Faculdade Católica do RN – mérito reconhecido

Padre João Medeiros Filho

O poeta Virgílio em uma de suas Éclogas proclama: “Paula, maiora canamus” (cantemos as coisas grandiosas). É o que se pretende. Em tom jocoso, mas realista, costuma-se denominar: “O país de Mossoró”. Na verdade, a capital do oeste potiguar é diferenciada. Sempre teve sede de liberdade, lutando pela arte, cultura e educação. Ali funciona o primeiro colégio confessional do estado, criado em 1901 por Dom Adauto Miranda Henriques. O Santa Luzia é um marco na história educacional norte-rio-grandense. Desde 2009 é também o endereço de outra instituição de ensino: a Faculdade Católica do Rio Grande do Norte, nos primórdios intitulada Faculdade Diocesana de Mossoró. Ela vem se destacando nos meios acadêmicos em âmbito nacional, desde o seu credenciamento pela Portaria do Ministério da Educação 839/09. Atualmente, são ministrados oito cursos presenciais de graduação, reconhecidos pelo sistema federal de ensino. Oferece dezenas de cursos de pós-graduação “lato sensu”, MBA (“Master of Business Management”) e extensão. Conta com um corpo docente de excelência, detentor de larga experiência magisterial e títulos de mestre e doutor.

Os fatos falam por eles mesmos. “Pelos frutos conhecereis a árvore” (Mt 7, 20), afirmou Jesus Cristo. A Católica do RN acaba de obter a segunda maior nota de avaliação, concedida pelo MEC às instituições de ensino superior mantidas por setores ligados à Igreja do Brasil. Ao lado da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, com sede em Belo Horizonte, lidera o “ranking” das entidades de ensino superior ligadas ao catolicismo. Ambas são escolas relativamente novas e de pequeno porte, se comparadas aos centros universitários e universidades, em sua maioria, datando das décadas de 1940-1970. A Associação Nacional de Educação Católica do Brasil – ANEC registra 177 filiadas, que oferecem educação superior. A avaliação ministerial demonstra a seriedade com que se ministra o ensino, a possibilidade de a Igreja ser sacramento da verdade, justiça e paz.

É um legado relevante de Dom Mariano Manzana ao Povo de Deus, na construção da história eclesiástica e educacional potiguar. É prova de que se pode educar com qualidade e dar testemunho de Cristo no mundo universitário, por natureza questionador, crítico e científico. Constitui-se em lição para as entidades religiosas, ensinando como gerir e vencer em meio a tanta concorrência, usando dos trunfos da verdade, honestidade e ciência. No momento, trata-se da única instituição norte-rio-grandense de ensino superior, vinculada ao catolicismo. Nos últimos dez anos, cinco faculdades – três pertencentes à Congregação das Filhas do Amor Divino e duas tendo como mantenedores departamentos das dioceses de Caicó e Natal – declinaram de sua missão, sendo vendidas ou fechadas.

A Católica do RN começou apenas com um curso de nível superior. A tarefa de educar exige dedicação, diálogo e paixão pelo ensino. E isso não faltou a Padre Sátiro Cavalcanti Dantas, alma inspiradora da Católica do RN. Esta é dirigida hoje, de forma brilhante, por Padre Charles Lamartine de Sousa Freitas, detentor de dois diplomas de graduação, dois de mestrado e um de doutorado com importante tese defendida na PUC Campinas. É dever de justiça prestar homenagem à diocese de Mossoró, aos abnegados docentes e servidores, bem como aos discentes de sua faculdade.

“Last, but not least” (por último, mas não menos importante), deve-se informar que a instituição mossoroense se destaca pela sua biblioteca, uma das melhores do país. Seus centros de estudos, clínicas e espaços de prática profissional complementam as aulas teóricas. O ensino foi considerado de ótimo a excelente, não apenas pelo nível de seus professores e infraestrutura, mas também pela visão regional, diferencial para uma formação comprometida com a nossa gente. Começou com o curso teológico, mostrando que não existe humanismo sem Cristo. Usando uma expressão muito cara aos eclesiásticos, ela é uma das belas realizações da Igreja “Ad gentes” (missionária e aberta ao mundo). Seu corpo diretivo empenha-se para solicitar, dentro de poucos anos, o credenciamento como Universidade Católica, a primeira em terras potiguares, concretizando um sonho do bispo, dos padres Sátiro, Américo, Charles, Flávio e tantos outros. Lembremo-nos das palavras do apóstolo Paulo, plenas de visão teológica e pastoral: “Fiz-me tudo para todos, para ganhar alguns” (1Cor 9, 20).

