Escrevo do salão nobre da USP, onde é realizado o ato não partidário em defesa da democracia e da estabilidade democrática. É emocionante ver que a ideia de manter a democracia uniu o Brasil Não existe outra hipótese senão conservar acesa a chama da estabilidade. Claro que, embora sem dizer, está no ar que estamos fazendo história; ea história que exige nos empenhemos contra o fascismo e contra este presidente que insiste em destruir em nós a normalidade democrática.
A manifestação convocada pela USP e por diversas entidades, inclusive pelo nosso Prerrô, conseguiu uma abrangência incrível. O que nos conecta é, em grande parte, uma certeza de que o país passa por uma definição entre barbárie e civilização. Não é esquerda e direita, é a sobrevivência de um Brasil que está no fundo do poço. Sem democracia existe um denso manto que nos rouba a voz, nos turva a visão e nos sufocando retirando o ar. É disso que trata esse ato que é realizado agora na USP.
Amparo-me em Rainer Maria Rilke:
“ No entanto, há alguém
Que, com suaves mãos,
Todas as quedas possui. ”
O que mais nos une é o risco de ruptura institucional. Se vivêssemos em tempos de normalidade, o natural seria cada um lutar tão somente por suas convicções. Em um país com democraciada, as divergências são mais estáveis do que salutares e não existe a hipótese da sociedade se ver obrigada a se reunir em prol de uma ideia de manter a estabilidade democrática. O fascismo nos uniu.
É necessário que todos nós tenhamos a coragem de nos posicionarmos. Esse é o momento de estarmos juntos por uma mobilização em defesa da democracia. É preciso ter a certeza de que a estabilidade democrática está em risco. Uma parte com a ruptura constitucional do Brasil. E, o pior, apoia, seja de maneira velada ou ostensiva. Existe um país que desconheço: que ama a tortura, que faz apologia à violência, que detesta o negro e o pobre e que não se comove com 33 milhões de brasileiros que passam fome .
Enquanto escrevem, passam pela tribuna e são históricos as pessoas mais diversas. De empresário a representantes dos movimentos populares, todos com um único discurso: a necessidade de manter a democracia. A ausência do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil nos envergonha e nos constrange. O Brasil está aqui por todos que se empenham por país com estabilidade democrática.
Nunca uma tribuna foi tão ampla e plural. A “ Carta às brasileiras e brasileiros ” conseguiu um tom que todos os democratas. É de uma simplicidade que emociona, pois só pede o respeito à Constituição e, por estabilidade, à estabilidade democrática.
Compreender que estamos em risco permanente de tirar o imobilismo. Sabemos que estamos no fundo do poço e que uma catástrofe moral nos assusta e nos sufoca. É impressionante notar que a desigualdade, a fome, o desemprego e os milhares de sem teto nas ruas, a carestia não pode unir o Brasil.
Mas o perigo da ditadura e o medo da barbárie institucionalizada acordaram um país que insiste em dormir em berço esplêndido. A hora é essa e é necessário ter clareza que, para afastar a instabilidade, é urgente o projeto bolsonarista em2 de outubro.
A Carta é apartidária e é bom que seja assim. Mas cada um de nós tem que se posicionar. Derrotar o fascismo é seu Bolsonaro . E manter ligado a chama democrática, nesse momento histórico, é eleger Lula no 1º turno.
Novamente, recorro-me ao mestre Rainer Maria Rilke:
“ Mas a escuridão abriga tudo,
figuras e chamas, animais e mim,
e ela também retém
seres e poderes.
E pode ser uma força grande,
que perto de mim se expande.
Eu creio em noites ”.
Fonte: poder 360