A festividade de Nossa Senhora da Apresentação

Padre João Medeiros Filho
Celebra-se no dia 21 de novembro a solenidade da Apresentação da Virgem Maria: o momento em que Ela foi levada ao Templo por seus pais Joaquim e Ana. A Sagrada Escritura não relata tal acontecimento, chegado até nós através dos evangelhos apócrifos. Este episódio da vida de Maria Santíssima começou a despertar o interesse dos cristãos e artistas plásticos, surgindo daí belíssimas pinturas ou afrescos sobre o tema. A Igreja dos primeiros séculos sempre apresentou aos cristãos a pessoa e a missão de Maria. A Tradição e as descobertas realizadas por estudiosos de arqueologia atestam que a liturgia cristã reverencia a Mãe de Deus, desde os tempos apostólicos. O fato é testemunhado pelas toscas representações artísticas de Nossa Senhora, encontradas nas catacumbas romanas ou em monumentos que remontam aos primórdios do cristianismo. No Ocidente, desde o século VII, comemora-se esta festa no dia 21 de novembro, aniversário da dedicação da Igreja de Santa Maria Nova, em Jerusalém. Contudo, foi criada oficialmente por Gregório XI. No entanto, em Avignon, os pontífices já celebravam a missa solene da Apresentação da Virgem.
No Brasil, a primeira paróquia dedicada a esta invocação mariana data de 1599, na cidade do Natal (RN). Segundo Frei Agostinho de Santa Maria, “ali, na capela-mor, foi colocada uma grande e formosa pintura representando a sagrada Menina sendo levada ao Templo de Jerusalém por seus pais”. Em 1644, no bairro de Irajá (Rio de Janeiro), foi erigida pelo Padre Gaspar da Costa uma capela sob a proteção da Virgem da Apresentação. Tornou-se matriz, em 10 de fevereiro de 1647, por alvará de Dom João IV. Trata-se da segunda paróquia brasileira consagrada a Nossa Senhora da Apresentação. Ainda no século XVII, uma terceira matriz é edificada em sua homenagem, na cidade de Porto Calvo (AL).
Os mariologistas afirmam que a devoção mariana remonta às origens da Igreja. Ao longo dos anos, explicitam-se paulatinamente as virtudes da Mãe celestial. Nas comunidades primitivas, inseria-se esse culto no contexto das celebrações dos mistérios de Cristo, pois foi justamente d’Ele que Maria hauriu a sua grandeza. A hiperdulia tem suas raízes no Evangelho, tão antiga quanto o cristianismo. Após a Ascensão do Senhor, os apóstolos e a primeira comunidade cristã reuniam-se em torno da Virgem (At 1,12-14). Com o anúncio da doutrina cristã, a veneração a Nossa Senhora se difundiu pelo mundo inteiro, pois Ela faz parte da mensagem de Jesus. “Maria, na Igreja, ocupa o lugar mais alto depois de Cristo e o mais perto de nós (Lumen Gentium, 54). O amor pela Igreja – declarou Paulo VI – traduzir-se-á em amor por Maria, e vice-versa, pois uma não pode subsistir sem a outra (Marialis Cultus, 28)”. E o Pontífice cita o bispo Cromácio de Aquiléia: “Não se pode falar de Igreja senão quando estiver aí Maria, Mãe do Senhor (Idem, ibidem)”.
Sendo Mãe de Deus em Cristo, Ela contempla o Pai eternamente com o seu olhar puro e maternal. Primeiramente, deve ser lembrado que Maria de Nazaré é nossa irmã – ser humano, como nós, filhos de Deus – e também é nossa Mãe, por livre vontade de seu Filho e sua (cf. Jo 19, 26-27). E sendo Mãe, colocar-nos-á em contato permanente com o Pai e o seu Filho dileto. Não se pode viver sem mãe espiritual. Eis a razão maior porque o Criador quis, pelo seu Filho amado, legar-nos um coração maternal, pleno de ternura e misericórdia, tradução terrena do divino, “rosto materno de Deus”, segundo os teólogos! Nossa Senhora também é filha da terra. E como nós, peregrinos, aspirou pela pátria definitiva, onde o reino de seu Filho é uma realidade. Sua ternura continua a se oferecer a cada um de nós. A Virgem Santíssima poderá atenuar as nossas saudades de Deus, pois também esperou por Aquele que seria capaz de trazer a vida e a paz. Privilegiada, teve o Salvador em seus braços. Ela sempre acalentar-nos-á nos momentos de desânimo com um afetuoso sorriso e um meigo olhar de Mãe para cada um nós.