O poder não fica órfão, ele sempre será exercido por algum ator político e, às vezes, aquele que tem a legitimidade do voto, portanto, o “poder de direito”, não consegue efetivá-lo em “poder de fato”. O presidente Jair Bolsonaro tem tido dificuldade para governar, para dar um norte a seu governo. Pior, ainda, tem sido o relacionamento de Bolsonaro e até de um dos de seus filhos com Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados. Sabidamente um tema impopular, a reforma da Previdência não tem em Bolsonaro um ferrenho defensor. Maia afirmou – corretamente – que seu papel não é fazer a articulação política do governo e, também, de que, ao jogar no colo do Parlamento a responsabilidade da reforma, Bolsonaro quer o bônus, caso seja aprovada, mas não quer o ônus que há no bojo dela.
Nesta terça-feira, 26, a Câmara aprovou uma PEC que engessa parcela substancial do orçamento e torna obrigatório o pagamento de despesas hoje passíveis de adiamento, como, por exemplo, emendas das bancadas parlamentares e investimentos em obras. Uma derrota para o governo e recado: falta articulação política e o tratamento dispensado aos deputados, quase todos classificados como da “velha política”, gera problemas e atritos entre os poderes Executivo e Legislativo. Nem mesmo o partido do governo, o PSL, entendeu o que estava acontecendo. Maia surfou numa onda que não foi gerada por ele. Quem, efetivamente, traz dificuldades ao governo Bolsonaro é o próprio governo Bolsonaro. Simples. Os ataques à “velha política” pelo presidente da República e os seus, bem como os bolsonaristas nas redes sociais, têm conseguido a proeza de reunir, indignados, partidos à esquerda, ao centro e à direita, contrários ao tratamento governamental.
No tabuleiro da política institucional, Maia e os deputados encurralaram o Planalto. Ou Bolsonaro começa a dialogar e deixa de falar para os já convertidos (bolsonaristas nas redes sociais) ou outras pautas-bomba, num “pacote de maldades”, virão em breve. O poder não fica órfão.
Estadão.