Padre João Medeiros Filho
No dia 21 de novembro, celebra-se a festividade da Apresentação de Nossa Senhora, um dos eventos da vida da Mãe de Deus, em que Ela é levada ao Templo por seus pais Joaquim e Ana. A Sagrada Escritura não relata este acontecimento, chegado até nós através dos evangelhos apócrifos. Na Igreja Oriental, desde o século VII, a festa é comemorada no dia 21 de novembro, aniversário da Dedicação da Igreja de Santa Maria Nova, em Jerusalém. Contudo, na Igreja Ocidental, a solenidade litúrgica foi instituída pelo Papa Gregório XI (século XIV), por solicitação do embaixador de Chipre junto à Santa Sé. Em 1372, na cidade de Avignon – à época, residência oficial dos papas – já se festejava oficialmente a apresentação de Nossa Senhora. Desde então, este momento da vida de Maria Santíssima começou a despertar interesse nos cristãos e artistas plásticos. Surgem, então, belíssimas pinturas sobre o tema.
A primeira paróquia brasileira dedicada a essa invocação mariana ocorreu em 1599, na cidade do Natal (RN). Segundo o relato de Frei Agostinho de Santa Maria: “Ali, na capela-mor, foi colocada uma grande e formosa pintura representando a sagrada Menina, sendo levada ao Templo de Jerusalém por seus pais Joaquim e Ana”. Em 1644, no Bairro de Irajá (Rio de Janeiro), foi construída uma capela com o orago da Apresentação pelo Padre Gaspar da Costa, o qual se tornou posteriormente seu primeiro pároco. A igreja foi elevada à categoria de matriz por alvará de Dom João IV, em 10 de fevereiro de 1647. Trata-se da segunda paróquia em honra de Nossa Senhora da Apresentação. Em 1675, na cidade de Porto Calvo (AL), uma terceira freguezia canônica é erigida com o mesmo título.
Os mariologistas afirmam que o culto à Mãe do Salvador remonta às origens da Igreja. Ao longo dos anos, explicitam-se, pouco a pouco, as virtudes de Maria, descritas no Novo Testamento. Nas comunidades primitivas, essa devoção inseria-se no contexto das celebrações dos mistérios de Cristo. Foi justamente d’Ele que a Virgem hauriu a sua grandeza. Nos primórdios do cristianismo, há uma preocupação dos papas, bispos, padres e cristãos em não dissociar a pessoa e a missão da Virgem Santíssima de seu Filho. O culto à Mãe de Deus tem suas raízes na mensagem do Evangelho. É tão antigo quanto o cristianismo. Após a Ascensão de Jesus, os apóstolos e a primeira comunidade cristã reuniram-se em torno de Maria (At 1,12-14). Com o anúncio do Evangelho, a veneração mariana se difundiu pelo mundo, pois também Nossa Senhora faz parte dele. “Na Igreja, Maria ocupa o lugar mais alto depois de Cristo e o mais perto de nós.” (Lumen Gentium, 54). E o Papa Paulo VI cita São Cromácio (347-407), bispo de Aquiléia (Itália), quando afirmara: “Não se pode falar de Igreja, senão quando estiver aí a Mãe do Senhor.” (cf. Marialis Cultus, nº 28).
A Igreja dos primeiros séculos sempre apresentou aos cristãos a figura da Corredentora da humanidade. A tradição e as descobertas realizadas por arqueólogos atestam que a liturgia cristã comemora a Virgem Santíssima, desde os tempos apostólicos. O fato é testemunhado por toscas representações artísticas de Nossa Senhora, encontradas nas catacumbas romanas e em monumentos que remontam ao início do cristianismo.
Em Maria reside a alegre certeza de que fomos por Ela levados à união com Deus. Na pureza da Mãe de Jesus, o Eterno se faz presente na criatura humana. Nela a riqueza celestial se humaniza. Em sua pessoa a maravilha divina torna-se acessível aos pecadores; a ternura celeste disponível aos mortais; a suprema Bondade de Deus, revelada aos pequenos e imperfeitos. Inegavelmente, Ela espelha a face infinita do Divino, manifestada aos que Nele creem e esperam. Na Virgem de Nazaré a pequenez humana transforma-se em grandeza pela graça divina. “Penhor seguro do Sumo Bem”, ela é a poesia do Céu para o prosaico da terra! Simboliza a saudade de nossas origens e a fé na misericórdia do Pai, que supera a nossa fraqueza. “Ora pro nobis, Sancta Dei Genitrix”, nestes tempos conturbados e difíceis!