Cunha.

Linhares Neto, que foi responsável pelo controle da distribuição do caixa dois da OAS, disse aos investigadores que a empreiteira se valia dos serviços de um doleiro para levantar os recursos para a propina. Ao falar sobre a autorização para esses pagamentos, disse que “Leo Pinheiro e também Cesar Mata Pires Filho tinham ciência de que havia pagamentos de vantagem indevida na obra referida dado o volume de recursos que foram pagos”.

Ramilton Machado Junior, também executivo do departamento de propinas da OAS, relatou que em 2014 participou de uma reunião com Mata Pires Filho para resolver um impasse diante de um contrato fictício que seria feito para escoar propina para o PT.

Outra situação semelhante foi relatada por Roberto Souza Cunha, também da controladoria, que falou aos policiais sobre um embaraço quanto a um contrato fictício que seria assinado com a empresa Mendes Pinto Empreendimentos, que também escoava propina para a empreiteira baiana.

Ele e Ramilton consideraram arriscado o negócio, pois o objeto do contrato seria muito frágil: estudo sobre a recuperação de uma área explorada por uma mineradora. A decisão de contratar a Mendes Pinto veio do herdeiro, segundo o depoente. “Elmar Varjão [diretor da OAS Nordeste] foi até Cesar Filho, que determinou que o contrato deveria ser feito”, disse.

Para fechar o acordo de delação, oito ex-funcionários do setor de propinas da OAS romperam com a cúpula da empresa, que tentava fechar uma colaboração premiada em conjunto, nos moldes da que foi feita pela Odebrecht.

Hoje os herdeiros da companhia –Cesar Mata Pires Filho e Antonio Carlos Mata Pires– continuam tentando um acordo com a força-tarefa do Ministério Público Federal.

Em agosto de 2017 o patriarca do grupo baiano, Cesar Mata Pires, morreu de infarto enquanto caminhava nos arredores da sua casa. (Folhapress)

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