Padre João Medeiros Filho
Atualmente, é bastante forte e comum a falta de respeito, tanto como a agressividade nas relações entre as pessoas. Há uma dificuldade ou inabilidade em saber conviver. Muitos sequer se apercebem disso. Um passeio pelas ruas das cidades é suficiente para presenciar flagrantes, que evidenciam a impressionante incapacidade de se desfrutar de uma vida social saudável. Parece que se abriu mão dos avanços positivos da civilização e, no tocante ao relacionamento humano, não raro tem-se a impressão de um retorno à idade da pedra. A deterioração das relações sociais chegou ao nível em que uma pessoa polida e urbana torna-se joia rara, suscitando por vezes desconfiança ou escárnio. Noções básicas de polidez e civilidade parecem ter sido esquecidas e abolidas. Gentileza assume ares de fraqueza, exibicionismo ou esnobação. O Papa Francisco afirmou em recente alocução: “As coisas estão se invertendo cada vez mais. O feminismo saudável está se transformando num machismo de saia, relegando a um segundo plano a grandeza da mulher e sindicalizando a dignidade feminina”. Para muitos, mostrar-se gentil denuncia insegurança e necessidade de aprovação social. A noção de coletividade e pertença a um meio – onde os direitos dos demais devem ser observados – virou uma metáfora risível. Ética tornou-se algo ultrapassado e sem espaço no mundo moderno. As pessoas ignoram o seu significado e a sua importância. O egoísmo, a grosseria, a intransigência, a intolerância, a impaciência e a arrogância passaram a dar o tom no dia-a-dia.
Tudo isso tem suas causas. As condições educacionais, o desprezo ou abandono da axiologia, a ausência da prática religiosa (seja qual for), como parâmetro de vida e a influência externa estão destruindo nossas tradições e hospitalidade. A educação tradicional foi substituída por uma perigosa permissividade. O que se vê hoje é a consequência natural dessa transformação conjugada à insanidade pela qual o mundo enveredou. Como pode se comportar um indivíduo criado sem limites e com pouco ou nenhum preparo emocional e psíquico? Chegando à vida adulta, encontrará uma sociedade altamente competitiva, escravizada pelo consumismo desenfreado, pela fome incontida do lucro, pela injustiça, corrupção, violência e por um culto mórbido à aparência, tanto física, quanto social. Vive-se no mundo do desrespeito, do ter, do poder e aparecer. Pode-se verificar isto nas deprimentes sessões do Parlamento Nacional. Ali, as regras comezinhas do conviver são ignoradas. O uso hipócrita das formas oficiais de tratamento, mesuras e rapapés não ofusca a degradação de certos parlamentares. Não se deve confundir autenticidade ou convicção ideológica com insultos, discordância de ideias com agressão ou destruição e bem-estar coletivo com projetos de pessoas ou partidos.
Muitos concordam que a educação permissiva fracassou e o antigo modelo autoritário também se revelou inadequado. Na verdade, o atual sistema educacional tem se mostrado pouco eficiente. A ênfase dada por algumas instituições de ensino é centrada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou o equivalente, como se o futuro do ser humano fosse apenas o mercado de trabalho ou a profissão. A escola prioriza a transmissão de muitas informações e subestima outros valores humanos, levando à fácil ideologização. O ensino superior propõe-se a preparar técnicos, esquecendo o cidadão, o futuro esposo e pai de família. Faltam líderes com exemplo e testemunho de vida. “É preciso humanizar o homem” insistia Jacques Maritain, em sua obra “O humanismo integral”. E Charles Chaplin reiterava: “Sois homens e não máquinas”. É urgente começar implementando noções claras de uma cordial convivência em sociedade. Isto pode soar aos ouvidos de vários como algo estapafúrdio. No entanto, é uma reivindicação imprescindível e inadiável. Não lograram grande êxito os métodos rígidos, excessos e lições de moral alienada. Tampouco cabem a permissividade e o laxismo. Mas é fundamental que reine o respeito entre todos. Porém, necessita-se fazer algo. O cristianismo tem a missão de melhorar ou aperfeiçoar o ser humano. Eis o que nos ensina a Sagrada Escritura: “Ninguém dentre vós agrida, desrespeite, desconsidere e oprima seu próximo. Somente Eu estou acima de vós e sou o vosso Deus” (Lv 25, 17).