Prêmio Nobel da Mentira

Os bolsonaristas, a exemplo do chefe deles, são cultores da morte, propagadores do ódio, dinheiristas, sem escrúpulos e fascistas, mas, principalmente, mentirosos. São filhos e dependentes das histórias que criam e que passam como verdade para um bando de seguidores alienados, fanáticos e sem nenhuma capacidade de fazer qualquer análise crítica. É realmente feliz a comparação desse grupo com o gado no pasto, tangidos por um berrante.

Tenho dito que é muito difícil enfrentar, na política e na vida, pessoas sem o menor critério ético nas discussões. Quando o seu adversário faz uso contumaz da mentira e ousa dar ao fato falso um ar de verossímil, a hipótese de um debate sério e honesto se esvai completamente. Bolsonaro passou todo o seu governo amparado em fake news que constrangiam qualquer cidadão que tem vergonha na cara. Simples assim. Foram milhares de ataques aos fatos coordenados por um gabinete do ódio que, meticulosamente, distribuía inverdades com objetivo político.

Ele próprio é o resumo dessas histórias inventadas. Tendo sido um deputado federal por 28 anos, apresentou-se como um não político e alguém contra a política tradicional. Ele se dizia o novo e não teve pejo em investir numa imagem para arrebatar os incautos ávidos para serem tangidos.

No triste episódio desta guerra insana entre Israel e Palestina, mesmo com todo o horror das milhares de mortes de crianças, jovens civis, médicos, jornalistas e mulheres, os bolsonaristas querem se aproveitar da dor e da comoção pública para espalharem mentiras e posarem de heróis. Fracos de caráter, mesquinhos e canalhas. Surfam em fake news irresponsáveis que são espalhadas para demonstrar um lado humanista que, definitivamente, não existe nesses seres escatológicos.

Quando era Presidente da República, Bolsonaro foi peremptório ao se negar a dar assistência humanitária aos brasileiros na crise sanitária na China e na guerra da Ucrânia, só para citar dois exemplos. Desdenhou dos brasileiros de forma irônica e vulgar. De maneira sórdida, cruel. Na verdade, seguiu a mesma linha que assumiu no enfrentamento da pandemia no Brasil, quando ridicularizava a dor e o desespero dos que morriam sem ar. Também não esqueceremos o sadismo oficial em negar aos milhões de brasileiros o direito à vacina. Com ironia e sarcasmo, caçoava dos que falavam em nome da vida e da ciência.

 

Esse grupo, responsável pela política da mentira, quer agora assumir a paternidade no resgate dos brasileiros em Israel e na Faixa de Gaza. Após um encontro com o embaixador de Israel no Brasil, e ao ver o sucesso das negociações do governo Lula repatriando os brasileiros, o próprio Bolsonaro ligou para a CNN e disse que foi dele o sucesso da operação. E é seguido nas redes sociais pelos acéfalos Sérgio Camargo, Nikolas Ferreira, Carla Zambelli e outros que, há muito, perderam a noção do ridículo. Eles chegaram a propor que ele se candidate ao prêmio Nobel da Paz! Não há limites para a humilhação e para o deboche.

O fato objetivo é que o governo brasileiro conseguiu trazer mais de 1.450 brasileiros que estavam em Jerusalém, Israel. Foram mais de dez viagens humanitárias, sem nenhum custo para o cidadão que estava sendo salvo. O próprio avião presidencial ficou à disposição do plano de resgate em paz. No entanto, no meio insano e no mundo à parte da realidade, que é habitado pelos bolsonaristas bizarros, no qual a mentira é a única forma de comunicação, o herói da salvação dos brasileiros é o genocida ex-presidente. Alguns lunáticos permitem dividir a glória com o prefeito de Sorocaba, que disse que foi o responsável pelo envio do avião da presidência.

Difícil conviver com essa gentalha. Em qualquer debate tem que haver regras, ainda que mínimas, que possam dar um norte de seriedade, ética e respeito. Quando se enfrenta os bárbaros, para eles, esses são conceitos líquidos que nunca poderão ser sequer levados em conta. É a mentira o mais forte mantra. E nós temos que nos afastar dessas baixarias, pois, se usarmos os meios da barbárie, mesmo para combatê-la, eles terão vencido, porque estaremos nos rebaixando e nos igualando a eles.

