O estudo Spectrochemical analysis of liquid biopsy harnessed to multivariate analysis towards breast cancer screening, publicado esta semana na prestigiada revista Nature, apresenta os dados levantados nos últimos dois anos, onde pesquisadores da UFRN utilizaram um exame conhecido como bioespectroscopia e técnicas multi-variadas de classificação para detectar precocemente o câncer de mama em um grupo de 476 voluntárias, entre elas pacientes da Liga Norte Riograndense contra o Câncer.
A publicação afirma que “a mortalidade por câncer de mama pode ser reduzida por meio de programas de triagem, onde testes clínicos preliminares empregados em uma população assintomática com o objetivo de identificar biomarcadores de câncer podem permitir o encaminhamento prévio de mulheres com resultados alterados para análises e tratamentos clínicos mais aprofundados”.
O estudo reúne uma equipe multidisciplinar comandado pelo professor do Instituto de Química da UFRN, Kássio Michel Lima, que aponta vantagens adicionais na técnica, como um melhor prognóstico da doença, permitindo um tratamento mais eficaz, uma menor morbidade associada, menos resultados falso-positivos e falso-negativos, menor custo e maior frequência analítica, o que tornam o método bastante atraente para o ambiente clínico.
O teste consistia em coletar sangue de mulheres saudáveis e de outras que foram diagnosticadas com câncer de mama, aplicando o infravermelho com apoio de algoritmos capazes de fazer a diferenciação entre os dois plasmas sanguíneos. A espectroscopia ATR-FTIR, em conjunto com técnicas quimiométricas, foi usada para detectar câncer de mama em estágio inicial. Em amostras normais foi realizada com sucesso com base nos espectros de plasma sanguíneo com precisão de 93% (sensibilidade de 94%, especificidade de 91%) utilizando o algoritmo SPA-SVM.
“A faixa de sensibilidade da mamografia varia entre 88% e 93% de acerto, enquanto o resultado do exame de sangue aponta para 94% de acerto, ou seja, dentro da mesma faixa de acerto da mamografia. Em termos de especificidade, a mamografia varia entre 85% e 94%, enquanto o exame de sangue oferece precisão de 91%”, explicou Kássio. O que significa, que na fase 2 dos testes, o exame de sangue provou ser tão eficiente quanto a mamografia tradicional.
A nova fase da pesquisa, a chamada validação, irá englobar testes cegos, com a coleta de sangue de voluntárias, que podem ou não estar doentes. O mesmo método de análise sanguínea será aplicado e depois validado pela mamografia e o resultado de ambos será então cruzado. Se os dados se mantiverem constantes o estudo poderá então evoluir para a Fase 4 e só após a aprovação, poderá ser patenteada e oferecida ao público em unidades de saúde.
Os testes que devem acompanhar a fase 3 devem ser retomados tão logo a pandemia seja controlada. O estudo publicado na revista Nature pode ser lido na íntegra em inglês neste link.
Vilma Torres / Agecom UFRN
Foto: Anastácia Vaz