Haddad, a Faria Lima e o Nordeste

Na imagem acima, Haddad durante palestra na USP

Por Kakay.

“Você acha que este Congresso é ruim? Espere o próximo.”

Ulysses Guimarães

O melhor da política é ler e ouvir os comentários mais desencontrados sobre o que pode ocorrer com o país. Advoguei para 4 presidentes da República, mais de 90 governadores e dezenas de ministros e senadores. Sempre me diverti com os comentaristas políticos fazendo análises, muitas vezes, completamente divergentes da realidade. Até por isso, permito-me também dar meus pitacos, sem nenhuma pretensão, mas metendo a colher de pau na discussão após as eleições municipais.

Acho graça das afirmativas peremptórias sobre a provável derrota do PT em 2026. Penso ser importante lembrar que existe, no Brasil, um fenômeno chamado Lula. Ele se elegeu presidente da República em 2003, foi reeleito e conseguiu eleger sua sucessora, a presidenta Dilma (PT), que não era propriamente uma candidata popular. Qualquer político teria sido eleito com o apoio dele. É preciso recordar a história para entender esse fenômeno, o fundador e quase, esse um grande problema, dono do PT. Enfrentou um impeachment covarde, criminoso e irresponsável da presidenta Dilma. Hoje, todos admitem que não houve crime. Ou seja, retiraram da Presidência da República uma presidenta honesta e legitimamente eleita pelo voto popular para atender a interesses políticos escusos. Crime. Golpe.

Com o clima que se instalou no país à época, o PT perdeu 60% dos seus prefeitos e vereadores na eleição de 2016. Enquanto o PT fez 256 prefeituras, o PMDB (hoje, MDB – Movimento Democrático Brasileiro) fez 1.028 e o PSDB –lembram-se dele?– fez 792. É bom rememorar que o afastamento definitivo da presidenta ocorreu em 31 de agosto de 2016 e o 1º turno das eleições municipais foi praticamente 1 mês depois. Não faltaram analistas políticos para “vaticinarem” o fim do Partido dos Trabalhadores. Depois, removeram os principais auxiliares e ministros do Lula, inclusive o grande José Dirceu, que seria seu sucessor natural, para estrangular a continuidade do PT no poder. Não satisfeitos, a ultra direita e a burguesia econômica prenderam Lula por 580 dias, mantiveram-no em uma cadeia comum. Ele, com muita dignidade, não se entregou. Mas o país viu o fascismo chegar ao poder pelo voto popular nas mãos manchadas de sangue do bolsonarismo, impulsionado pelo lavajatismo. O Brasil foi arrastado para o abismo sob todos os ângulos.
Ainda assim, contra todos os poderosos grupos, com o desgaste de um impeachment criminoso, amargando 580 dias de cadeia, com a maior ação midiática contrária da história do Brasil e com um movimento nojento e abominável como a Lava Jato, Lula enfrentou o presidente da República em exercício, em 2022. Foi uma campanha de reeleição na qual Bolsonaro gastou em torno de R$ 370 milhões de dinheiro público e Lula foi eleito. Ganhou. Governa o país pela 3ª vez. Será que alguém acha que as eleições de milhares de cidades pequenas pelo país, de prefeitos do PL, terão real importância nas eleições para presidente da República? O prefeito eleito da cidade de Patos de Minas vai influenciar a eleição para a Presidência da República? Por sinal, interessante notar que, para quem acompanhou as eleições para prefeito, parecia, pela grande mídia, que só havia eleição para o município de São Paulo. Vez ou outra lembravam-se do Rio de Janeiro. E olhe que, em SP, o fascista do Pablo Marçal (PRTB) ficou fora do 2º turno. E, no Rio, Eduardo Paes (PSD) deu uma surra histórica em Bolsonaro e nos seus seguidores. O fascista apoiou um auxiliar direto dele que sequer conseguiu ir para o 2º turno.

Nesse contexto, é possível imaginar um governador como Tarcísio de Freitas (Republicanos), que comanda o orçamento de São Paulo, só menor do que o da União, afastar-se do cargo, deixando o governo do Estado mais poderoso da Federação, e não tentar uma reeleição razoavelmente tranquila para enfrentar o velho Lulinha paz e amor?! Só que agora com uma pitada de maldade. Não devemos nos esquecer de que em 2018, com Lula na prisão e o PT sendo demonizado, Fernando Haddad teve 44.87% dos eleitores, ou seja, 47.038.963 votos. E isso tendo demorado muito a sair candidato, pois parte significativa das pessoas queria Lula, mesmo ele estando preso. Agora, olha eu aí fazendo conjecturas como se fosse analista político: é esperar a vitória do Lula em 2026 e depois pavimentar a eleição de Haddad para Presidência da República em 2030. Ele é novo e brilhante. Já conquistou a Faria Lima, só falta conquistar o Nordeste.

Sempre nos lembrando de Nietzsche: “Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida – ninguém, exceto tu, só tu”.

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