EUA prendem suspeitos de operarem delegacia secreta da China em Nova York

Breon S. Peace, principal procurador do Brooklyn, ao centro, durante entrevista coletiva em Nova York – David ‘Dee’ Delgado/Reuters

Policiais prenderam dois moradores de Nova York sob a acusação de operarem uma “delegacia secreta” da China no bairro de Chinatown, segundo o procurador-geral do Brooklyn afirmou em nota nesta segunda (17). O órgão seria uma ferramenta para perseguir dissidentes baseados nos Estados Unidos.

Lu Jianwang, 61, e Chen Jinping, 59, são alvos de denúncias de conspiração para atuar como agentes do governo chinês sem o conhecimento das autoridades americanas e de obstrução da Justiça, ainda de acordo com a Procuradoria. Eles devem se apresentar à corte federal no Brooklyn ainda nesta segunda.

As acusações surgem em meio a um momento em que o Departamento de Justiça intensifica as investigações sobre o que chama de tentativas de “repressão transnacional” por adversários de Washington, como China e Irã, para intimidar oponentes políticos que vivem nos Estados Unidos.

“A acusação revela a violação flagrante, por parte da China, da soberania da nossa nação, ao colocar uma delegacia secreta no meio de Nova York”, disse Breon Peace, principal procurador federal do Brooklyn.

Os promotores disseram que Lu e Chen são cidadãos norte-americanos e lideram uma organização sem fins lucrativos cuja missão é fornecer um local de encontro social para pessoas da província chinesa de Fujian.

Em 2018, Lu tentou persuadir um indivíduo considerado fugitivo pela China a voltar para seu país de origem, disseram os promotores. Quatro anos depois, o governo chinês também teria, segundo a Procuradoria, pedido a Lu para localizar um indivíduo que vivia na Califórnia —ele era identificado como um ativista pró-democracia. A delegacia teria sido aberta e fechada em 2022.

“Não podemos e não iremos tolerar a perseguição do governo chinês aos ativistas pró-democracia que buscaram refúgio neste país”, disse Breon Peace, o principal promotor federal do Brooklyn, a repórteres.

Também nesta segunda, procuradores apresentaram acusações contra 34 autoridades chinesas por supostamente operar uma “fazenda de trolls” e assediar dissidentes na internet, inclusive interrompendo suas reuniões em plataformas de tecnologia dos EUA.

Os procuradores ainda adicionaram oito funcionários do governo chinês como réus em um caso de 2020 que acusa um ex-executivo do Zoom de interromper videoconferências comemorativas dos protestos de 1989 na Praça da Paz Celestial. Os funcionários acusados estão todos foragidos.

A dupla detida teria admitido ao FBI, a polícia federal americana, ter excluído os registros de seus contatos com um funcionário do governo chinês depois de saber que estavam sendo investigados. Procuradores federais acusaram mais de uma dúzia de cidadãos chineses e outros de realizar campanhas de vigilância e assédio contra dissidentes nos EUA, inclusive tentando repatriar à força pessoas consideradas fugitivas.

As acusações vêm após o diretor do FBI, Christopher Wray, dizer a um comitê do Senado, em novembro, que estava “muito preocupado” com a presença de tais delegacias em cidades dos EUA. Para ele, o estabelecimento de presença policial chinesa no país “viola a soberania” e contorna a cooperação policial. A embaixada da China em Washington não respondeu imediatamente a um pedido de comentário da agência de notícias Reuters.

Fonte: www1.folha.uol.com.br