Meu amor!
Uma carta de amor é pouca para dizer o quanto te amo. Sabes que o amor é um fogo num fogão de lenha, daqueles que tem fogo mesmo quando nada está a ser cozido. No fogão de minha mãe, bem como, no da sua querida mãe, o fogo nunca apaga. É vivo, é permanente, é duradouro, é brando quando precisa ser, é forte quando precisa cozer uma comida mais densa. Assim é o amor. “É fogo que queima sem se ver”, como diria Camões.
Quando os corações são capazes de amar o fogão nunca irá se apagar, mesmo que a lenha seja pouca, ou mesmo fique uma jornada da noite sem combustão. Ah! o amor é uma vida entregue pelo bem. Pelo bem, sem complemento verbal ou nominal. Amor é uma vida doada pelo bem. Ah! O amor é um bem que vem do bom. “Só Deus é bom!!! Será que esse Bom seria capaz de fazer algo de tão ruim que impediria que o amor coabitasse em mais de um coração? Ah! o amor nunca vai apagar de quem ama. Quem busca a sensibilidade e a docilidade da ternura, como bem cantaria João da Cruz, Teresinha do Menino Jesus, o Belo.
O Belo veio do bem e o bem veio do Bom. Ainda sinto no meu peito o fogo e a quentura do fogão de lenha da minha casa, da minha avó, da minha mãe, da minha família que por sua vez, recebeu dos meus pais, os pais dos meus pais, os pais dos meus ancestrais, talvez pudesse relembrar em posição ventral dos pais de Antônio Felipe Camarão, de Clara Camarão. Ah! quantos ritos de amor em volta da minha casa, da casa onde nasci, em volta da matriz, da matriz onde meus pais se casaram, da matriz onde fui recepcionado como cristão e as águas, doces águas, puras águas, águas das minhas ancestralidades escorreram sobre minha cabeça, só somente amor.
Ah! O amor que fez um ninho no alto da carnaúba, aquela carnaúba onde a tirania sacrificou Antônio Baracho, Santo Antônio Baracho, e logo em seguida tiranizou Mateus Moreira, São Mateus Moreira e do céu ecoou um doce e suave murmúrio de amor: “Louvado Seja o Santíssimo Sacramento!”
É! lá no alto da palmeira, a carnaubeira de Uruaçu tinha um linho, que belo ninho, um ninho de amor. Que amor! Esse amor não deixa o jogo do fogão de lenha de minha mãe, da sua mãe jamais se apagar. Ah! o amor precisa muito dos apaixonados e das apaixonadas para protagonizar a vitória do amor. O triunfo de quem ama e gosta de ser amado. O triunfo de quem ama, que ama porque anteriormente sentiu-se amado. Completamente amado ou amada. Quem tem o fogo do amor, do fogão de lenha, da cozinha de sua querida mãe, como haverá de olvidar do amor? Como haverá de olvidar de querer ser amado ou amada?
Rogo um brado de alegria as palhas da carnaubeira de Uruaçu que jamais a tirania se instale em volta de nós. Vá pra longe, bem longe, muito longe, um longe que seja o lugar das coisas vencidas, as coisas vencidas, definitivamente vencidas por seus más, e nas vésperas do dia 3 de outubro se diga: vai-te pros quintos dos infernos tiranos e tirania!
Parnamirim – RN, 13 de setembro de 2022.