A luz e a lama no Rio Grande do Sul

A luz e a lama no Rio Grande do Sul
Foto: LAURO ALVES/SECOM)

Por mais que tentemos escrever sobre solidariedade, as palavras não são suficientes para expressar a beleza de um gesto humano no momento em que o semelhante mais precisa.

O que fica de uma tragédia como essa, que atingiu os nossos irmãos do Rio Grande do Sul, além da lama, da aflição e do medo? Fica o gesto de quem estendeu a mão, de quem entregou um cobertor, de quem arriscou a própria vida, de quem cedeu seu tempo, de quem juntou alguns pertences para doação no intuito singelo de colaborar, o mínimo que fosse.

Diante de uma tragédia, o que se mostra além do caos, é o ato genuíno de compaixão, que nos lembra daquilo que nos foi ensinado em parábolas cristãs mas que pouco sentido fazia até que nos deparamos nós mesmos com o bom samaritano que cada um pode ser quando a frieza do seu coração se dissipa diante do sofrimento do seu próximo.

O que podemos fazer também em respeito à dor dos gaúchos é limitar nossos comentários maledicentes, educar nossa língua ferina, refrear nossa necessidade infantil de apontar o dedo para este ou aquele político em especial, como se houvesse um único culpado para uma catástrofe ambiental na qual todos estamos enredados.

Tampouco é pertinente insistir em teorias ideologizadas que utilizam as mudanças climáticas para justificar radicalismos que nada têm a ver com a questão ambiental.

O que nos falta é coragem para enxergarmos que estamos todos juntos em um mesmo barco que afunda. Somos partícipes de erros e irresponsabilidades coletivas, mas somos, sobretudo, responsáveis pelos nossos próprios atos.

Cada um de nós tem um papel a realizar nesse ensaio cacofônico para que ele se torne uma sinfonia. Cada um de nós é um instrumento que pode se afinar e se harmonizar a fim de ser utilizado por Deus para soerguimento da terra convulsa. Isso pressupõe liberdade e responsabilidade.

Não é livre aquele cujo pensamento está subjugado à ideologia da hora ou cujas ações têm por móbil somente o autointeresse, desconsiderando o apelo ao bem comum, ao cuidado com o outro.

A solidariedade não se submete a partidarismos; a luz que brota do coração humano quando ele se vê fortemente inclinado em direção ao próximo que necessita de ajuda não se confunde com o holofote que jogam sobre si aqueles que se aproveitam das calamidades públicas para a autopromoção.

Todos os políticos deveriam olhar hoje para o Rio Grande do Sul e se envergonhar. Não porque sejam diretamente culpados pelo evento trágico, mas porque aquilo que podem fazer é mínimo diante da catástrofe. E isso mostra quão ridícula é a sua soberba, quão fantasiosa é a sua presunção de que o Estado pode mais do que o povo unido em torno de um objetivo comum.

Tudo o que o Estado brasileiro representa hoje está em descrédito. A opulência, as regalias, as emendas bilionárias, os orçamentos secretos, os desvios por corrupção, os fundos partidários, a ineficiência: tudo isso fica mais gritante diante do cenário de guerra que se avista no Rio Grande do Sul. É como se a lama na qual o estado gaúcho submerge materializasse a lama moral da qual a política brasileira jamais se limpou.

Já passa da hora de acenarmos um adeus para todos aqueles que parasitam a máquina estatal para o seu próprio benefício.

O mundo dá sinais de convulsão: pandemias, guerras, catástrofes ambientais, terrorismo, fanatismo, histerias coletivas: tudo isso soa como uma espécie de trombeta do apocalipse para os mais impressionáveis. Mas, mesmo para os céticos e para os incrédulos, parece prudente aceitar que o momento pede um pouco de reflexão para reajuste.

Aceitemos a nossa falibilidade, paremos um pouco com a nossa intolerância e com a disseminação de um ódio difuso. Voltemos um pouco para o nosso próprio eu a fim de investigarmos onde temos errado e como podemos redirecionar a conduta a fim de nos tornarmos mais úteis. Tragédias como essa deveriam, pelo menos, trazer o espanto filosófico que leva a um minuto de circunspecção e silêncio.

