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O Cine Panorama, ícone cultural do bairro das Rocas, está prestes a renascer como um cinema público de rua. O antigo prédio foi oficialmente desapropriado e tombado, na segunda-feira (24), pelo Governo do Estado, que pretende reinaugurá-lo em um ano, após restauro da estrutura. Segundo a Agência Nacional do Cinema (Ancine), Natal tem 21 salas de cinema – todas em shoppings – e é, ao lado de Campo Grande (MS), uma das duas capitais do País que não possuem cinema de rua.
Ao todo, serão investidos cerca de R$ 4,5 milhões para colocar o equipamento cultural, que fica ao lado do Hospital dos Pescadores, em funcionamento, sendo R$ 935 mil destinados à desapropriação, R$ 2,5 milhões para a restauração do prédio e R$ 1 milhão para aquisição de equipamentos. Os recursos são provenientes de parcerias com o Governo Federal, por meio da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), e emenda parlamentar da deputada Natália Bonavides (PT).
Inaugurado em 1967, com a exibição do filme “007 contra o Satânico Dr. No”, o Cine Panorama marcou gerações ao oferecer uma alternativa cultural no próprio bairro, sem a necessidade de deslocamento para as tradicionais salas de cinema da Ribeira, Cidade Alta ou Alecrim. A construção, idealizada por Luiz de Barros, surgiu como um espaço democrático de acesso à cultura e rapidamente se tornou um ponto de encontro popular no bairro das Rocas.
Após o encerramento das atividades no início dos anos 1990, o espaço foi utilizado como templo evangélico e, posteriormente, ficou abandonado. Apesar do tempo, o prédio ainda preserva sua estrutura original, com cerca de 500 lugares, com as cadeiras de madeira originais da época, um mezanino superior onde ficava o projetor, além do primeiro andar do prédio com salas para administração e espaço de convivência.
A secretária de Cultura do RN, Mary Land Brito, destaca a relevância do momento para a valorização do cinema potiguar. “Hoje é um dia muito importante para esse lugar e para a retomada de um instrumento essencial para a cultura, que é o cinema, porque o cinema é uma janela para o mundo. Aqui no RN, somos um dos poucos estados que não têm uma sala de cinema pública e uma sala de cinema de rua. O tombamento garante que o espaço seja restaurado para cumprir sua função cultural”, afirma.
Além do restauro físico, o projeto inclui a modernização do espaço, com melhorias na infraestrutura hidráulica e elétrica, adequações de acessibilidade e instalação de novos equipamentos. A expectativa é que o espaço esteja pronto para ser entregue em fevereiro de 2026, devolvendo à população uma sala de exibição que permitirá tanto a valorização do audiovisual local quanto o acesso a filmes fora do circuito comercial. A revitalização também prevê a criação de espaços de convivência, um café cultural e uma programação diversificada, que incluirá exibições de filmes nacionais, internacionais e produções independentes.
Na cerimônia que marcou o tombamento, a governadora Fátima Bezerra destacou o impacto social e cultural da reabertura do espaço. “Natal era uma das únicas capitais que não dispunham de um cinema público, junto com Campo Grande. Digo ‘era’ porque, com a desapropriação, Natal agora sai dessa estatística e passa a ter um cinema público”, afirmou. Para a governadora, o novo espaço será “fundamental para democratizar o acesso à cultura e exibir obras potiguares e produções nacionais a preços populares”.
A produtora audiovisual Babi Baracho ressaltou o significado da retomada do cinema de rua para o setor cultural do estado. “É muito emocionante estar aqui. Tem sido muito difícil lidar com essa realidade de Natal não ter um cinema público, que agora vai mudar. É muito boa a sensação de poder ter um espaço de rua para exibir nossas obras e também acessar filmes que não chegam aqui por não fazerem parte do circuito comercial”, aponta.
O projeto também surge em um momento de valorização do cinema nacional. A secretária Mary Land Brito destacou o potencial da nova estrutura para impulsionar o audiovisual potiguar, especialmente diante da produção de nove longas-metragens viabilizados pela Lei Paulo Gustavo, além de dezenas de curtas e videoclipes. “Mais do que recuperar uma sala de cinema, é a gente, na contemporaneidade, conseguir atender uma demanda que é de agora”, ressalta.
Tribuna do Norte