Remeto-me a Clarice Lispector:

“O pior de mentir é que cria falsa verdade. (Não, não é tão óbvio como parece, não é truísmo; sei que estou dizendo uma coisa e que apenas não sei dizê-la do modo certo, aliás o que me irrita é que tudo tem de ser “do modo certo”, imposição muito limitadora.) O que é mesmo que eu estava tentando pensar? Talvez isso: se a mentira fosse apenas a negação da verdade, então este seria um dos modos (negativos) de dizer a verdade. Mas a mentira pior é a mentira “criadora”.”

Fonte: ig último segundo

A ética do promotor

Das profissões do direito, talvez a mais “incompreendida” seja a do promotor de justiça. Pelos jurisdicionados em geral, pelos acusados em especial e mesmo pelos próprios membros do Ministério Público, que, em alguns casos, confundem a fiscalização da ordem jurídica ou a busca pela Justiça com algo que mais parece com o Terror de tempos inquisitoriais.

A literatura, o cinema e as séries de TV têm algo – ou muito – a nos ensinar sobre a ética dos membros do Ministério Público.

Com exemplos positivos, como no caso do procurador Granville, de “Um caso tenebroso” (1841), romance policial, de espionagem e também político (sobre a Era Napoleônica) de Honoré de Balzac (1799-1850). Abrindo “um espaço positivo para a lei”, o procurador Granville, que não se deixa enganar pelos corruptores da justiça, encarna a nobreza da profissão do direito.

Mas é com exemplos, digamos, não muito recomendáveis de promotores de justiça, tanto da literatura como da TV, que quero aqui deixar o meu recado.

Foco na obra de Friedrich Dürrenmatt (1921-1990), escritor suíço de língua alemã cujas peças (assim como os romances), à moda de um Bertolt Brecht, embora mais desmascarador do que didático, visavam menos o entretenimento da plateia/leitor e mais fomentar o debate público sobre temas fundamentais. Eram denúncias. “Está escrito” (“Es steht geschrieben”, 1947), “Rômulo, o Grande” (“Romulus der Grosse”, 1950), “A Visita da Velha Senhora” (“Der Besuch der alten Dame”, 1956) e “Os físicos” (“Die Physiker”, 1962) são títulos bem conhecidos.

Entretanto, para nós, profissionais do direito, provavelmente a mais interessante obra de Dürrenmatt seja “O Casamento do Senhor Mississippi” (“Die Ehe des Herrn Mississippi, 1952). Como registra Otto Maria Carpeaux (em “A história concisa da literatura alemã”, Faro Editorial, 2013), o louco promotor público dessa peça, “que manda centenas de sujeitos à forca para moralizar a vida pública, é personagem tipicamente expressionista”. É, assim, peça de pleno desmascaramento. Pondo de lado as relações pessoais entre as personagens, a peça tem como centro o radicalismo do promotor Mississippi, que se acredita um lutador pela “justiça do céu”. Ele internalizou de uma maneira muito peculiar os ditames da Bíblia, especialmente as chamadas “Leis de Moisés”. Convidado a simpatizar com a “esquerda”, ele refuga. É infenso a qualquer moderação. Após uma revolta popular abortada, ele vai para um manicômio. De lá foge. Num ritual macabro de envenenamento recíproco, Mississippi morre ainda na crença de que o homem pode ser mudado por punições inumanas. Ao final, na peça, as personagens retornam à ribalta e fazem um balanço dos acontecimentos.

“O Casamento do Senhor Mississippi” nos lembra bastante “O Alienista” (1882), do nosso Machado de Assis (1839-1908), cujo protagonista da confusão é o médico psiquiatra Simão Bacamarte, o dono da Casa Verde, o seu próprio manicômio, até porque acabou internado lá. Mas quero aqui sobretudo enfatizar uma observação de Otto Maria Carpeaux sobre o teatro expressionista/fantástico de Duerrenmatt: ele “denuncia o absurdo na atualidade, que lhe garante sucesso universal”. Desmascara tragédias. Mas “o que parece tragédia, no mundo de hoje, é na verdade uma farsa, apenas de desfecho trágico”. Vimos isso entre nós, não vimos?

