Contas atrasadas, pedidos de ajuda a familiares e amigos, bicos para conseguir se manter e ameaças por parte dos chefes em caso de faltas têm sido a rotina dos funcionários, segundo os próprios funcionários da Avianca.
Perto de completar seus 55 anos, Maria gasta cerca de R$ 1.000 mensais com o tratamento médico para uma deficiência física. Seu salário na Avianca Brasil, onde é atendente de call center, é de R$ 1.350.
O valor sempre foi pouco para suas despesas, complementadas pelos honorários do marido e pela ajuda mensal de seus dois filhos adultos.
Mas a situação piorou em fevereiro, quando a Avianca, que está em recuperação judicial, passou a atrasar o pagamento de salários e benefícios como o vale-alimentação.
Em março, ela percebeu que, apesar de descontar o valor do FGTS no contracheque, a empresa não fazia os depósitos.
Foi a gota d’água. Precisou ser levada ao psiquiatra devido a crise de estresse. Em abril, entrou de licença e, no início de maio, descobriu que o salário referente ao mês não foi pago.
Maria é um nome fictício, como outros da reportagem, mas a história é real. Foi narrada à Folha na condição de anonimato. Ela é um dos 1.600 funcionários da companhia aérea –segundo o sindicato de trabalhadores no setor, pois a Avianca não informou à reportagem.
Eles relatam uma situação de incerteza e desinformação. Além do não pagamento de honorários, a marca tem deixado de pagar até rescisão de alguns de seus demitidos.
Robson, que pediu demissão em abril após dois anos na empresa, em São Paulo, demorou um mês para homologar a saída. Desde que deixou o posto de atendimento a agências de viagem, passou a ser motorista de Uber.
Clara trabalha na operação da empresa no aeroporto de Florianópolis, desativada depois que a Avianca perdeu a maioria dos aviões de sua frota por dívidas com empresas de leasing. Das 50 aeronaves que a companhia tinha no início do ano, sobraram 5.
A funcionária é uma entre 16 remanescentes da equipe, que, segundo ela, chegou a ter 56 pessoas. Os atrasos no vale-refeição dela começaram em fevereiro. Em abril, seu salário atrasou e ela não conseguiu pagar a prestação do financiamento do carro em dia.
Joana, funcionária em São Paulo, deixou de ir ao trabalho na semana passada. Na terça (7), participou de uma manifestação organizada no aeroporto de Congonhas pelo sindicato dos aeroviários. Ela relata ameaças de demissão por justa causa por parte dos chefes.
“A empresa tem advertido quem falta por atrasos nos pagamentos. Em Guarulhos, soubemos que chegaram a demitir por justa causa quem fez isso”, diz Reginaldo Mandú, presidente do sindicato.
No caso de pilotos e comissários, segundo Ondino Dutra, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, os profissionais, além de estarem sem salário, não têm recebido a diária de alimentação.
Procurada, a Avianca não quis se manifestar, mas emitiu comunicado aos funcionários na sexta (10), após o Ministério Público do Trabalho de São Paulo determinar que esclarecesse quando pagará os débitos trabalhistas.
No documento, a empresa diz que contava com a realização do leilão de seus ativos, previsto para o dia 7, mas suspenso pela Justiça a pedido de uma credora da Avianca.
Afirma ainda que tenta liberar “créditos que detém junto a instituições financeiras, oriundos de vendas realizadas através de cartões de crédito”, e se compromete a pagar os salários atrasados até o dia 17.
(Diário do poder)