Por que a Dinamarca armazena quase 10 mil cérebros humanos

Por que a Dinamarca armazena quase 10 mil cérebros humanosFoto: Getty Images via BBC.

Em um porão isolado da Universidade do Sul da Dinamarca, uma das maiores do país, há fileiras e mais fileiras de prateleiras com milhares de baldes brancos numerados. Em cada um deles, preservado em formol, existe um cérebro humano. São 9.479 no total.

Os cérebros foram retirados durante autópsias de pacientes que morreram em institutos psiquiátricos de todo o país ao longo de quatro décadas, até a década de 1980. Estima-se que seja a maior coleção desse tipo no mundo.

No entanto, os cérebros foram preservados sem o consentimento prévio dos pacientes ou de seus parentes próximos, gerando um longo debate nacional sobre o que fazer com tamanha quantidade de órgãos humanos.

Na década de 1990, o Conselho de Ética dinamarquês determinou que os tecidos poderiam ser usados para pesquisas científicas, e é nesse sentido que funciona o banco de cérebros da universidade da cidade de Odense.

Alguns especialistas dizem que, ao longo dos anos, a coleção facilitou o estudo de muitas doenças, incluindo demência e depressão. Mas sua existência também trouxe à tona o debate sobre o estigma da doença mental e a falta de direitos dos pacientes em épocas passadas.

Em detalhes

A coleção começou em 1945, após a Segunda Guerra Mundial, com cérebros removidos de pacientes com transtornos mentais que morreram em instituições psiquiátricas em diferentes partes da Dinamarca.

Originalmente, os órgãos eram mantidos no Hospital Psiquiátrico Risskov em Aarhaus, onde funcionava o Instituto de Patologia Cerebral.

Após as autópsias, os médicos removiam o órgão antes de enterrar o cadáver em cemitérios próximos. Eles examinavam o cérebro e faziam anotações detalhadas.

“Todos esses cérebros estão muito bem documentados”, disse Martin Wirenfeldt Nielsen, patologista e atual diretor da coleção de cérebros da Universidade do Sul da Dinamarca, em Odense, à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.

“Sabemos quem eram os pacientes, onde nasceram e quando morreram. Também temos seus diagnósticos e relatórios de exames neuropatológicos (post mortem)”, explica Nielsen.

Muitos dos pacientes estiveram em hospitais psiquiátricos durante grande parte de suas vidas. Assim, além dos relatórios detalhados do patologista, os cientistas têm também o histórico médico de quase metade dos pacientes.

“Temos muitos metadados. Podemos documentar muito do trabalho que os médicos fizeram no paciente naquela época, além de termos o cérebro agora”, diz Nielsen.

O arquivamento de cérebros parou em 1982, quando a Universidade de Aarhaus se mudou para um novo prédio e não havia orçamento para abrigar a coleção. Em estado de abandono, chegou-se a cogitar a destruição de todo o material biológico. Mas em uma “operação de resgate”, a Universidade do Sul da Dinamarca, em Odense, concordou em abrigar o acervo.

A questão ética

Por cinco anos, Nielsen foi diretor da coleção. Embora tivesse uma noção vaga, ele desconhecia a magnitude completa do arquivo. “Quando eu vi pela primeira vez, fiquei realmente surpreso.”

Embora sua existência nunca tenha sido um segredo e tenha sido objeto de rumores ocasionais, a coleção incomum não fazia parte da consciência coletiva dinamarquesa, até que o plano de mudança para a universidade em Odense a expôs completamente.

Knud Kristensen era presidente da Associação Nacional de Saúde Mental da Dinamarca na época da polêmica sobre a coleção de cérebros — Foto: CORTESIA: KNUD KRISTENSEN

Knud Kristensen era presidente da Associação Nacional de Saúde Mental da Dinamarca na época da polêmica sobre a coleção de cérebros — Foto: CORTESIA: KNUD KRISTENSEN.

Um grande debate público — com a participação de grupos políticos, religiosos e científicos — foi feito sobre ética e a forma como se conserva restos humanos, e também sobre os direitos dos pacientes. O povo dinamarquês deparou-se com algo que mantinha à margem: os transtornos mentais.

“Havia um estigma tão grande em torno dos transtornos mentais que ninguém que tinha um irmão, irmã, pai ou mãe em uma ala psiquiátrica sequer os mencionava”, diz Knud Kristensen, ex-presidente da Associação Nacional de Saúde Psiquiátrica.

