Padre João Medeiros Filho
As férias (sobretudo escolares) e o veraneio deste ano estão terminando ou já acabaram para alguns. E isso nos leva a refletir. Veranear, hoje em dia, representa mais uma questão de status social ou econômico do que propriamente uma oportunidade de lazer e repouso. Nota-se que não vale qualquer local. E não se fale aqui do caos do trânsito a caminho das praias e do barulho dos vendedores ambulantes e paredões de som. Já no Natal, às vezes, esquece-se o sentido da festa cristã e o pensamento volta-se totalmente para preparar a temporada de verão, seja na praia ou na montanha. Há o mito do veraneio. Não o fazer ou vivê-lo, parece que envergonha ou deprecia uns tantos. “Certas pessoas ficam postando fotos das praias, mas a gente sabe que elas só ficaram por lá dois ou três dias”, brincou o cantor padre Fábio de Melo em seu “twitter”.
Durante a temporada de verão, as redes sociais enchem-se de selfies e mensagens. Parece cômico, porém está se tornando também trágico. Não pelo fato de que as pessoas publiquem imagens e notícias de suas férias por uma ou mais semanas. Mas, pelo que isto representa em relação à necessidade de se construir uma imagem, a qual se encaixe nas expectativas e nos padrões ilusoriamente imaginados e planejados pela sociedade hodierna.
É provável que muitos indivíduos tenham gatilhos que influenciem seu ego. Um elogio costuma fazer alguém sentir-se melhor, enquanto uma crítica pode ser o suficiente para causar desânimo ou até mesmo desencadear depressão. A vontade de aparecer é uma arma de dois gumes. A foto de uma amiga, passando o verão em Fernando de Noronha ou Dubai, a selfie da colega de trabalho, exibindo um corpo “sarado”, impecavelmente dentro dos atuais padrões de beleza ou o carro novo que um vizinho acaba de adquirir poderão atingir a autoestima de alguns. As redes sociais estão aí para comprovar tais fatos.
Não é raro que pessoas trabalhem sua própria imagem para transmitir a impressão de que sua vida vai muito bem. Muitas vezes, o que se publica está ligado ao que se gostaria de ser, porém distante da realidade. Hoje, há aplicativos para transformar a barriga em “tanquinho” com apenas alguns toques. Isso sem falar em maquiagem, “fotoshop” e outros artifícios. Praticamente, uma plástica virtual. “Vanitas vanitatum et omnia vanitas”, (“vaidade das vaidades, tudo é vaidade”), proclama o Livro Sagrado (Ecl 1, 2). Exibe-se nas redes sociais o sonho ou a utopia de cada um. Entretanto, no cotidiano, não se faz o menor esforço para ser digno e verdadeiro. As “fake news” reforçam e exteriorizam nossa ilusão individual, do nosso faz de conta. Afinal, é bem mais fácil fazer uso de um aplicativo do que ser autêntico e coerente.
Viagens, automóveis e restaurantes de luxo – tudo isto que a sociedade atual valoriza – vêm construindo o perfil de muitos. Até a missão e a arte de informar entraram nessa onda. Isso explica a grande competição por “likes”. Obter mais curtidas confere importância e maior valor. Ninguém quer ser diminuído na mídia. No entanto, é assim que vários acabam se sentindo. Segundo uma pesquisa do “booking.com”, grande parte dos entrevistados assumiu a postura de ter publicado uma foto antiga, de férias anteriores, querendo parecer mais jovem e atraente.
Acredita-se que o problema não seja somente construir um novo personagem, mas não se aceitar ou estar de bem consigo mesmo. Os sinais da idade, uma reserva menor de dinheiro que obriga a ir para um destino de férias mais barato e simples, não devem ser um problema ou drama. Faz parte do existir e viver humanos. O que diferencia é a forma como se lida com tudo isso. Cristo veio ao mundo para nos ensinar a ser realistas e humildes: “Quem de vós pode, com sua preocupação, acrescentar um só dia à duração de sua vida. Vede os pássaros do céu. Olhai como crescem os lírios. Eu vos digo: nem Salomão em sua glória se vestiu como um só dentre eles”. (Lc 12, 25, 27).