A festa de Nossa Senhora Aparecida

Padre João Medeiros Filho

Há quem conteste o feriado nacional de 12 de outubro, alegando que o Brasil é um país laico. No entanto, existe uma diferença significativa, filosófica e teológica, entre laico (laicidade) e laicista (laicismo). Laico implica em não adotar uma religião como oficial (neutralidade). Não se identifica com ateísmo, inexistindo negação ou recusa de religiosidade. Laicista ou laicismo consiste na rejeição e intolerância ao religioso e sagrado. Não foi o laicismo a opção de nossos constituintes nem o que determina a nossa Carta Magna (Art. 19, I). Não falta quem se manifeste em prol de elementos culturais de matriz africana e indígena. É justo. Mas, alguns lutam para deletar o componente europeu cristão na formação do povo brasileiro. Não se deve defender outros matizes antropológicos-culturais e negar ou querer destruir heranças ocidentais que compõem a nação. É contraditório, parcial e intransigente.

A devoção à Mãe Celestial é uma das expressões de nossa cultura, manifestação histórica de nossa gente. As caravelas que aqui aportaram (quando do descobrimento) traziam uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, o mesmo orago da Virgem de Aparecida. Deve-se considerar o cristianismo patrimônio cultural, imaterial do Brasil. É inconcebível anular a história. Há liberdade para professar a fé cristã ou qualquer crença. Porém, a realidade histórica é inegável. Considerando tais fatos e em respeito às tradições de nosso povo, o Congresso Nacional aprovou a Lei 6802/80, instituindo o feriado nacional de 12 de outubro, festa litúrgica de Nossa Senhora Aparecida. A solenidade, além de uma comemoração católica, representa sobretudo um olhar retrospectivo da formação étnica da nação brasileira. Dela participa indissociavelmente o ancestral lusitano cristão.

Há trezentos e cinco anos venera-se Nossa Senhora Aparecida, à qual o Brasil foi consagrado. A aparição de sua imagem ocorreu nas águas do Rio Paraíba do Sul (SP). Segundo os registros do Livro de Tombo da Paróquia de Guaratinguetá, Domingos Garcia, João Alves e Filipe Pedroso foram ali pescar. Lançaram as redes e nelas veio uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, enegrecida pelo lodo e outros elementos existentes no rio. Tentavam encontrar peixes para a refeição do governador da Província de São Paulo e Minas Gerais, Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos, Conde de Assumar. Ele estava de passagem por aquela localidade, em direção ao território mineiro.

Dom Pedro I visitou por duas vezes Aparecida. A primeira, em 20/04/1822 e a segunda, quinze dias antes do Grito do Ipiranga para implorar bênçãos em favor de nossa pátria. Em 1868, a Princesa Isabel visitou o templo de Aparecida e ali fez um voto. Retornou em 6 de novembro de 1888 para agradecer à Mãe celestial a graça alcançada e a libertação dos escravos. Nessa ocasião, ofertou uma coroa de ouro cravejada de diamantes e rubis, bem como um manto azul ricamente ornado. Aos 8 de setembro de 1904, a imagem foi coroada com a joia doada pela Princesa do Brasil. Em 16 de julho de 1930, por determinação do Papa Pio XI, Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi proclamada Rainha e Padroeira do Brasil.

Nossa súplica dirige-se à Virgem Santíssima pela nação brasileira, da qual é patrona. Ao implorar sua assistência para a pátria, devemos estar dispostos a ser instrumentos daquilo que pedimos: uma sociedade unida, solidária e justa, sem ódio e radicalismo, sem exclusão e violência. Supliquemos a intercessão de Maria Santíssima para nos libertar de outros tipos de escravidão: consumismo, drogas, desigualdade social etc. Com a sua proteção não nos faltarão oportunidades de viver dignamente. Na mesma data, festeja-se o Dia das Crianças, futuro de nossa pátria. Roguemos por elas à Mãe do Céu, que embalou o Menino Jesus em seus braços. Maria simboliza o rosto materno de Deus, a riqueza celestial temporizada, a misericórdia estendida aos pecadores, pequenos, imperfeitos e injustiçados. Ela é a expressão da benevolência divina, “Onipotência suplicante”, segundo São Bernardo. “Bendita entre as mulheres” (Lc 1, 42), Ela é a nossa Compadecida, que não nos abandona nas estradas da vida. As palavras de Oswaldo Lamartine são sempre lembradas: “Maria Santíssima é o mais belo sorriso divino.” Oremos fervorosamente com os versos do seu hino Mãe amável, Mãe querida. Amparai-nos, socorrei-nos, ó Senhora Aparecida.”