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Defesa Civil interdita última residência no Conjunto Pirangi após desabamento

Desabamento em Neópolis. Foto: José Aldenir/Agora RN

Os vestígios do deslizamento de terra ainda podem ser vistos entre os escombros da Rua Marcassita e Ouro Preto, no Conjunto Pirangi, quase um mês após o ocorrido. O desastre, que resultou na destruição de todo relevo inclinado, causou a interdição de uma nova casa nesta sexta-feira 15. Agora, são 10 residências impedidas de ter moradores.

Na manhã desta sexta 15, a equipe do AGORA RN esteve no local do incidente e conversou com Jaílton de Souza, um dos moradores afetados. Ele relatou que havia aguardado por três dias uma vistoria em sua residência por parte da Defesa Civil municipal.

Jaílton, cuja casa no primeiro andar foi atingida, lamentou que seu inquilino, que ocupava a moradia no andar de baixo, tenha recebido assistência financeira da Prefeitura, enquanto ele, que vivia no andar superior, ainda não recebeu nenhum tipo de auxílio. “Algumas pessoas receberam aluguel. Eu morava em cima e tinha uma renda de R$ 600 embaixo. Aí o morador de baixo teve direito e está recebendo, e eu, que estou em cima não tenho?”, questionou.

Morador Jailton disse que não estava recebendo auxílio para aluguel. Foto: José Aldenir/Agora RN
Morador Jailton disse que não estava recebendo auxílio para aluguel. Foto: José Aldenir/Agora RN

O morador, que está atualmente desempregado, disse que estava “esgotado” da situação, já que a Defesa Civil havia prometido comparecer nos dias anteriores, mas não apareceu. Ele conta que está morando na casa de familiares, próximo à Macaíba, e que os custos do percurso estão insustentáveis.

A Defesa Civil compareceu ao local no final da manhã e vistoriou a casa de Jaílson. O órgão justificou o atraso devido a outros incidentes próximos à região.

A Diretora do Departamento de Defesa Civil e Ações Preventivas, Fernanda Jucá, responsável pela vistoria, disse que na ocasião do desabamento o morador não estava presente e por isso não teve sua casa totalmente interditada.

Diretora do Departamento de Defesa Civil e Ações Preventivas, Fernanda Jucá. Foto: José Aldenir/Agora RN
Diretora do Departamento de Defesa Civil e Ações Preventivas, Fernanda Jucá. Foto: José Aldenir/Agora RN

“O rapaz, que morava em cima, não tinha feito a vistoria porque ele não estava morando na época. Então, ela [a casa] não tinha sido vistoriada e foi considerada como se fosse uma coisa só. Mas o proprietário informou que é dividido, tanto que a gente viu a escada que dá acesso ao primeiro andar. Então, só agora que ele contactou e a gente conseguiu fazer a vistoria”, disse Jucá.

Ao final da vistoria, a responsável pelo caso avaliou que, de fato, o imóvel deveria estar totalmente interditado. Segundo ela, a construção era conjugada e agora tem um laudo em definitivo que pode dar direito do proprietário buscar benefícios em relação à moradia.

Defesa Civil municipal esteve nesta sexta-feira no local e interditou residência após desabamento. Foto: José Aldenir/Agora RN
Defesa Civil municipal esteve nesta sexta-feira no local e interditou residência após desabamento. Foto: José Aldenir/Agora RN

“Foi realmente interditada a parte de cima, consequentemente por causa da de baixo. Não tínhamos o laudo diferenciando e agora temos. Ele vai ao atendimento da Semtas para ver a questão do direito ao aluguel social, com todos os direitos e benefícios que outras pessoas também tiveram. Aí o julgamento de se ele vai ter direito ou não, com enquadramento na lei, é com a Semtas”, disse.

Fonte: www.agorarn.com.br