Padre João Medeiros Filho
Segundo Albert Einstein, “é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.” Este consiste na opinião formada sobre algo ou alguém, antes de conhecer o objeto do juízo, sem fundamento lógico. Cristo testemunhoudiversos tipos de posturas preconceituosas. Os Evangelhose Atos dos Apóstolos relatam a diferença de tratamentodispensado aos seguidores do Mestre por parte de seus contemporâneos, pertencentes a movimentos religiosos. Antes de Jesus, já existia uma animosidade entre judeus e samaritanos (cf. João 4, 9). Os fariseus, escribas e hipócritas menosprezavam os discípulos do Senhor (cf. Mt 12, 3-6). Ele mesmo era desdenhado. “Ora, não é Ele o filho do carpinteiro?” (Mt 13, 55). Contra essa forma de relacionamento se insurgiu o apóstolo Paulo: “Não há mais judeu nem grego…, escravo nem livre, todos são iguais em Jesus Cristo (Gl 3, 28).
O preconceito fica abscôndito nos porões da política eciência, das etnias, culturas religiões etc. Em suas diferentes manifestações, leva ao desconhecimento da riqueza latente no outro. Ninguém é capaz de se renovar e aperfeiçoar sem diálogo e escuta serena do próximo. Não raro, a mídia denuncia condutas e situações, acentuadamente desiguais. Entretanto, tais iniciativascostumam ser seletivas, revestidas de carga ideológica edespidas do verdadeiro sentimento humanista.Providências legais e de cidadania acabam sendo diluídas, ignoradas e esquecidas.
Urge construir uma base sólida de humanismo, capaz de promover a adequada compreensão e o respeito ao semelhante. Assim, pode-se tocar no coração de cada indivíduo, a partir de um amplo processo educativo. Não se muda uma mentalidade apenas por leis e decretos. É preciso atingir o âmago da alma, convencendo de que somos feitos do mesmo barro. O Livro dos Provérbios já lembrava: “O rico e o pobre têm algo em comum: o Senhor é o criador de ambos” (Pv 22, 2). O cristianismo poderá oferecer fundamentos essenciais de humanidade. O Sermão da Montanha contém uma interpelação sempre atual, conclamando contra as ofensas ao semelhante. Jesusorienta a não faltar com o respeito devido à dignidade da pessoa. Mas, por fragilidade emocional, soberba e apegoàs próprias convicções, o ser humano despreza as lições do Evangelho. Esquece o que ali se ensina: “Tudo, pois, quanto quereis que os outros vos façam, fazei, vós também a eles” (Mt 7, 12).
O ser humano deve revestir-se de uma espiritualidademarcada de solidariedade e busca interior. “Só se vê bem com o coração”, afirmava Exupéry. O preconceito nasce da visão negativa e presunçosa sobre pessoas, situações e instituições. O cristianismo é luz, podendo contribuir para debelar atitudes intolerantes. Traz um conjunto de indicações que, se devidamente acolhidas, poderão mudarsentimentos perversos. É salutar a recomendação do apóstolo Paulo: “Não te deixes vencer pelo mal, vence antes o mal com o bem” (Rm 12, 21). Trata-se de um princípio basilar para neutralizar palavras e gestosdiscriminatórios. A orientação paulina abre um fecundo itinerário para enfrentar concepções e visões distorcidas.Assim, ao invés de excluir e marginalizar, priorizam-se o bem-estar e a paz do semelhante, mormente daqueles que carregam o peso da rejeição.
Os postulados cristãos têm força para romper o círculo vicioso que aprisiona a sociedade em uma convivência ilusória, injusta e com dinâmicas excludentes.Na visão do cristianismo, o preconceito é diabólicoteologicamente. Segundo os exegetas, o diabo é tudo aquilo que divide e exclui. Os gestos de aversão serão vencidos com o amor fraterno, como antídoto para discriminações de diferentes matizes. A lógica cristã não pode ser emaranhada e engolida por relativizações. Assim, a mensagem de Cristo cumprirá seu papel profético, capaz de levar a sociedade a mudanças. É fundamental assimilaros ensinamentos éticos e bíblicos, capazes de inspirar a renovação do tecido sociopolítico do Brasil, permitindo ao país livrar-se de uma convivência eivada de divisões e radicalismo. O preconceito é fruto da arrogância, jápresente em Eva e Adão, sequiosos de superioridade. O apóstolo Pedro definiu a visão cristã: “Deus não faz distinção de pessoas. Ao contrário, aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença” (At 10, 34).