JUBILEU DE OURO SACERDOTAL DE CÔNEGO JOSÉ MÁRIO DE MEDEIROS

“Declarem santo o quinquagésimo ano e pela terra proclamem
a minha ternura. Será para todos um Jubileu.” (Lv 25, 10).

Pela ordenação presbiteral, o Cônego José Mário de Medeiros foi constituído um “Alter Christus”. Renovou-se misticamente o mistério da Encarnação.

A data de hoje é celebrada no tempo do Advento, no qual se anuncia que o “Verbo se fez carne e habitou entre nós.” (Jo 1,14).

O Eterno quis assumir a condição humana, tornando Maria Santíssima o primeiro sacrário da Divindade.

Num sublime gesto de amor, Cristo tornou-se nosso irmão, conferindo-nos uma dignidade ímpar. “Somos, pelo amor de Deus, projeto do Eterno, semente do Absoluto.

E Jesus, o Divino feito homem, é o máximo futuro da nossa natureza. Utopia maiúscula, da qual um dia nos revestimos”, escreveu o Padre Teilhard de Chardin.

Querido irmão e confrade acadêmico, buscamos palavras que possam traduzir a importância de meio século de sacerdócio ministerial, vivido com fé, sabedoria e doação.

Lembremo-nos das palavras do salmista, quando agradece ao Todo-Poderoso a riqueza de sua revelação: “Dai graças ao Senhor, pois Ele é bom, eterno é seu amor, incomensurável a sua misericórdia.” (Sl 106, 1).  Somos afortunados pelo testemunho de nosso homenageado.

Hoje é dia de memórias, louvor e agradecimento. Agradecer integra a nobreza da vida e a dignidade da alma cristã. Por isso, vemos o Mestre elevando os olhos aos céus e rendendo graças ao Pai: “Eu te bendigo e te agradeço, ó Pai.” (Lc 10, 21). Nesta missa, rezaremos como Santa Edith Stein: “Senhor, queremos cantar canções de louvor e gratidão. Que das tuas fontes faças brotar o canto de nossa alma. E na tua bondade infinita o canto de nossa pobreza encontre encanto!”.
A bondade de Deus coroa de bênçãos, há cinco décadas, aquele que Ele nos presenteou como pastor de nossas vidas. O Transcendente revelou-se com um rosto humano na pessoa de nosso caríssimo Cônego José Mário, que tem por seu rebanho o sentimento descrito pelo profeta Isaías: “Velarei por ti…, como a mãe acalenta o filho” (Is 66, 12-13). Elevamos nossas preces aos céus e bendizemos ao Senhor por nosso irmão sacerdote, há cinquenta anos. Destes, mais de trinta, dedicados à Igreja na Arquidiocese de Natal.

Padre José Mário entregou-se a Deus para ser mensageiro da graça.
Para o nosso sacerdote jubilar, o santuário de nossa alma sempre foi a primazia de sua missão presbiteral. “Vós sois o campo de Deus” (1Cor 3, 9), assim se referiu o apóstolo Paulo às comunidades de Corinto.

O Cônego José Mário, como semeador do Evangelho, sempre acreditou nesse plantio divino.

De espinhos poder-se-ão colher flores; de sementes, entre pedras, ramos verdejantes e frutos saborosos.
Hoje, limitado pela saúde e a complexidade da vida moderna, nosso emérito continua a dedicar-se às tarefas pastorais, com o entusiasmo de sua juventude sonhadora de sacerdote, em Jardim de Piranhas e alhures.

Não esquecemos uma frase dita por ele aos paroquianos de São José de Caicó em 1966, numa palestra sobre Sagrada Escritura: “o ser humano vale muito, pois é sacrário do Infinito”.