“Naquela época, os pacientes ficavam internados a vida toda. Não havia tratamento, então eles ficavam lá, talvez trabalhando no jardim, na cozinha ou outras coisas. Eles morriam ali e eram enterrados no cemitério do hospital”, disse ele à BBC News Mundo.

Os pacientes psiquiátricos tinham poucos direitos. Eles poderiam receber tratamento para um caso específico sem qualquer tipo de aprovação.

Kristensen comentou que era muito provável que os parentes dos pacientes nem soubessem que seus cérebros estavam sendo preservados e disse que muitos dos cérebros da coleção apresentam sinais de lobotomia.

“Um tratamento ruim, com base no que sabemos hoje, mas bastante normal naquela época.”

Nas décadas de 1930 e 1940, a lobotomia era um procedimento que podia ser realizado sem o consentimento dos pacientes ou de seus familiares. Hoje é considerado brutal e desumano — Foto: Getty images via BBC

Nas décadas de 1930 e 1940, a lobotomia era um procedimento que podia ser realizado sem o consentimento dos pacientes ou de seus familiares. Hoje é considerado brutal e desumano — Foto: Getty images via BBC.

Decisão final

Quando Kristensen era presidente da associação, ele estava envolvido na decisão do que fazer com os cérebros — uma polêmica que passou por vários estágios de discussão.

A principal suposição era de que os órgãos haviam sido coletados sem o consentimento dos pacientes e de seus familiares e, portanto, do ponto de vista ético, não era aconselhável manter a coleção.

Então eles discutiram destruir os materiais ou mesmo enterrá-los ao lado dos pacientes a quem correspondiam. Mas não havia como identificar os túmulos de todos e até foi proposto fazer um enterro em massa de todos os cérebros em um só lugar.

Depois de vários anos, o Conselho de Ética da Dinamarca decidiu que era eticamente aceitável que eles fossem usados para pesquisa científica sem o consentimento das famílias. A associação concordou.

“Foi dito: ‘Fizemos uma coisa muito imoral ao coletar os cérebros, mas como os temos, também seria imoral destruir a coleção e não usá-la para fins de pesquisa’”, diz Kristensen.

A coleção de cérebros e toda a sua documentação estão disponíveis, com certas restrições, para qualquer pesquisador que apresente um projeto relevante. Isso inclui cientistas internacionais, embora eles tenham que submeter seus projetos a um comitê de avaliação e trabalhar em conjunto com cientistas dinamarqueses.

“Minha principal preocupação é que, sempre que uma pesquisa científica é aprovada, haja garantias de que o projeto seja executado de maneira ética”, diz Kristensen.

Decisão ‘genial’

Cada cérebro é preservado em um balde de formol. O tecido adicional retirado durante a autópsia é envolto em blocos de parafina. Os cientistas conservaram muitas das placas de microscopia originais que foram feitas na época.

Nielsen não apenas gerencia a coleção, mas orienta os pesquisadores sobre o melhor uso do material, aplicando novas técnicas de biologia molecular para examinar mudanças no DNA do cérebro.

“Este é um excelente recurso científico e muito útil se você quiser saber mais sobre transtornos mentais”, diz Nielsen.

Para o diretor do acervo, o fato de os cientistas terem decidido ficar com os cérebros dos pacientes tantos anos atrás foi uma decisão “genial” para as futuras gerações de pesquisadores. “Talvez daqui a muito tempo, talvez 50 anos ou mais, alguém apareça e saiba mais sobre o cérebro do que nós.”

Knud Kristensen concorda que a coleção tem potencial para novas descobertas sobre transtornos mentais.

“Uma das grandes vantagens é que existem cérebros tão antigos que foram removidos de pacientes que não receberam drogas antipsicóticas (porque elas não existiam)”, disse Kristensen. “Isso significa que você pode fazer uma comparação desses cérebros antigos com cérebros novos para ver que mudanças essas drogas causam (no órgão).”

No entanto, ele diz que a coleção não está sendo muito utilizada. “A pesquisa custa muito dinheiro e a maioria dos estudos psiquiátricos é financiada pela indústria farmacêutica, cujo principal interesse é o desenvolvimento de novas drogas, e não a descoberta das razões que causam os transtornos mentais.”

Nielsen afirma que vários projetos para estudar doenças como demência e depressão estão em andamento. Até agora, entretanto, eles ainda não produziram resultados que possam ser considerados “revolucionários”.

“Mas eles já estão começando a surgir. Esses projetos exigem um compromisso de longo prazo, e isso significa vários anos até que haja resultados”, completa.

