Brasília — O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, anunciou que o governo vai adotar um novo modelo de monitoramento do desmatamento no país, após a equipe do presidente da República, Jair Bolsonaro, contestar dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe) com base no sistema Deter.
O novo sistema, de acordo com o ministro, terá imagens de satélite em alta resolução feitas em tempo real e sem o que identificou como “lapso temporal” no atual modelo.
O ministro afirmou que o serviço alertou em junho ocorrências de desmatamento que, na verdade, teriam acontecido em período anteriores, e não naquele mês.
“Não estamos aqui para negar números e nem justificar coisas que tenham sido feitas de maneira ilegal”, disse o ministro, reforçando que o desmatamento na Amazônia vem aumentando desde 2012.
Diretor do Inpe
Bolsonaro levantou dúvidas sobre a atuação do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão. Em coletiva de imprensa, Bolsonaro disse que “pode tomar uma decisão mais drástica” em relação ao diretor por causa da divulgação supostamente equivocada de dados sobre o desmatamento no País. Galvão tem mandato até 2020.
“Se quebrar confiança vai ser demitido sumariamente, não tem desculpa para nenhum subordinado ao governo divulgar dado com esse peso de importância para o nosso Brasil. A questão de perdeu a confiança, no meu entender é uma pena capital. Nem na vida particular convivemos com pessoas que perdemos confiança. Temos muita responsabilidade em identificar se houve má fé ou não”, disse Bolsonaro.
O presidente convocou uma coletiva de imprensa na tarde desta quinta-feira para tentar esclarecer o aumento de 88% no desmatamento na Amazônia em junho comparado ao mesmo mês no ano passado, detectado pelo Inpe. O número teve forte reação negativa no exterior. “A fama do Brasil e a minha é péssima lá fora tendo em vista os rótulos que foram colocados”, avaliou o presidente.
O governo apontou supostas falhas no Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real (Deter), usado pelo Inpe, que teria contabilizado dados de meses anteriores em junho de 2019, contaminando o resultado. Também alegam que pode ter havido sobreposição de áreas desmatadas que já foram contabilizadas anteriormente. Não foi apresentado qual teria sido efetivamente o porcentual de aumento no período.
“Essas pessoas que estão na frente desses órgãos, lamento que alguns tenham mandato, não sei se o do Inpe tem mandato, a gente pode tomar uma decisão mais drástica no tocante a isso aí porque o estrago é muito grande”, disse Bolsonaro.
Para o presidente, “é muito estranho” que os dados tenham sido divulgados dessa forma “no momento em que o Brasil “dá sinais claros de melhora na economia” e que “o estrago já está feito fora do Brasil”. “A pessoa que passou informação no mínimo duvidosa para vocês (jornalistas) tem que ser responsabilizada, sim. O Brasil não tem mais espaço para grupos fazerem política e defenderem os próprios interesses.”
Ele considera que a divulgação teve objetivo de “atingir” o nome do Brasil e o seu governo. “Qualquer pessoa, mesmo leiga, um simples cidadão que vê que a conta de energia dobrou de um mês para outro pensa que tem alguma coisa errada”, afirmou. “Não queremos abafar nem deixar de divulgar nada, mas no meu entendimento não houve responsabilidade necessária para divulgar um número como esse.”
Alarde
O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, disse que dados sobre aumento do desmatamento no País “prejudicam muito a imagem do Brasil”. Ele participou de coletiva de imprensa com o presidente Jair Bolsonaro. Na conversa com jornalistas, Heleno disse que mesmo se os dados fossem corretos, o que contesta, não deveria ser “alardeados”.
“Se fossem dados corretos, era preocupante, seria conveniente se não alardeássemos isso, cuidássemos internamente. Sendo dados falsos, é muito preocupante porque nos coloca como grande destruidor do meio ambiente. É uma imagem que fica muito difícil de resgatar”, afirmou Heleno.
O ministro do GSI afirmou que é muito fácil países menores dizerem que conseguem fazer fiscalização de áreas preservadas do que um país com as dimensões do Brasil. Segundo ele, a principal área desmatada na Amazônia fica na região central e leste do Pará.
Também defendeu que os povos brasileiros que vivem na Amazônia precisam ter mais atenção e participar do País “de acordo com o nível civilizatório do século 21”. “Os povos da floresta partem para o ilícito porque não têm o apoio correto”, avaliou.
(Estadão)