O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), voltou a subir o tom contra o governo federal, que chamou de negacionista e extremista, em mais um episódio da disputa com o presidente Jair Bolsonaro pelo capital político da vacinação contra a Covid-19.
Nesta segunda-feira (14), para mostrar o respaldo nacional pela vacinação, Doria colocou no palanque no palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, o secretário de saúde do Maranhão e presidente do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), Carlos Lula. “Não é razoável que se aceite qualquer atraso injustificado para não se iniciar de pronto a imunização do país”, disse Lula, que trabalha no governo Flávio Dino (PC do B).
No domingo (13), o Ministério da Saúde divulgou um vídeo em seu canal institucional no YouTube em que faz críticas duras ao governador João Doria, e afirma que é “mais um devaneio” e que ele está “sonhando acordado” ao anunciar que começará a vacinação da população a partir de 25 de janeiro.
Nesta segunda, Doria rebateu o ataque. “Temos assistido nos últimos dias novos exemplos do negacionismo do governo federal e de extremistas também. Infelizmente, aqueles que até pouco tempo menosprezavam o vírus, classificando como ‘gripezinha’, ‘resfriadozinho’, agora passaram a criticar o esforço para a vacinação dos brasileiros”, disse o governador, se referindo a termos usados por Bolsonaro para diminuir a gravidade da pandemia.
“São os mesmos que imaginavam que iam resolver essa gravíssima crise de saúde no país com a cloroquina [medicamento sem eficácia comprovada defendido pelo presidente]”, continuou.
São Paulo fez parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac para produzir, por meio do Instituto Butantan, uma vacina contra a Covid-19, apelidada de Coronavac. Embora já tenha feito importação, esteja fabricando e tenha até anunciado data para começar a imunização (25 de janeiro), tudo de forma independente do governo federal, o governo paulista ainda não apresentou os dados da eficácia do imunizante e nem pediu autorização de uso emergencial.
Isso estava previsto para ocorrer nesta terça-feira (15), mas o governo mudou a estratégia, conforme anunciou nesta segunda. Resolveu adiar a divulgação da última fase do ensaio clínico para a semana que vem e, em vez de pedir autorização emergencial, vai apresentar no próximo dia 23 o estudo completo do fármaco para pedir seu registro definitivo à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Além disso, em acerto com o fabricante chinês Sinovac, a vacina terá o registro pedido ao mesmo tempo na NMPA (Administração Nacional de Produtos Médicos), a Anvisa do país asiático.
A expectativa no governo estadual é de que a China conceda o registro definitivo da Coronavac em cerca de três dias.
Carlos Lula, presidente do Conass, defendeu nesta segunda-feira que o governo federal inclua a Coronavac e “todas as vacinas consideradas eficazes e seguras” no Programa Nacional de Imunização.
“A gente precisa entender que é preciso ter velocidade. Cada dia que a gente perde, são vidas que perdemos”, disse ele, que defendeu que haja uma coordenação nacional no enfrentamento à Covid e que a imunização comece não em março, como disse na última semana o ministro Eduardo Pazuello, mas em janeiro, como quer o governo paulista.
Lula afirmou que “o Conass se coloca como mediador para qualquer tipo de rusga que haja entre o governo de São Paulo e o ministério da Saúde” e disse que “o objetivo é um só: garantir a imunização de toda a sociedade brasileira ainda em 2021. Menos que isso não é aceitável”, afirmou.
O Ministério da Saúde ainda não apresentou à população um plano de vacinação, embora a imunização já tenha começado no Reino Unido e esteja prestes a iniciar nos Estados Unidos.
Em resposta a ações que tramitam no Supremo Tribunal Federal cobrando um plano federal, Pazuello encaminhou um documento à corte que não prevê data e estima vacinar apenas um terço do necessário.
Os dados apresentados pelo governo estadual mostram que o número de casos, mortes e internações pela Covid vem crescendo em São Paulo.
A taxa de ocupação das unidades de terapia intensiva saltaram de 40% em 7 de novembro para 60%; na região metropolitana chega a 65,5%. O número de novas mortes também cresceu 9% em relação a semana anterior, e agora o estado já acumula mais de 44 mil vítimas da doença.
Pesquisa Datafolha mostrou que 73% dos brasileiros disseram querer tomar a vacina contra a Covid-19, número que caiu em relação à pesquisa anterior, de agosto, quando 89% disseram querer a imunização. A maioria do país (56%) também afirmou querer que a vacinação seja obrigatória.
Metade dos brasileiros, porém, disseram que não tomariam um imunizante desenvolvido pela China, como é o caso da Coronavac, aposta do governador paulista.
Folhapress