“O grande valor desta coleção é o seu tamanho”, diz Nielsen. “É único, porque, se quisermos investigar, por exemplo, uma doença tão complicada como a esquizofrenia, não precisamos nos limitar a poucos cérebros. Podemos contar com cem, 500, até mil cérebros para o mesmo projeto — o que nos permite ver as variações e o tipo de dano ao cérebro que, de outra forma, passariam despercebidos.”

Fonte: : G1/BBC.

Salamanca em Cervantes

Não faz muito tempo, no rescaldo do Carnaval, participei de uma expedição a Salamanca, na Espanha. A famosa cidade universitária, enfatizo. Era minha segunda vez por aquelas bandas. Revisitei sítios famosos. E descobri coisas novas. Maravilha!

Dentre essas descobertas, na loja da própria Universidade de Salamanca, caiu em minhas mãos – e eu segurei, pagando uns 10 euros para tanto – um livro deveras engenhoso: Atmósfera universitaria em Cervantes” (Ediciones Universidad Salamanca, 2006), por Luis E. Rodríguez-San Pedro Bezares. Para além do seu conteúdo, o danado, em formato grande, com muitas imagens, entre elas reproduções de gravuras de Gustave Doré(1882-1836), é uma bela edição.

Para quem não sabe, Miguel de Cervantes Saavedra (1547-1616), neto de um licenciado em direito e filho de um médico de província (este provavelmente sem formação universitária), nasceu em Alcalá de Henares, nas abas de Madrid, historicamente uma das cidades universitárias mais prestigiadas da Espanha. Todavia, pouco ali viveu. Coisa de quatro anos de idade e já estava de mudança, não deixando Alcalá marca maior na imaginação do escritor como pátria estudantil/universitária dos falantes de língua espanhola/castelhana. Esse lugar é ocupado por Salamanca, como veremos a seguir.

Cervantes foi um gênio. Como poeta, dramaturgo e, sobretudo, como romancista, ele é sinônimo de literatura em língua espanhola, sendo esta às vezes chamada de “a língua de Cervantes”. Não preciso dizer que o “Quixote” (“El ingenioso hidalgo Don Quixote de la Mancha”, no original) é uma obra-prima da literatura universal, por muitos considerado o primeiro romance moderno e, com certeza, um dos melhores escritos em todos os tempos.

Todavia, ao que tudo indica, Cervantes foi um gênio autodidata, sem estudos oficiais, ao contrário do que por vezes se imaginou. Segundo registra Luis E. Rodríguez-San Pedro Bezares, “Cervantes, ao contrário de Góngora, Calderón ou Quevedo, não parece ter feito um curso universitário, nem em Salamanca nem em Alcalá, e deve ser considerado um autodidata, embora de formação humanista e acentuado gosto pelos livros. A formação de Cervantes suscitou diversidade de opiniões. Ele mesmo parece se definir comopouco alfabetizado e de sabedoria leiga. O mais provável é supor uma educação de cunho humanista e de nível pré-universitário, obtida em colégios jesuítas ou municipais, como já indicamos. Implicaria isso um certo nível de conhecimento do latim, manifestado, entre outras coisas, em várias citações e expressões de Dom Quixote? Por outro lado, Cervantes demonstra familiaridade com a obra de vários autores clássicos como Homero, Virgílio, Horácio, Ovídio, Cícero, Terêncio, Sêneca, Júlio César, Salústio ou Plutarco, para citar alguns. Os especialistas também apontaram um marcado autodidatismo em Cervantes e um notável amor pela leitura”.

Parece mesmo certo que Cervantes – à semelhança de Shakespeare (1564-1616), para citar outro exemplo célebre – faz parte de um pequeníssimo grupo de homens premiados pela natureza com o raro dom da genialidade, a despeito das evidências de que ele conhecia razoavelmente os clássicos gregos e latinos, repercutindo isso nas suas obras, entre elas o Quixote.

Entretanto, apesar do autodidatismo de Cervantes, também é certo o seu amor – talvez seja até melhor dizer fascínio – pela vida universitária, sobretudo a salamantina. Como anota o autor de “Atmósfera universitaria em Cervantes”, Salamanca “constitui uma referência literária e um fascínio cultural ao longo de toda a obra de Cervantes. São recorrentes as alusões míticas a Salamanca como cidade do saber e das letras, diferentemente do que se dá com Alcalá, que quase desapareceu no próprio Dom Quixote. Também inexistem alusões à Universidade de Valladolid [a UVA, outra tradicionalíssima instituição de ensino da Espanha], cidade onde viveu o romancista. Alusões a Salamanca aparecem, sim, em vários capítulos do Dom Quixote (…)”.

