“É preciso que haja algum respeito, ao menos um esboço ou a dignidade humana se firmará a machadada.”
Torquato Neto, poema do Aviso Final
Depois de 4 anos de governo Bolsonaro, de instabilidade política, econômica e nas relações entre as pessoas, o Brasil entra, aos poucos, numa normalidade democrática. Ainda não saímos totalmente do risco de ruptura institucional, que foi a tentativa de golpe, cuja parte mais visível se deu em 8 de janeiro de 2023. À época, os golpistas afirmaram, às claras, que, para fechar o STFbastariam um jipe e um cabo. Desprezaram as instituições democráticas, atacaram a ciência, ameaçaram o Judiciárioe cooptaram o Legislativo. Depredaram os avanços democráticos e pilharam o país em bilhões de reais. Assaltaram os cofres públicos. Delapidaram o erário. Roubaram o país.
Neste final de ano, podemos ver sinais de maturidade institucional. Ainda há muito o que fazer, especificamente responsabilizar criminalmente os líderes da intentona golpista. Mas é relevante anotar que já existem mais de 300 bolsonaristas condenados e presos, cumprindo as decisões do Supremo.
E, em meio a um inegável avanço social, mais de 10 milhões de brasileiros saíram da linha da fome. O enfrentamento ao golpe continua. Pela primeira vez na história do Brasil, um general 4 estrelas, que já ocupou altos cargos no governo, foi preso por ordem de um juiz não militar – o ministro do Supremo Tribunal é um juiznão militar – que determinou a custódia preventiva do general Braga Netto. A ordem foi cumprida sem levantar absolutamente nenhuma poeira. As Forças Armadas, ao cumprirem a Constituição, acatando a ordem judicial, saíram maiores e demonstraram que a Democracia está fortalecida.
Há muito ainda o que fazer. O Presidente Lula, para ganhar as eleições do fascista que estava no poder em 2022, teve que fazer um leque de apoio grande demais. Ou fazia um amplíssimo arco de alianças, ou a barbárie ganharia. Vencer uma reeleição presidencial enfrentando um presidente sem escrúpulos e disposto a assaltar a nação só seria possível dando espaço na disputa para alguns, vários, que jogavam com os pés nas duas canoas.
Muita gente desqualificada, e sem compromisso democrático, sentou lado a lado com os democratas. Ou era assim ou, sem dúvida, o fascismo colocaria o último prego no caixão da Democracia. É, como disse o Presidente Lula, em 12/12/2022, na minha casa, no dia da diplomação, ele só concorreu por saber que seria o único capaz de vencer o fascismo.
Ainda assim, com a perigosa e indigesta banda que pulou dentro do barco. Era a disputa entre a civilização e a barbárie. Foi preciso fazer concessões e, claro, o país e a governabilidade estão pagando por isso. Mas o episódio me lembra quando comentam com meu amigo, José Sarney, sobre o fato de ele estar fazendo 94 anos. Perguntam se não é ruim comemorar uma idade avançada. A resposta, com sabedoria: “ a outra opção era pior”.
É preciso ouvir Cecília Meireles: “Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira”.
Antônio Carlos de Almeida Castro, kakay
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