Origem e sentido do presépio

Padre João Medeiros Filho
É tradição em países cristãos armar o presépio, no início do Advento, culminando com a festa do Natal. Variam de dimensões: desde as miniaturas até os grandes. As imagens do primeiro presépio foram feitas em argila por São Francisco de Assis, em 1223. Naquele ano, em lugar de festejar o Natal dentro da Igreja, segundo a tradição católica, o “Poverello” decidiu celebrá-lo na floresta de Greccio (Itália). O religioso cuidou de transportar para o local uma manjedoura, um boi e um burrinho. O objetivo era explicar melhor o nascimento de Cristo aos camponeses, os quais não conseguiam ler os relatos bíblicos e tinham certa dificuldade em compreender a vinda do Messias ao mundo. Por outro lado, São Francisco queria viver com mais realismo, junto com seus confrades e moradores da região, o nascimento de Jesus num ambiente semelhante àquele em que nosso Salvador veio ao mundo.
O costume logo se espalhou pelas principais catedrais, igrejas paroquiais e capelas, em mosteiros e conventos da Itália. Posteriormente, começou a ser introduzido nos palácios. Em 1567, Giovanna d´Aragona, duquesa de Amalfi, mandou montar um presépio, contendo 116 figuras, para representar o nascimento de Jesus, a adoração dos Magos, pastores e o canto dos anjos ao Menino Deus. No entanto, foi no século XVII que a prática chegou às residências dos fiéis, disseminando-se pela Europa. Paulatinamente, passa a fazer parte da catequese cristã.
Em dezembro de 2019, o Papa Francisco escreveu a Carta Apostólica “Admirabile Signum” sobre o significado e valor do presépio. Naquele documento, incentiva a armá-lo em lugares onde se conserva a tradição e também em ambientes nos quais se perdera este hábito. O Sumo Pontífice deseja que se redescubra e revitalize o seu sentido. “Admiração e encanto são os sentimentos imediatos que brotam diante do presépio, por isso ele é um sinal admirável”, ensina o Santo Padre. Na verdade, retratar o nascimento de Cristo, de forma artística, ajuda a penetrar no mistério insondável da Encarnação. Nela, o Verbo assume a condição terrena para viver entre os homens e partilhar com eles alegrias e dores. O cenário do presépio presta-se a recordar o plano de Deus sobre a vida terrena, unindo o Divino à humanidade e à criação.
Dois episódios contribuíram para São Francisco rememorar o nascimento do Messias. Primeiramente, numa viagem à Terra Santa, ficou tocado pela visita à Igreja da Natividade, em Belém. Posteriormente, dirigiu-se a Roma, com o propósito de obter a aprovação pontifícia para a Ordem Franciscana, voltada para a simplicidade e pobreza. Ali, foi rezar na Basílica de Santa Maria Maior, onde existe um belo mosaico do nascimento de Cristo. Voltando a Assis, em 1223, quis celebrar o Natal numa gruta, seguindo os relatos bíblicos, em clima de despojamento e simplicidade.
É importante que a armação do presépio envolva todos os habitantes da casa. Na medida em que se põe uma imagem, simbolicamente coloca-se a própria vida aos pés do Menino Jesus. Esse gesto é um convite à reflexão sobre a benevolência inefável de um Deus que desejou se tornar humano. Consoante a tradição, existem os personagens clássicos, recordando o fato histórico. Mas, não se trata apenas de comemorar o passado. O mistério deve ser vivido hoje, dando-se espaço à imaginação criativa. Pode-se introduzir no cenário descrito pelos evangelistas personagens da atualidade (doentes, idosos etc.) É a contextualização do acontecimento. A imagem clássica da Criança na manjedoura é rica de simbolismo. Mostra-se Jesus estendendo os braços para cada pessoa que dele se aproxima. É importante que a representação fale a cada um de nós. O presépio narra o amor de Deus, que se fez pequeno para nos dizer quão próximo está do ser humano, independentemente de sua condição. Ali, encontra-se toda a dimensão do cristianismo: o encontro do Céu com a terra, do Criador com a criatura, do Sacrossanto com o pecador! Dali brota para o mundo uma lição: encontrar Cristo exige caminhada, às vezes, por estradas desconhecidas e tenebrosas. Mas, a luz da fé levar-nos-á ao Salvador. “Vimos a sua estrela e viemos adorá-LO.” (Mt 2, 2).