Esse “fascínio universitário” inclui, como pontuado em Atmósfera universitaria em Cervantes”, quase todos os ramos do saber: letras e humanidades, lógica e filosofia, saberes médicos e, por supuesto, o velho e bom/mau direito.

E é sobre a “ciência jurídica em Cervantes que papearemos na próxima semana. Prometo.

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República

Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL

“Você tem medo de quê?”, questiona Kakay a Moro e Deltan

Ex-juiz e ex-procurador da Lava Jato tentam impedir Tecla Duran, réu na Lava Jato, de prestar esclarecimentos à Justiça, diz articulista; ex-advogado de empreiteiras mora na Espanha

Da esq. para a direita, Sergio Moro, Tacla Duran e Deltan Dallagnol. O advogado Duran quer depor, mas Moro e Dallagnol são contra

“A verdade é inconvertível, a malícia pode atacá-la, a ignorância pode zombar dela, mas, no fim, lá está ela.”

–Winston Churchill

Há alguns anos, estive com o advogado Rodrigo Tacla Duran –réu por crime de lavagem de dinheiro na operação Lava Jato–, em Madrid. Tive acesso nessa oportunidade a documentos que seriam muito importantes caso viessem a público. Desde aquela época, ele demonstrava claro interesse em contribuir com a Justiça brasileira. Claro que queria fazer isso dentro de um contexto jurídico de proteção dos seus direitos, o que é absolutamente legítimo. Até onde sei, desde aquela época, Tacla Duran tem encetado inúmeros esforços para ser ouvido e para apresentar o material que mantém sob sua custódia. E que revelam questões gravíssimas.

É certo que Tacla Duran, ex-advogado de empreiteiras, foi arrolado como testemunha em diversos processos no Brasil. E é inexplicável que o ex-juiz federal da Lava Jato e hoje senador, Sergio Moro, jamais tenha permitido que ele fosse ouvido.

Como advogado militante, fiquei impressionado com a determinação do então magistrado de obstaculizar a oitiva do Tacla Duran quando este era chamado a prestar depoimento nos processos criminais. É melhor deixar bem claro: um juiz, que impede uma testemunha de depor em um processo impossibilitando o exercício pleno do direito de defesa do réu, está cometendo abuso de autoridade, algo absolutamente inusual. Na verdade, o que é necessário esclarecer é a razão pela qual Moro não queria ouvir o que haveria a ser dito. Simples.

Ainda nesta semana, o ex-procurador de estimação do ex-juiz, o atual deputado federal Deltan Dallagnol(Podemos-PR), impediu a convocação do advogado Tacla Duran na Câmara dos Deputados. É preciso perguntar, parafraseando os Titãs: “Você tem medo de quê?”.

Hoje, Tacla Duran é uma testemunha protegida e deveria ter todo o apoio institucional para vir depor. Mas o medo do grupo do ex-magistrado Moro é algo que não encontra limites. Urge que se determine a imediata proteção do Estado brasileiro para que Tacla Duran venha ao Brasil, preste depoimento e apresente os documentos que diz ter. Sob pena de enquadrarmos esses que estão tentando impedir a sua oitiva, configurando claríssima obstrução de Justiça. Inclusive, é um caso clássico de motivo para prisão preventiva.

As últimas decisões do juiz federal Marcelo Malucelli, do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), causaram estupefação na comunidade jurídica e no meio político. Um magistrado que, ao que consta, tem relação de proximidade com o casal Moro, que é investigado, ousa continuar despachando nos processos de interesse deles e que se delimita como o maior escândalo recente no estranho episódio patrocinado pelo grupo do ex-juiz da Lava Jato.

Muito ruim para o Poder Judiciário e para a democracia do país que um ex-juiz federal, atual senador da República, e seu pupilo, hoje deputado federal, que tiveram ativa participação na prisão ilegal, injusta e inconstitucional do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), decisiva para a eleição do fascista Jair Bolsonaro (PL) em 2018, tenham suas atitudes questionadas sem que tenham a honradez de darem uma explicação. Um acinte. Um escárnio. Um escândalo. É absolutamente incompreensível que os poderosos ex-juiz e ex-procurador enxovalhem o Poder Judiciário impedindo que se esclareça o porquê desse medo doentio. Eles, certamente, sabem o que fizeram nos verões passados.

Uma coisa é certa, por muito menos, o então protegido do ex-magistrado teria pedido a prisão de todos e ele, todo poderoso, teria determinado a prisão imediata dos que estão tentando obstruir a Justiça, ou seja, eles próprios.

