Padre João Medeiros Filho
A solenidade da Epifania do Senhor é celebrada no dia 6 de janeiro. No Brasil, porém, é antecipada para o primeiro domingo do ano. Nela comemora-se a manifestação de Cristo a todas as nações, como luz do mundo! A busca dos Magos é a afirmação desse clarão divino. Dá-se o encontro do Salvador com personagens alheios à tradição bíblica. Eis a primeira lição do Menino. Seu nascimento não veio confirmar privilégios. Nasceu para trazer vida àqueles que desejam a salvação, não importando sua condição socioeconômica, cultural, étnica ou religiosa. Deus não é apenas de alguns, mas de todos. Cristo ensina-nos na manjedoura que Ele não deseja o poder terreno. Veio pobre e indefeso, como uma criança, para não amedrontar. Em torno dele, unem-se os povos, vindos de longe, enquanto os que estavam por perto O ignoraram. Muitos buscam Cristo de modo diferente. Os Magos procuraram-No para O adorar, porém Herodes pretendia matá-Lo. Enquanto uns proclamam Jesus: “luz do mundo” (Jo 8, 12), outros desejam execrá-Lo, porque a claridade desnuda o erro, a injustiça e o pecado.
Os Magos simbolizam os sedentos da Palavra divina e Herodes representa o Mal. Eles são imagem de nossa trajetória humana. Para descobrir Cristo, às vezes, temos de caminhar nas trevas, por terras desconhecidas e desertas. Uma estrela os conduziu até a cidade de Belém. De igual modo, existe para nós a chama da fé que nos conduz ao local onde encontraremos o Salvador. Infelizmente, há os que ficam cegos com sua própria luz. Têm medo de aceitar Jesus, por isso procuram destrui-Lo. É uma tentação constante da humanidade: querer eliminar quem incomoda. Cristo sequer começara a sua pregação, mas sua presença já importunava.
Para proclamar o nascimento do Salvador, devemos fazer o caminho inverso dos poderosos e nos desviar da rota da cobiça e do orgulho. Só Deus enche de paz o coração do homem. Nem mesmo a riqueza, o poder e a glória nos aquietam. Belchior, Baltazar e Gaspar fazem-nos compreender que os considerados excluídos são os primeiros a sentir a graça divina. Jesus nasceu para todos e mostra-nos que a misericórdia do Onipotente pelos homens não discrimina. “Deus não faz acepção de pessoas”, assevera-nos o apóstolo Paulo (Rm 2, 11). A realidade divina tornou-se acessível aos mortais. O Verbo não veio apenas ao mundo, também se encarnou para que sentíssemos o seu Amor por nós. Vivemos numa sociedade egoísta, na qual as pessoas cada vez mais se fecham, numa atitude de insensibilidade ou medo. Apesar de sua grandeza, o Filho de Deus fez-se humilde e pequeno para não atemorizar. Mesmo os desconhecidos foram recebidos com ternura e respeito.
Hoje, Ele se revela a nós, não como aos pastores e Magos, mas no pobre dormindo ao relento nas ruas, nos idosos abandonados por familiares ou pela sociedade, no doente num leito de hospital sem atendimento adequado, carentes, injustiçados etc. Ensina-nos a amá-Lo, sentindo-O no próximo. A presença de Cristo é fruto de busca incessante. Ele deseja se revelar a cada um de nós. Porém, precisamos perseverar e procurá-lo até nas trevas.
Jesus é o Irmão de todos. Nasceu tanto para o seu povo, como para os estrangeiros vindos do Oriente, cuja religião era outra. É relevante o relato de Mateus a respeito da indagação palaciana sobre o local do nascimento do Menino. O evangelista narra a ignorância de Herodes, ícone dos prepotentes da época. “Onde está o Rei dos Judeus, que acaba de nascer?” (Mt 2, 2). Por vezes, a nossa alienação é idêntica. Cristo está próximo de nós e não O reconhecemos; ao nosso lado e não O percebemos. Falta-nos o desejo de busca e descoberta do Divino. Os Magos não mediram esforços. Viajaram por terras estranhas, enfrentando adversidades, mas foram recompensados pela alegria de encontrar o Menino Deus. Em sinal de gratidão, ofertaram o que tinham de melhor, segundo as suas tradições. Vale lembrar a exortação do profeta Isaías: “Levanta-te, ilumina-te, porque chegou a tua luz, e a glória do Senhor raiou sobre ti” (Is 60, 1).