E aqui seu pensamento encontra-se com o de Claudel, quando exclamou: “Deus colocou o coração humano para além do tempo num desejo e sonho de eternidade.”.
É ao irmão José Mário que a Igreja agradece, rendendo graças ao Pai, neste dia de festa e alegria. Nosso homenageado dá-nos uma lição ao fazer da vida um contínuo aprendizado. “O belo mesmo da existência é aprender, mergulhando cada dia um pouco mais, no oceano do Sagrado”, afirmou o saudoso Dom Nivaldo Monte.
O zelo de nosso jubilar pela arte evoca-nos a perenidade e a beleza do Infinito, aproximando-nos do Eterno. Eis um sacerdote culto, erudito e eclético do Rio Grande do Norte. Seu pensamento transita pelas páginas da Sagrada Escritura, história, genealogia, museologia, arte e literatura, inclusive Exupéry de quem é especialista. É apaixonado pela poesia e devoto de Maria Santíssima – a excelsa poetisa do Novo Testamento – em cuja festa escolheu ser ordenado e a quem consagrou seu ministério presbiteral. Cônego José Mário ama a dimensão poética e sabe que a oração é a forma absoluta da poesia, a qual simboliza “as asas da alma e a mais humilde serva da esperança”, segundo Adélia Prado. A profundidade espiritual e inquietude intelectual de nosso jubilar recordam a sede interior de Santo Agostinho, quando busca o Amor e a Luz da Vida. Ao conversar com ele, em certos momentos, traz-nos à mente o bispo de Hipona: “Senhor, torna-nos capazes de viver com amor nossa vocação, como verdadeiros enamorados da beleza espiritual, extasiados pelo perfume de Cristo, que exala de uma vida de conversão ao bem, não como escravos subjugados por uma lei, mas como homens livres, guiados pela graça divina”.
Cônego José Mário obteve vários títulos e diplomas acadêmicos: licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina, bacharelado em Teologia e mestrado Ès-arts pela Universidade de Louvain, na Bélgica, doutoramento em Língua Latina pela Universidade Salesiana de Roma. Educador por vocação dirigiu várias instituições de ensino, dentre elas, o Centro de Ensino Superior do Seridó-CERES/UFRN. Posteriormente coordenou os Campi da UFRN, tendo sido assessor especial do Magnífico Reitor.
Autor de várias obras literárias, pesquisador, poliglota, membro da ANRL, do IHGRN, Instituto Norte-rio-grandense de Genealogia etc. Tivemos a honra de precedê-lo na Universidade de Louvain e o antecedemos como diretor do então Núcleo Avançado de Caicó da UFRN, hoje CERES. Daí, resultarem também nossa afinidade e amizade. Por onde passou deixou rastros de luz e fez história. Esta é a medida do tempo, mas emissária da eternidade!
Pastor dedicado, nosso homenageado passou pela paróquia de Jardim de Piranhas (que compreendia também os municípios de São Fernando e Timbaúba dos Batistas), exercendo a função de administrador das paróquias de Brejo do Cruz (que integrava as cidades de São Bento, São José e Belém, na diocese de Cajazeiras/PB) e Janduís (no bispado de Mossoró). Cuidou pastoralmente de oito municípios, com aproximadamente cinquenta mil habitantes. Eis uma amostra de sua capacidade de servir e dinamismo sacerdotal. Chegando a este arcebispado, animou as freguesias de Macaíba, Ponta Negra e Bom Jesus da Ribeira (da qual é pároco emérito), acumulando as funções de capelão da UFRN e do Cemitério Morada da Paz. Incansável em seu ardor pastoral anima ainda o Eremitério do Santo Lenho e outras instituições religiosas. É de bom alvitre lembrar suas peregrinações à Terra Santa, importantes no aprofundamento da fé, no conhecimento exegético e em sua vivência mística. Há pouco tempo, após uma estadia de estudos em Roma, tornou-se postulador da causa de beatificação do Padre João Maria.
Meus irmãos, celebrar meio século de vida sacerdotal do Cônego José Mário é também proclamar solenemente a beleza da vida. É reconhecer a força do coração mais pujante e convincente que as limitações do corpo, espelho de nossa alma imortal.
Querido amigo, Deus seja louvado pela sua existência! Sentimo-nos privilegiados pela graça de sua amizade, pois assim quis o Pai Nosso que cultuamos e adoramos. Foi Ele quem despertou em nós vívidas lembranças, que revelam vínculos de fraternidade evangélica. Estamos unidos a seus amigos e gostaríamos de poder exprimir o bem querer, a admiração e a gratidão de todos. O Senhor o conserve são, lúcido e forte por muitos anos. Você traz a marca de Deus, inscrição da nossa proveniência, fornalha que arde no âmago de nossa alma.
Muito obrigado, irmão, você soube ensinar a seu rebanho que a existência humana faz parte da realidade eterna, admirável parcela de divindade, pois “Deus também habita no coração da matéria e da existência terrena”, como pensava Martin Heidegger. E, de modo inspirado, expressou-se Jacques Maritain: “É no concreto, no pão e no vinho, que se enraíza a presença de Deus”. Cristo é Deus feito homem, Ser Infinito materializado, acessível a cada um. Este é o Cristo que você ajudou a descobrir e amar. Ter o privilégio de sua amizade e escutado a sua palavra é “sentir-se às vésperas de Deus”, como afirmara o imortal Dom Marcos Barbosa.
Deus o abençoe, irmão. Nossa Senhora da Conceição, em cuja festa você foi ordenado, o ilumine sempre. Hoje recordemos que – em datas e anos diferentes – Dom Manuel Tavares de Araújo, bispo de Caicó, nos impôs as mãos episcopais e ungiu-nos presbíteros da Igreja. Fomos tangidos pelo mesmo báculo pastoral. Um memento e um momento de gratidão e saudades! Supliquemos à Mãe de Cristo que com o seu terno sorriso o acalente nos momentos de ventura ou tristeza.
Caríssimo irmão, Deus fortaleça a sua alma, console-o nas tribulações e aumente a sua fé na graça divina, que transforma o homem e o mundo! Sinta sempre a força do alto e possa dizer como Teresa d’Ávila: “Por tanto tempo o teu poder me abençoou. Sei que me conduzirás pelas estradas do amor e da misericórdia. Tu, Senhor, que penetras a minha alma e, como um turbilhão, invades a minha vida; a Ti, somente a Ti eu quero amar, a Ti somente a Ti desejo servir”!
Irmão, amigo e confrade, grato pela alegria dos anos partilhados. “Benedicat tibi Dominus et custodiat te; convertat vultuum suum ad te et det tibi pacem” (Nm 6, 24-26). Que o Senhor te abençoe e guarde, volte o seu olhar para ti e te conceda a sua paz.
Natal, 08 de dezembro de 2020.
Padre João Medeiros Filho