Nas últimas horas, as versões se acumulam sobre as decisões do TRF-4 colocando, muitas vezes, na berlinda o seríssimo, técnico e corajoso trabalho do juiz titular da 13ª Vara de Curitiba, Eduardo Fernando Appio.

Em um primeiro momento, anunciou-se que o juiz federal Marcelo Malucelli, que tem relação de proximidade com a família Moro, teria descumprido a decisão do ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), e determinado a prisão do Tacla Duran. Isso correu em 12 de abril de 2023, na última 4ª feira.

O advogado estava embarcando da Espanha para o Brasil no dia seguinte, na noite de 5ª feira (13.abr.2023), para depor presencialmente ao juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba.

A confusão causada pela decisão –depois desaparecida– do juiz Marcelo Malucelli acabou fazendo com que Tacla Duran cancelasse seu embarque. Sua oitiva, que seria dia 14 de abril, agora está remarcada para o dia 18.

Até que que fosse suprimida, a decisão de Marcelo Malucelli havia se tornado um escândalo nas redes sociais por causa das relações entre os membros da família e do escritório de Moro. Após a notícia da possível ordem de prisão reverberar nos meios jurídicos, houve um estranho e inesperado comunicado (eis a íntegra – 44 KB) da assessoria de comunicação do TRF-4 ao juiz Eduardo Fernando Appio. Num texto curto, Patrícia Picon, diretora de Comunicação Social do TRF4, afirmou que havia sido cometido um “erro de interpretação”sobre um despacho e que o texto publicado no site desse Tribunal já havia sido retirado do ar. O título da desse comunicado, agora suprimido, era claro: “TRF4 restabelece ordem de prisão preventiva do advogado Rodrigo Tacla Duran”. No site do Tribunal há uma nota (eis a íntegra – 2 MB)

Felizmente, para esclarecer tudo o que está se passando, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) representou contra o juiz federal Marcelo Malucelli, até para que ele possa explicar ao Conselho Nacional de Justiça o que está acontecendo, sem prejulgamento. Dando oportunidade para que as pessoas envolvidas possam ser ouvidas. Afinal, é exatamente isso que, há anos, pretende o advogado Tacla Duran: ser ouvido. Esse é um direito básico em qualquer Estado que se pretenda democrático.

Lembrando-nos sempre do mestre Octávio Paz, “Sem liberdade, a democracia é um despotismo, sem democracia a liberdade é uma quimera”.

Fonte: poder 360

Banalização da violência

Ataque aconteceu na manhã desta 2ª feira (27.mar); agressor foi contido por professora da escola
Câmeras de segurança filmaram ataque com faca em escola de São Paulo

Não gosto de ver tanta água reunida sei que é o mar mas nada é o que parece. Visto de guantánamo o mar são grades de infinita tessitura visto de goreé é o marulhar multissecular de lágrimas exangues preferia que a água se dispersasse.”

O ódio, que foi a principal ferramenta de trabalho dos bolsonaristas nos últimos anos, marcou a ferro quente boa parte do povo brasileiro. A estratégia da disseminação da violência embruteceu as pessoas e cavou um poço profundo, afastando famílias, amigos e companheiros de trabalho. Esse sempre foi um dos objetivos: separar e dividir. Radicalizar para isolar e impedir que o diálogo se fortalecesse como instrumento para dirimir os possíveis conflitos e dúvidas.

Uma sociedade com ódio usa a violência como maneira de se expressar; um povo que não aprofunda as discussões tende a ser mais fácil de ser tangido, como gado. Daí a virar uma seita é um passo pequeno.

A irresponsabilidade na condução dessa estratégia pode levar a um caos quase incontornável. Pessoas que perdem a capacidade de pensar, de refletir e de dialogar são inclinadas a ter comportamentos que não existiriam em tempos de normalidade. O próprio conceito de normalidade fica extremamente fluido e, muitas vezes, não conseguimos reconhecer os nossos espaços atualmente.

A provocação barata, o clima insidioso de hostilidade e a agressividade vulgar passaram a ser uma regra constante nas relações. Tudo isso, emoldurado com a valorização das armas, com a exaltação das condutas machistas e racistas e até no culto à tortura e no desprezo às minorias.

Uma sociedade doente que precisa se alimentar da ausência de humanidade e compaixão. Uma admiração abjeta do comportamento mais bárbaro possível. Ser humanista, para esse grupo, passou a ser sinônimo de fraqueza. A inversão dos valores fez com que, muitas vezes, não reconhecêssemos o nosso próprio ambiente de viver. Passamos a nos sentir sem espaço no mundo. Lembro-me do Poema em linha reta, do Pessoa, na pessoa de Álvaro de Campos, “Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo”.