No mais, vou encerrar minhas palavras com a recordação de um episódio da clássica série “Jornada nas estrelas” (Star Trek, no original), que assisti faz um bocado de anos. Algomais do que útil, arrisco que fundamental, em minha profissão de “acusador”, que já nos havia sido historicamente mostradapela face mais triste da Revolução Francesa: não confundir Justiça com Terror; não confundir Salomão com Robbespierre. E foi assim que, ao final de um episódio, em que uma punição é buscada a qualquer preço, que o capitão da Enterprise, Jean-Luc Picard, disse aos seus companheiros de jornada: é fácil identificar o bandido que enrola o bigode; difícil é identificar aquele que, sob uma falsa aparência de Justiça, em verdade faz Terror.

Marcelo Alves Dias de Souza

Procurador Regional da República

Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL

Membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras – ANRL

O Secretário de Habitação, Rogério Santiago, busca seu segundo mandato na eleição de 2024.

Não é novidade que Rogério Santiago irá participar da disputa política em 2024, e ele busca o seu segundo mandato na próxima eleição.

A atuação e ilustre trabalho do Secretário, por meio da Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária do Município de Parnamirim/RN, vem sendo evidenciado cada dia mais. Esse protagonismo não é de hoje, a sua carreira nos órgãos públicos lhes trouxeram grandes destaques e aprendizados.

“Em toda minha carreira, me empenhei para beneficiar a população parnamirinense, e pretendo continuar esse belíssimo trabalho”, disse Rogério

Onda de calor ganha força no Sudeste e no Centro-Oeste; previsão é de temperaturas mais altas na próxima semana

A onda de calor que se instalou no Brasil deve ganhar força a partir do fim de semana, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). As temperaturas devem ficar pelo menos 5ºC acima da média em boa parte dos estados das regiões Sudeste e Centro-Oeste.

De acordo com a meteorologista do Climatempo, Maria Clara Sassaki, a expectativa é de que o próximo domingo (13) seja ainda mais quente. As projeções mais recentes apontam que o pico da atual onda de calor deve acontecer no fim da próxima semana, com temperaturas ultrapassando a marca de 44ºC em algumas cidades do Centro-Oeste.

O Inmet emitiu um alerta de perigo para cinco estados por conta da onda de calor. O fenômeno deve atingir de forma mais intensa São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, além do Distrito Federal.

🌡️As marcas registradas pelos termômetros no Brasil seguem elevadas já a partir desta sexta-feira (10). A temperatura máxima deve ficar próxima de 40 °C em boa parte do Triângulo Mineiro, interior paulista e sul de Goiás. O Espírito Santo também deve registrar calor intenso.

Frente fria ameniza temperaturas em São Paulo

 

Uma frente fria vinda do Sul do Brasil deve amenizar as temperaturas em São Paulo nessa sexta. Segundo a meteorologista, apesar do alívio, a mudança não é suficiente para quebrar a sequência de dias quentes.

“Essa frente fria vai passar bem afastada no oceano, então não é forte o suficiente para provocar temporais em São Paulo, iguais aos da semana passada”, explica Maria Clara Sassaki.

 

El Niño deve durar ao menos até abril de 2024, aponta Organização Meteorológica Mundial

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Ela comenta que, apesar desse cenário, não é possível descartar uma chuva pontualmente forte, por causa da combinação do calor intenso com a umidade na região. Mesmo com a frente fria, os termômetros podem chegar aos 30°C em São Paulo.

Chuvas no Sul do Brasil

 

No Sul, a frente fria que parte para o oceano, combinada a uma área de baixa pressão no Paraguai, deve provocar chuvas ao longo de todo o fim de semana.

O Inmet também emitiu um alerta de previsão de tempestade para a região sul do Rio Grande do Sul. O acumulado de chuva pode chegar a 50 milímetros nas próximas 24 horas, com ventos de 60 km/h e queda de granizo.

Inmet alerta para a previsão de tempestades no Sul do Brasil. — Foto: INMET

Pancadas de chuva são esperadas para toda a região Sul do país. No leste do Paraná e de Santa Catarina, a previsão é de chuvas mais isoladas, com períodos de sol.

As áreas de instabilidade devem se intensificar ao logo do sábado (11), gerando temporais em boa parte da região, em especial no litoral sul do Rio Grande do Sul.

Fonte: G1

“FLITABIRA: UMA FLOR NASCEU NA RUA, ROMPEU O ASFALTO”, POR KAKAY

Em um momento denso e doloroso, com as bombas em Gaza matando, indistinta e covardemente, crianças, mulheres, idosos, jornalistas e médicos, a crueza da guerra provocou certo colapso em boa parte das pessoas que teimam em trazer dentro delas algum vestígio de humanidade. É muito difícil acompanhar esse verdadeiro massacre sabendo que, infelizmente, nada podemos fazer de efetivo para o cessar-fogo.

