
Ogoverno tem sido pródigo na distribuição de recursos públicos para mitigar os efeitos econômicos da pandemia. Graças a isso, o país terá queda do PIB (Produto Interno Bruto) inferior ao que se estimava há alguns meses. O ônus é que os gastos públicos esperados e inesperados farão com que a dívida ultrapasse 100% do PIB no fim deste ano.
O tamanho da dívida pode parecer algo de consequências abstratas, mas não é: tem impacto direto imediato e futuro no cotidiano nos brasileiros. Faz crescer a incerteza de que o governo terá condições de pagar o que deve. Investidores deixam de colocar dinheiro no país e especuladores compram dólar, o que equivale a retirar recursos das fronteiras.
A desvalorização do real frente às principais moedas faz as importações ficarem mais caras. Isso vem resultando em inflação mais alta do que se esperava. A perspectiva é de que os preços subam com intensidade ainda maior à medida em que haja recuperação da renda. A carne subiu no atacado, mas teve alta quase imperceptível até agora com a demanda limitada pela recessão. Estima-se que terá aumento de até 30% em 6 meses.
No início do ano, os brasileiros com direito ao auxílio emergencial serão submetidos a 2 tipos de dificuldades: deixarão de receber o pagamento e provavelmente gastarão mais para comprar alimentos. Terão, assim, queda na renda nominal e relativa.
Isso sugere que o governo tentaria prorrogar o auxílio emergencial e criar 1 novo benefício permanente, que pode ter o nome de Renda Brasil ou Renda Cidadã. Mas são fortes os indícios de que, ao contrário, nada disso será feito. Por uma razão simples: não há dinheiro. É necessário fazer não só com a dívida pare de crescer, mas também que comece a diminuir. Só isso poderá aumentar a confiança, reduzir a pressão cambial e a inflação.
Passada a eleição para as mesas da Câmara e do Senado, no início de fevereiro, o governo se empenhará em conseguir a aprovação de 1 tributo sobre transações, que será muito parecido com a CPMF (Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira), só que com outro nome.
A nova CPMF virá provavelmente sem os benefícios que são propagados em troca do imposto: a criação do novo programa de renda mínima e a desoneração da folha de pagamentos das empresas, algo que seria 1 incentivo à criação de empregos. Esses itens serão deixados de lado ou no mínimo desidratados em favor do ajuste fiscal. De novo o mantra insiste: não há dinheiro.
O limitador do populismo, pode parecer contraintuitivo, é a eleição de 2022. Jair Bolsonaro tentará ser reconduzido à Presidência. Claro que o melhor dos cenários para ele seria a economia bombar em 2021 e ainda mais em 2022. Mas não é possível contar com isso. Maximizar o crescimento em 2021 de modo irresponsável levaria ao risco de uma crise fiscal em 2022, com fuga intensa de capitais e inflação fora de controle.
O ajuste em 2021 pode levar a 1 crescimento comedido em 2022. Haverá frustração em maior ou menor grau, sem dúvida. Mas é 1 cenário que tende a favorecer quem já está no poder. Em situação de dificuldade, mas com alguma melhora, confia-se mais em quem já se conhece.
Poder 360.