Padre João Medeiros Filho
As comemorações da Semana da Pátria reacendem nos brasileiros o desejo de expressar o amor por ela, suas origens e cultura. Todos são convidados a buscar o Bem e a Justiça para o Brasil, que carece de ser mais amado. As festividades – outrora vividas com ufanismo nas escolas – devem inspirar o compromisso de encontrar novas dinâmicas e respostas para que o povo não continue a sofrer as consequências dos privilégios intocáveis, das inadmissíveis práticas de certas instâncias dos poderes “republicanos”. É preciso ter determinação para vencer os cenários de exclusão e o clima de radicalização e ódio que estão fragmentando a sociedade, criando um contexto desfavorável à participação altruísta nos processos cotidianos e levando os cidadãos ao pessimismo.
Para reverter esse quadro é necessário romper com inadequadas formas de exercício do poder e a sede egoísta do proveito próprio, desrespeitando o povo. A cooperação entre todos e a clareza sobre a necessidade de se procurar a paz e o bem-estar social devem ser prioritárias. A pátria é mãe de todos e não apenas de alguns, que tentam impor obstinadamente suas vontades, em detrimento da nação. Não é mais possível viver, de forma radical, como se o país estivesse numa contínua e acirrada campanha eleitoral. Hoje, fala-se mais em esquerda, direita e centro do que sobre o Brasil.
A sociedade precisa estabelecer prioridades e apontar soluções eficazes e patrióticas para alcançar uma mudança civilizatória. Todo cuidado é pouco para não se deixar aprisionar por disputas insanas e escolhas de siglas descomprometidas com os sérios problemas nacionais, e sim voltadas para interesses hegemônicos e oligárquicos. Assiste-se a embates orientados por conveniências de pessoas e grupos, contaminados pela vaidade, comprometendo a necessária lucidez, neste período difícil de nossa história. As atuais disputas inadequadas, inconsequentes e infrutíferas retardam o progresso, impedindo o Brasil de atingir um patamar, condizente com sua história e riquezas. Deve haver desapego, a partir de uma nova dinâmica cultural, capaz de nortear as instituições comprometidas com as dimensões políticas, sociais e éticas. Basta observar o que ocorre em altas esferas dos três poderes, desorientando os rumos do país. E o que dizer das alarmantes cifras destinadas à manutenção da máquina pública? O pior: isso vem resultando num tipo de burocracia nociva ao desenvolvimento do Brasil. Muitas direções escolhidas são letais, impondo processos que produzem morte lenta e perversa de pessoas, segmentos sociais e instituições.
É o momento de “abrir mão” e “abrir a mão”. O alcance simbólico destas duas expressões evidencia especial desafio aos homens públicos, autoridades e líderes, Considera-se o exercício da solidariedade indispensável à construção de um mundo melhor. Há grande resistência para se abrir mão de privilégios, mordomias preconceitos e partidarismos. Não é menor a dificuldade para se abrir a mão, numa postura sincera de acolhimento e doação. Quase sempre, quando é proposto um gesto que signifique “abrir mão”, acontece do mais forte impor o sacrifício ao fraco; o rico ao pobre; o político às camadas populares. Não raro, a “justiça” é exercida em favor dos que dominam e os prejuízos socializados entre os indefesos e inocentes. A atitude de não querer “abrir mão” contribui decisivamente para que várias instituições afundem, como um barco náufrago, sem que os ocupantes percebam o perigo. Poucos aceitam mudanças, que possam ser desfavoráveis à situação na qual se encontram, em prol do bem coletivo. Renunciar a “benesses” é algo inaceitável para muitos. Em tais casos, a resposta é imediata e negativa. Votações do parlamento têm comprovado. É preciso reavaliar o tecido cultural, subjacente nos processos aos quais as instituições são submetidas, ao longo de décadas. Na maioria dos casos, a irresponsabilidade e os interesses cartoriais configuram procedimentos gerando prejuízos, impedindo avanços e o enfrentamento das crises. Vale lembrar as palavras do apóstolo Paulo: “Enquanto temos tempo, façamos bem a todos” (Gl 6, 10). Neste 197º aniversário da Independência, rezemos (como na Bênção do Santíssimo Sacramento): “Dai ao povo brasileiro paz constante e prosperidade completa”!