Padre João Medeiros Filho
Domingo passado, teve início a celebração do tempo litúrgico do Advento. Este é aspiração de um mundo de paz, fraternidade, desejo profundo de unidade e esperança da presença de Deus no meio de nós, que se concretiza pela fé na realidade do Natal. No entanto, o Salvador ainda continua ausente no coração dos homens. Advento é tempo de espera, ensina-nos a Igreja. E esperar alguém requer cuidadosa e alegre preparação. Deste modo, deve-se aguçar a sensibilidade para descobrir os inúmeros sinais da manifestação divina. Convém intensificar o desejo de felicidade, relações mais fraternas e duradouras num Brasil que se digladia e vai se destruindo pelo ódio, radicalismo, ganância, disputa do poder, egoísmo e práticas antiéticas.
Celebrar o Advento é procurar superar o pessimismo e o desencanto que grassam nesta sociedade dita moderna. Viver o Advento é empenhar-se para transformá-la numa casa de irmãos e não de inimigos. Desta forma, a celebração histórica, torna-se ideal de vida e sonho humano. Festejá-lo é acreditar na força escondida da vida, que continuamente está para nascer. É a certeza de que Deus não abandona o homem, pois é sempre luz para o seu caminho.
Porém, Cristo não é o messias que muitos esperavam. Em lugar de castigar, cura; de condenar, devolve a vida; de julgar, ama e perdoa. Por isso, passa-se a entender os motivos pelos quais Ele afirma: “E bem-aventurado quem não se escandaliza por causa de mim” (Mt 11, 6). João Batista – apesar de saber que Ele era o Messias e Filho de Deus – torna-se o intérprete de seus interlocutores, procurando ouvir de Cristo: “És tu aquele que há de vir?” (Mt 11, 3). E Jesus não se perde nem se detém em teorias e definições. Será reconhecido a partir de gestos concretos. Os cegos recuperam a vista, os surdos ouvem, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, tudo obra do sublime amor de Deus.
O Homem de Nazaré apresenta-se como esperança e alegria para o mundo do seu tempo. Seus contemporâneos não eram diferentes de nós. Havia a violência, a fome, a corrupção, a exploração e o desânimo. Jesus veio mostrar o caminho da libertação e paz. Quando viveu entre os homens, a tristeza se apoderava dos habitantes de sua terra. Entende-se, assim, o sentido das palavras do anjo na noite santa: “Eu vos anuncio uma grande alegria que será também a de todo povo” (Lc 2, 10). Também hoje, o mundo vive carente de alegria. A solidão e a tristeza são males marcantes deste século. A incerteza, o desânimo, o temor povoam o coração dos brasileiros. Jesus veio como resposta a tudo isso. E o profeta Isaías aponta para os atos verdadeiros de vida cristã: “Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados. Dizei às pessoas deprimidas: ‘Criai ânimo, não tenhais medo’ (Is 35, 3)”.
O mundo de hoje pergunta aos cristãos: Deus nasceu verdadeiramente, onde? A resposta dar-se-á por atitudes visíveis e pelo testemunho, não pelas teorias e meras declarações. O cristão deve ser profeta. E João Batista é exemplo. Ele não aderiu a uma sociedade consumista e materialista, que privilegia uns em detrimento de outros. E aqui se entende o modo de viver e falar de João. Despojou-se de tudo que poderia chamar a atenção sobre si mesmo. O que lhe importava era Cristo. Seria necessário que todos descobrissem, o mais cedo possível, Aquele que é cheio de misericórdia, paciência, doçura e infinito perdão. O Precursor não queria que ficassem dúvidas em seus seguidores. No entanto, ainda paira a inquietação em muitos, no mundo hodierno, quando ouvem falar de Cristo. Assim se expressou Dom Oscar Romero, arcebispo de El Salvador, na homilia de Natal, em 1977 (a qual poderia ser aplicada ao Brasil): “Que natureza linda, que mundo rico e encantador, cheio de descobertas e tecnologia moderna! Porém, quando vemos o nosso país gemer sob a iniquidade, a injustiça, a impunidade e os desmandos, sentimos a necessidade de suplicar insistentemente a Deus, pedindo que Cristo venha e não tarde mais”!