Nessas horas, é preciso pensar 1.000 vezes antes de nos posicionarmos. Alguns comportamentos criminosos afloram e um certo frenesi toma conta das pessoas. O episódio das mortes bárbaras das crianças nas escolas, o ataque cruel e covarde aos estudantes e a propagação nas redes sociais dos atos insanos ou de falsos alarmes de ataques, tudo hipervalorizado, vão nos colocando novos desafios. Hoje, com o medo espraiado entre as pessoas, um comportamento de manada vai tomando conta mesmo. O medo é o pior inimigo, pois faz com que as análises não sejam racionais.

Esse sentimento, quando disseminado, leva a um pânico que turva a capacidade de reação e de raciocínio lógico. Quando grupos passam a ter orgulho de serem violentos e cruel, é porque houve uma metástase no tecido social. A sociedade já começa a perder aquele senso de humanidade e solidariedade que acaba colocando freio nos instintos mais primitivos.

O homem tem que olhar e ver no outro um semelhante sujeito de direitos para poder respeitar e viver em comunidade. Se o que prevalece é o ódio e o temor, a expectativa de viver em paz social passa a ser efêmera. Nenhuma comunidade consegue sobreviver em um sistema de vale tudo.

A banalização da violência e a cultura do ódio causaram uma modificação profunda em boa parte das pessoas. O pânico generalizado, especialmente com os atos criminosos nas escolas, deixa um clima de perplexidade no ar e a insegurança só aumenta o grau de medo, mesmo sem, muitas vezes, ter nenhum fundamento. Elas estão com pavor sem conseguirem identificar de onde vem a estranha sensação de agonia.

O ministro da Justiça Flávio Dino agiu com rapidez e inteligência para tentar enfrentar o clima de pânico que se instalou na sociedade. É sabido que esse estado de coisas se difunde por meio da internet. E, embora os perfis nazistas sejam os alvos naturais, há muito mais por trás desse movimento que indica existir interesses políticos e financeiros a sustentar essa barbárie.

O ministro deu notícia de mais de 1.000 operações que já foram deflagradas com a derrubada de perfis criminosos que resultaram em algumas prisões e busca e apreensão. Foram anunciadas 10 medidas de contenção imediata à violência escolar.

O Ministério da Justiça editou a Portaria 351 (íntegra – 162KB), regulando os serviços prestados pelas plataformas digitais. A Secretaria Nacional do Consumidor vai instaurar processos administrativos para investigar a responsabilidade de cada empresa sobre os conteúdos com apologia à violência escolar. Há previsão de multa que pode chegar a R$12 milhões. Ainda poderá ser solicitada a retirada do ar do site da empresa, ou até a suspensão da empresa no território nacional.

Com a resistência inicial, sobretudo do Twitter, observou-se em grupos de Whatsapp uma razoável onda de cancelamento dessa plataforma digital, o que demonstra que toda a população está atenta e acompanhando esse momento grave. O Ministério da Justiça pediu a exclusão de mais de 500 contas do Twitter que continham hashtagsrelacionadas a ataques em escolas.

As delegacias de crimes cibernéticos das polícias civis e federal estão agindo 24 horas na tentativa de identificar perfis que fazem apologia à ataques nas escolas. A rapidez com que agiu o governo certamente deixa um recado claro de que não iremos seguir o caminho da violência instalada, por exemplo, nos EUA.

Penso ser fundamental que façamos um grande esforço para enfrentar essa cultura de ódio e hostilidade que foi sedimentada no governo Bolsonaro. Com o crescimento da extrema direita no mundo todo, com o aparecimento de células nazistas pelo país afora e com o culto às armas, ao ódio e à violência no governo Bolsonaro, fizeram o caldo de cultura para o recrudescimento dos atentados. Resta fazer o enfrentamento, não só com as ações do governo, mas, e principalmente, com a volta do sentimento de solidariedade e com a visão humanitária nas famílias brasileiras. Lembro-me da contadora de histórias do Malawi, Upile Chisala:

E hoje seus ossos chamaram sua pele

e disseram:

Vamos lá fazer isto de novo

 

