Flórida enfrenta ‘questão de vida ou morte’ com proximidade do furacão Milton

Um mapa da BBC mostra a rota esperada de sudoeste a noroeste do furacão Milton, pelo Golfo do México (segunda e terça-feira) e pela Flórida (a partir das 7h desta quarta-feira)
Foto: BBC News Brasil

A tempestade ‘monstruosa’ deve chegar com força total à densamente povoada Baía de Tampa na noite desta quarta-feira, horário local.

Os moradores da Flórida, nos Estados Unidos, estão correndo para terminar os preparativos de emergência — ou simplesmente deixar sua casas — enquanto o furacão Milton avança em direção à densamente povoada Baía de Tampa.

Milton é atualmente uma tempestade de categoria 5, com ventos ferozes de até 270 km/h.

A previsão é de que atinja a Flórida com força total na noite desta quarta-feira (9/10), horário local, menos de duas semanas depois de o Estado ser atingido pelo devastador furacão Helene.

O presidente dos EUA, Joe Biden, alertou a população da Flórida na terça-feira para deixar suas casas como uma “questão de vida ou morte”, enquanto o Estado realiza seu maior esforço de retirada de pessoas em anos.

“Categoria 5 é como um tornado gigante vindo em sua direção”, disse à BBC um morador da cidade de Bradenton, na Costa do Golfo dos EUA, do hotel para onde foi levado em Kissimmee após deixar sua casa.

“Eu não gostaria de estar lá”, afirmou Gerald Lemus. “Esta vai ser uma tempestade que vai mudar vidas, não importa onde ela chegue.”

Lemus, que morou em Bradenton durante toda sua vida, contou que nunca havia deixado sua casa antes por causa de uma tempestade. Mas decidiu que precisava fazer isso pela segurança da filha de oito anos.

“Eu simplesmente olhei para ela, e não podia traumatizá-la com algo assim”, ele disse na noite de terça-feira. “Não estávamos dispostos a pagar para ver”.

ML Ferguson tem lutado para reconstruir sua casa em Anna Maria, na Flórida, que foi seriamente danificada no mês passado pelo Helene, um poderoso furacão de categoria quatro.

“Este vai ser muito pior do que o Helene”, ela disse ao telefone, enquanto estava presa em um engarrafamento fora da cidade.

“Meu carro foi destruído, todos nós fomos demitidos, e [meus] pertences foram arruinados. Depois que essa tempestade chegar, vou ficar oficialmente sem teto.”

O governador da Flórida, Ron DeSantis, afirmou na terça-feira que o Estado preparou dezenas de abrigos fora das zonas de evacuação para ajudar os moradores após a tempestade “monstruosa”.

Longas filas se formaram em postos de gasolina no sul da Flórida, à medida que alguns postos começaram a ficar sem combustível.

Chynna Perkins afirmou à BBC que vai permanecer em Tampa, onde mora em uma casa recém-construída fora das zonas de evacuação obrigatória.

“Não acho que as pessoas realmente entendam quanto planejamento é necessário para tomar uma decisão como esta”, ela disse, acrescentando que tem dois dogues alemães.

“Há muito trânsito e quase nenhuma gasolina disponível no momento. As pessoas estão ficando sem gasolina nas rodovias.”

DeSantis disse que o combustível estava sendo transportado para os postos, e estações para recarga de veículos elétricos também haviam sido instaladas ao longo das estradas para facilitar a retirada das pessoas.

Steve Crist, morador de Tampa, conversou com a BBC enquanto tapava as janelas de seu consultório odontológico. “Todo mundo foi embora. Nunca vi isso aqui tão quieto”, ele disse.

Em pronunciamento na Casa Branca na terça-feira, o presidente Biden afirmou que a tempestade pode ser uma das piores da Flórida em um século.

“Saiam agora, agora, agora”, disse ele aos moradores da Flórida.

A Casa Branca cancelou a visita planejada de Biden à Alemanha e Angola para supervisionar os preparativos para a chegada do furacão Milton e a recuperação em andamento do Helene.

Há menos de duas semanas, o furacão Helene — a tempestade mais mortal no continente desde o Katrina em 2005 — atingiu o sudeste dos EUA, matando pelo menos 225 pessoas. Outras centenas estão desaparecidas.

Pelo menos 14 destas mortes ocorreram na Flórida, onde 51 dos 67 condados estão agora sob alerta de emergência à medida que o Milton se aproxima.

O Centro Nacional de Furacões (NHC, na sigla em inglês) alertou as pessoas para que se preparem para ventos fortes que podem fazer com que os detritos que ainda estão nas ruas por causa do Helene sejam lançados destrutivamente pelo ar.

A precipitação total pode atingir picos de 38 cm, e as áreas costeiras podem ter marés de tempestade com ondas de 3 a 4,5 metros.

Os furacões de categoria três e superiores são considerados significativos devido ao seu potencial de danos e perda de vidas, de acordo com o Serviço Meteorológico Nacional.

Os condados começaram a emitir ordens de evacuação na segunda-feira, suspendendo os pedágios nas estradas do oeste e do centro da Flórida.

O fechamento de escolas em vários condados começou na terça-feira. Os aeroportos de Tampa e Orlando anunciaram que suspenderiam os voos até que a tempestade passasse.

Partes do condado de Pinellas, onde pelo menos 12 pessoas foram mortas na passagem do Helene, receberam ordem de evacuação na segunda-feira.

Onde e quando Milton deve atingir a costa
A previsão do Centro Nacional de Furacões é de que Milton chegue à costa da Flórida como um “furacão extremamente perigoso” na noite desta quarta-feira, horário local.

Isso pode acontecer perto da cidade de Tampa, cuja área metropolitana tem uma população de mais de 3 milhões de habitantes.

Os meteorologistas alertam para chuvas torrenciais, inundações repentinas, ventos fortes e possíveis marés de tempestade — que ocorrem quando a água se desloca para o interior a partir da costa.

Tudo isso acontece no momento em que o governo dos EUA adverte que os esforços de limpeza após a passagem do furacão Helene podem levar anos.

Cerca de 12 mil metros cúbicos de detritos foram removidos em menos de dois dias nas áreas afetadas pelo Helene, na Flórida, de acordo com as autoridades.

Centenas de estradas permanecem fechadas, dificultando os esforços para enviar ajuda às comunidades mais atingidas.

Assim como na Flórida, mortes foram registradas na Geórgia, na Carolina do Sul, no Tennessee e na Virgínia — e no Estado mais atingido, a Carolina do Norte.

Até agora, Biden aprovou quase US$ 140 milhões em assistência federal.

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