O Chico que joga bola e não sabe perder. Montou um time para poder ganhar, o Politheama, com camisa, campo e tudo. Até o juiz. Joguei contra ele; não pode nem encostar que é falta. E ninguém reclama. Como nos lembra a letra dele, na música “O Futebol”:
“Compositor”.
Todos nós, fãs apaixonados, temos alguma história com ele. Claro que ele não sabe de nenhuma, mas são lembranças importantes para cada um de nós. Recordo-me de um show na minha cidade, Patos de Minas, em que nós, para homenageá-lo, jogávamos milho no palco. A apresentação era na Festa do Milho. Anos depois, ouvi ele dizer que essa foi uma das cenas mais bizarras da sua carreira: os grãos de milho entrando no violão e atravessando o som. Fiquei calado, na minha.
Outra vez, eu havia sido nomeado pelo Conselho Federal da OAB para enfrentar os fazendeiros e grileiros de Rio Maria, no Pará. À época, com algum perigo. O padre da paróquia promoveu um grande show no Circo Voador, no Rio de Janeiro, para homenagear o Márcio Thomaz Bastos e a mim, que trabalhava na linha de frente, entre outros advogados. Todos os grandes da música brasileira estavam lá. Quando soube que o Chico iria cantar, eu, claro, fui. Para minha surpresa, no camarim, ele me agradeceu e disse que a gente fazia um trabalho relevante, por isso ele estava cantando para ajudar a “pagar os advogados”.
Certa vez, estava em um trem na Itália, numa cabine aberta, cantando na janela, imprudentemente, aberta. Cantando Chico, claro. Entra um norte-americano, com roupa de texano, e pergunta se eu era o Chico. Era uma época sem Google, internet, inteligência artificial ou telefone móvel. O cara achou que eu fosse o Chico! Ele disse que tinha todos os discos e que era apaixonado. Achei que seria uma mentira boa, do bem. Disse que sim. A alegria dele foi comovente. Imagino ele em casa, no Texas, depois de revelar as fotos e notar que meus olhos não são cor de ardósia.
Agora, aos 80 anos, ele ainda se reinventa compondo, escrevendo e participando da vida política. Quando foi receber o prêmio Camões, em 25 de abril do ano passado, em Lisboa, foi uma festa da democracia. Ele se posicionou ao não aceitar receber o prêmio à época de um governo fascista e lavou nossa alma ao recebê-lo com a presença de Lula. Eu estava lá, feliz da vida. Hoje, aos 80, tem o Chico da Carol. Ele merece por tudo que fez por nós. Obrigado, Chico!
“Ao lado teu”.