A ordem de destruição já foi dada e não há nenhum organismo internacional, ou país, que tenha força e credibilidade para se impor. Nem sequer corredores humanitários, ou a retirada de civis da área do genocídio, ou mesmo uma trégua nos bombardeios para tentar a diminuição da matança desenfreada; nada, absolutamente nada, parece falar aos corações dos senhores da guerra. Ódio. Vingança. Poder. Dinheiro.

Reconheço que, em época de mídia 24 horas, as imagens, especialmente as de crianças dilaceradas e mortas em valas comuns, causam uma desestrutura emocional que abala nossa confiança na humanidade. Se eu, que estou em casa e posso desligar a TV quando acho que o barulho dos mísseis já passou dos limites, sinto esse desconforto, imagine a mãe ou o pai que estão com os filhos já sem vida nos braços ou soterrados. Sem contar a fome, a falta de água e a ausência de assistência médica e humanitária.

Pense nos efeitos deletérios eternos nessas crianças que estão vendo a morte ser banalizada, mas que têm que se esconder das bombas reais que caem como aquela chuva de prata dos fogos de artifício no réveillon de Copacabana. Só que, lá em Gaza, os brilhos dos mísseis que iluminam a noite significam um encontro com a dor, com a destruição e com a morte quando o clarão toca o chão.

De tanto acompanhar essa tragédia ao vivo, ainda que pela TV e pelos grupos de whatsapp, sinto um profundo incômodo com a imobilidade covarde que parece nos manter reféns da perplexidade e da completa inoperância. Como se não bastasse a ausência de qualquer ação, ainda resolvi fugir. Saí do mundo do dia a dia insano, onde as notícias parecem correr atrás de nós, e refugiei-me no Festival Literário de Itabira.

“Arte, Literatura e Correspondências” em homenagem aos 121 anos de nascimento do itabirano Carlos Drummond de Andrade. De quebra, o festival foi palco da entrega do troféu Juca Pato para a maravilhosa Conceição Evaristo. Sob a batuta do mágico Afonso Borges, dividimos palcos com grandes escritores, poetas, violeiros e sonhadores iluministas. Permitimo-nos mergulhar nas conversas digitalizadas de Drummond com o maior artista brasileiro, Cândido Portinari, que também era um grande poeta. A tecnologia e a inteligência humana conseguiram fazer Drummond conversar com Portinari, mas não conseguem um diálogo para colocar um fim na guerra.

O clima de emoção e de cumplicidade, que nos acolheu a todos nesses intensos dias, parecia vir além do sentimento do mundo que era compartilhado e da paixão pela literatura que nos unia. Era tal a alegria que contagiava e abraçava a todos, que pude sentir como se uma nuvem densa nos embalasse, protegesse-nos e nos acariciasse. Uma poesia solta no ar, quase palpável, e sorrisos incontidos, como se lá fora não houvesse guerra.

Dançamos todos no ritmo cadenciado, sensual e irresistível de Eliana Alves, Lívia Sant’Anna Vaz e Conceição Evaristo. E, ainda, embalamo-nos no Festival de Viola Caipira. Por alguns dias, não escutei o barulho das bombas e vivenciei uma resistência poética. Foi lá que Krenak sentenciou que o planeta Terra é nosso domicílio e que Jeferson Tenório debateu o exílio e a escravidão.

Talvez, a tristeza e a dor, nossas companheiras nos últimos tempos, tenham sido o tempero para tanta emoção e acolhimento. Saio de Itabira revigorado e levando comigo cada momento de puro carinho, até de amor mesmo, para fortalecer o enfrentamento da barbárie. E com profunda perplexidade e tristeza por não entender como é possível viver a magia de um festival literário, como o de Itabira, enquanto tanta gente se dedica ao culto da morte.

A poesia, a literatura, a arte, a música e a amizade continuam sendo nosso último refúgio. Ainda com Drummond, no poema Canção de Berço:

“Também a vida é sem importância.

Os homens não me repetem nem eu me prolongo até eles. A vida é tênue, tênue.

O grito mais alto ainda é suspiro,

os oceanos calaram-se há muito.”