Fonte: poder 360

O Assunto: Bolsonaro sob o risco da inelegibilidade


Em julho do ano passado, o então presidente convocou embaixadores para uma reunião no Palácio do Alvorada, e lá proferiu uma série de acusações mentirosas sobre o sistema eleitoral e a urna eletrônica. Um abuso de poder político que se repetiria em diversas oportunidades, como no caso das comemorações do 7 de Setembro. E que resultou em uma ação no Tribunal Superior Eleitoral, ingressada pelo PDT. Na quarta-feira, um parecer assinado pelo vice-procurador eleitoral Paulo Gonet Branco, do Ministério Público Eleitoral, afirma que as provas reunidas no processo configuram irregularidade e pede ao TSE a condenação de Bolsonaro, o que o tornaria inelegível por 8 anos. Para explicar o que vem pela frente nos tribunais, Julia Duailibi entrevista Flávia Maia, repórter em Brasília do Jota, plataforma especializada na cobertura do Judiciário, e Walber Abra, professor da Faculdade de Direito do Recife (UFPE), livre docente pela USP e advogado do PDT. Neste episódio:

  • Flavia descreve as acusações presentes nas 16 ações que tramitam no TSE contra o ex-presidente: abuso de poder político e econômico e uso indevido de meios de comunicação. E explica que, ainda que caiba recurso no STF, “já há ali uma convicção meio formada”;
  • Ela também comenta que o vazamento do parecer do MP Eleitoral é “sinal muito ruim para a defesa de Bolsonaro”. A expectativa era para o julgamento ser realizado em maio, mas, lembra a jornalista, que a defesa do ex-presidente entrou com pedido para investigar o parecer vazado;
  • Walber justifica por que entrou com a ação contra o ex-presidente: “Foi um ataque à legislação e ao sistema eleitoral. E isso tudo é auto evidente”. E menciona que “é muito claro que Bolsonaro sabia” sobre a minuta do golpe encontrada na casa de seu ex-ministro da Justiça;
  • O advogado também falou sobre a posição do MP Eleitoral em relação ao general Braga Netto, candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro. “Agora, cabe ao TSE analisar se mantém seu posicionamento”, conclui.

Fonte: G1

Lula se encontra com presidente da China, Xi Jinping, nesta sexta

Lula e a comitiva brasileira participam de encontro ampliado com o presidente da China, Xi Jinping, e autoridades chinesas

Lula e a comitiva brasileira participam de encontro ampliado com o presidente da China, Xi Jinping, e autoridades chinesas (Foto: Planalto/Reprodução)

Lula e Xi Jinping estão reunidos em um encontro ampliado. Em seguida, terão uma conversa privada. Depois, haverá a assinatura de cerca de 20 acordos comerciais e de parceria entre os dois países e, mais tarde, um jantar. Por fim, o petista deve dar uma declaração à imprensa, na Embaixada Brasileira em Pequim.

Lula se encontra com Xi Jinping na China, nesta sexta-feira (14)

Na cerimônia de chegada, os dois presidentes e suas comitivas trocaram cumprimentos e caminharam juntos na Praça da Paz Celestial. Os hinos nacionais de Brasil e China foram tocados. Por volta das 5h50 no horário de Brasília (16h50 no horário local), as autoridades entraram no palácio para as demais agendas.

O presidente Lula se encontrou com o líder chinês Xi Jinping em Pequim, no início da manhã desta sexta-feira (14).

O presidente Lula se encontra com o líder chinês Xi Jinping em Pequim.

Durante uma reunião com o presidente da Assembleia Popular da China, Zhao Leji, Lula disse que a China tem sido uma “parceira preferencial do Brasil” nas relações comerciais e que busca junto ao país asiático equilibrar a geopolítica mundial.

“É com a China que a gente mantém o mais importante fluxo de comércio exterior. É com a China que nós tivemos a nossa maior balança comercial, e é junto com a China que nós temos tentado equilibrar a geopolítica mundial, discutindo os temas mais importantes.”

Lula durante encontro com o presidente da Assembleia Popular da China, Zhao Leji

O presidente Lula e a primeira-dama, Janja da Silva, participam de uma cerimônia em homenagem aos Heróis do Povo da China. O Brasil ofereceu uma coroa de flores, que foi colocada no monumento localizado na Praça da Paz Celestial.

Lula e Janja entregam coroa de flores em homenagem aos Heróis do Povo da China

Lula e Janja entregam coroa de flores em homenagem aos Heróis do Povo da China (Foto: TV Brasil)

Ao se encontrar com o presidente da Assembleia Popular Nacional da China, Zhao Leji, Lula afirmou que deseja “elevar o patamar da parceria estratégica entre nossos países, ampliar fluxos de comércio e, junto com a China, equilibrar a geopolítica mundial”.

Lula se encontra com Zhao Leji, no Grande Palácio do Povo
Fonte: G1