Deu no New York Times

Falhou o modelo Trump nas eleições presidenciais brasileiras | Opinião
Na imagem, os ex-presidentes do Brasil e dos EUA, Jair Bolsonaro e Donald Trump.
Por Kakay 23.ago.2024
“A cadela do fascismo está sempre no cio.”

–Bertolt Brecht Às vezes, a sensação que tenho é a de que estamos em uma enorme caixa escura, hermeticamente fechada e com o ar, a cada segundo, mais rarefeito. E, o pior, dentro dela não se enxerga nada; porém, o barulho consegue nos perturbar. E o que se consegue ouvir é tão grave quanto a falta de ar ou a ausência de luz. Existe um ruído que atinge nossos ouvidos e, principalmente, nossa consciência sobre uma completa irracionalidade que beira a teratologia.

Nós imaginávamos que os Bolsonaros, Trumps e que tais seriam o fundo do poço. Mas parece que o mundo escatológico abriu as portas do esgoto e tudo ainda pode piorar. Até o limite do insondável.

Em recente manifestação numa entrevista ao jornal New York Times, em 1º de julho, Steve Bannon –ex-estrategista-chefe da Casa Branca e conselheiro sênior do ex-presidente Donald Trump– alertou que os novos políticos de extrema-direita farão, em pouco tempo, com que os democratas tenham “saudades” dos direitistas Trump e, por consequência, Bolsonaro. O que os superdireitistas apostam é na destruição da política e no caos. Eu sempre considerei que o bolsonarismo tinha o apocalipse como meta, o fim, a não política. Da mesma maneira, Donald Trump. Mas reconheço que Javier Milei, na Argentina, e Pablo Marçal, no Brasil, acenderam uma luz amarela. Há uma aposta clara e direta na incoerência absoluta e no negacionismo. Ainda que proibidos de usar as mídias sociais por fazer, muitas vezes, de maneira ilegal e agressiva, a opção desses candidatos é desafiar e manter a hostilidade. Como monetizam o que postam e falam, mesmo em debates, vale a pena, na visão utilitarista, pagar eventual multa.

Ganham rios de dinheiro e aumentam exponencialmente os seus seguidores. E nem há que se falar em escrúpulos de consciência, pois isso nunca existiu. É assustador. Quando se enfrenta quem, deliberadamente, não tem limites, qualquer critério ético não pode ser chamado à colação. É uma guerra de destruição e de terra arrasada.

Durante os 4 anos da gestão Bolsonaro, impressionou a todos a ausência de limites éticos e, até, de bom senso. A base do governo era, pensadamente, a estratégia da propagação do ódio e da mentira. A absoluta falta de compromisso com a verdade era algo estudado e pensado. A divulgação de fatos falsos servia como motivo para manter unida, a qualquer custo, a base bolsonarista.

Repetidamente, alertei que é muito difícil, quase impossível, debater com seriedade e profundidade com quem não tem nenhum limite. Quem mente com convicção e fala para um público incauto tem uma enorme chance de ser seguido cegamente. Há uma completa inversão de valores. Quem é ético e se sustenta na verdade, muitas vezes, perde a capacidade de discutir com esses verdadeiros trapaceiros. Faltam argumentos diante dos abusos.

A tese de Steve Bannon chega a causar calafrios, pois desnuda o que pode existir de pior no ser humano. A pregação e o discurso hipócrita da desnecessidade da política como forma de fazer política. E um método fascista de chegar ao poder a qualquer custo, tendo como tática o uso descarado de todo e qualquer artifício e o desprezo olímpico pela verdade e pelos fatos. Isso levou à afirmação cínica e descarada do mentor do ex-presidente norte-americano de que a esquerda terá saudades dos Trumps e Bolsonaros. É assustador imaginar que poderá ainda piorar.
E, infelizmente, é o que se apresenta como realidade neste triste momento da política nacional. Tenho dito que, quando o presidente Lula se apresentou como candidato, ele o fez para impedir outra vitória do fascista Bolsonaro. As últimas eleições foram um confronto entre a barbárie e a civilização. A democracia ganhou. Todavia, é necessário nos mantermos éticos e com os mesmos princípios. Se usarmos os métodos fascistas, a barbárie terá, no fundo, vencido. Esse é o nosso desafio.
Lembrando-nos de Mauro Santayana: “Com a extrema-direita não se brinca, não se alivia, não se tergiversa, não se compactua. Quem não perceber isso – esteja na situação ou na oposição– ou está sendo ingênuo ou irresponsável, ou mal-intencionado.

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