Fonte:flitabira.com.br

Quem não tem cão, caça como gato

Padre João Medeiros Filho

Outro dia, Dom João dos Santos Cardoso, nosso arcebispo metropolitano, esteve na granja da Arquidiocese (onde moram eclesiásticos eméritos), trazendo seus cãezinhos de estimação para passear. Tenho em casa um gatinho muito mimoso. Vendo os animais soltos, pulando e correndo, lembrei-me da máxima supracitada e senti vontade de escrever sobre ela. Gosto de cultivar ditados e aforismos transmitidos ao longo dos séculos. Algo semelhante encontra-se na Sagrada Escritura, notadamente nos Livros dos Provérbios e da Sabedoria. Exegetasantigos e modernos afirmam que Cristo fez uso desse estilo literário, em suas parábolas e alegorias. Os axiomas e expressões populares constituem uma parte importante da cultura de cada nação. Apresentam metáforas éticas, sociais e religiosas. É uma incógnita a origem desse patrimônio e riqueza imaterial.

Segundo o antropólogo norte-rio-grandense Luís da Câmara Cascudo, “ao longo de toda a história da humanidade, os axiomas e adágios sempre estiveram presentes na alma do povo.” Por seu conteúdo e qualidade sapiencial, revestem-se de grande importância para o convívio social. Nesse campo, o Brasil é detentor de um expressivo legado, herança de nossos ancestrais lusitanos eoutras matrizes culturais. De acordo com o eminentepesquisador potiguar, “o provérbio [em tela] tornou-se conhecido no Brasil, após a invasão holandesa, na segunda metade do século XVII.” A partir de então, começou a ser citado na tentativa de reanimar a população espoliada. O renomado folclorista alagoano Théo Brandão partilha dessa mesma assertiva.

Desde priscas eras, pessoas abastadas escolhiam cãespara acompanhá-las em suas caçadas. Até hoje, em razão de seu porte, fidelidade, velocidade e excelência no farejar são treinados para detectar objetos, identificar e protegerpessoas. A máxima, aqui referenciada, difere da versãoescrita em alguns livros: quem não tem cão, caça com gato. Grande parte dos estudiosos afirma que a variante usada no caput deste artigo é mais antiga. Entretanto, as mensagens se equiparam. Trata-se de aceitar as limitações e circunstâncias. Quando não se pode agir com a ajuda de um cão, deve-se adotar a estratégia do gato, que é solertepara alcançar os seus objetivos. Diante da falta de melhores recursos e oportunidades, é preciso encontrar alternativas para se atingir os fins almejados. Há coerência e lógica na lição que se pretende transmitir. Assim sendo, quem não tem cão para perseguir a eventual presa, deverá caçar inteligentemente, à maneira de um gato. Cristo aconselha em situação de adversidade “primeiro sentar-see calcular” (Lc 14, 31). Recomenda prudência, objetividade e imaginação, antes de agir.

O provérbio mostra a necessidade de ser criativo em situações desafiadoras. Na inexistência de meios adequados para resolver determinados problemas, é misterser engenhoso para encontrar outras maneiras de conseguiros fins propostos. Em vez de lamentar, cruzar os braços e tornar-se refém dos obstáculos, urge buscar saídas honrosas e inovadoras. Convém lembrar que nem sempre a solução mais óbvia é a melhor. Deve-se ter lucidez para encontrar opções. Ao narrar a história de Esaú e Jacó, o Livro do Gênesis (Gn 25-26) refere-se à perspicácia, uma das nuances do anexim, que intitula este texto. O adágio em questão se presta a diversas interpretações e mensagens. Existe quem o considere uma crítica à falta de planejamento e organização, quando indivíduos ou instituições se veem obrigados a improvisar. Na prática, a frase pode ser aplicada em diferentes situações, ensejando a procura de respostas às dificuldades.

O que dizer da postura dos cães e gatos? Machado de Assis escreveu: “Deve-se aprender com os gatinhos que pelo faro conhecem seus verdadeiros amigos. Não sabem falar, mas os acompanham em silêncio.” Certa vez, Marilyn Monroe desabafou aos jornalistas: “Os cães nunca me morderam nem me traem. São os humanos que me ferem no corpo e na alma.” A versatilidade, dedicação, fidelidade e prontidão dos caninos ou felinos impressionam e levam-nos a pensar sobre alguns atributos divinos. Diz o Livro dos Números: “Deus não é o homem para que minta, nem o filho do homem para que se arrependa. Acaso diz alguma coisa e não o faz?  Promete e não o cumpre?” (Nm 23, 19).