Padre João Medeiros Filho
Há aproximadamente cinco anos, a Editora Vozes publicou a “Sociedade do Cansaço”. Seu autor é um filósofo sul-coreano, Byung-Chul Han, radicado na Alemanha e estudioso da obra de Martin Heidegger. Hoje, o mundo depara-se com situações de estresse físico e mental, resultantes de uma civilização da pós-modernidade tecnologicamente acelerada e hiperativa. Reinam a ausência de tranquilidade e o abandono da contemplação, ocasionando violência, depressão, transtorno do déficit de atenção e escravidão moderna. O aprisionamento e dependência das tecnologias – acrescidos de mais consciência das injustiças e do desrespeito ao ser humano – têm agravado o quadro.
Como contraponto a esse tipo de vida social, Cristo oferece serenidade e paz, apresentando-se como remédio e resposta: “Vinde a mim, vós que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei… pois, o meu fardo é leve e meu jugo é suave” (Mt 11, 28). O avanço e o progresso puseram nos ombros do homem uma sobrecarga. No tempo de Jesus, era a canga da multiplicidade de normas e leis colocada sobre o pescoço das pessoas. Hoje, os cristãos deverão refletir, a partir de uma teologia da calma e da fortaleza. Na verdade, há que se debruçar sobre a pressa hodierna e a dependência da tecnologia que vitimam tantos. Vale lembrar o conselho de Jesus a seus discípulos e ouvintes: “O que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, e arruinar a sua vida”? (Mc 8, 36).
Para que haja vida é preciso quietude. O Filho de Deus nasceu no silêncio da noite e ressuscitou na tranquilidade da madrugada. “Ele manifesta-se numa brisa suave” (1Rs 19, 11). Não raro, o Mestre parava tudo e recolhia-se à prece. “Ao anoitecer, Jesus subiu sozinho ao monte para orar” (Mt 14, 22). Há uma sociedade estressada, deprimida e doente. A humanidade não sabe mais parar para pensar, contemplar e rezar. A pletora de informações despejada pela mídia tem causado indigestão mental, levando à indisposição e ansiedade. A partir daí, têm-se egos irritados, inflados e feridos. Isso ocasiona um mal-estar que paralisa toda tentativa de reflexão e prece. Na sua época, o apóstolo Paulo já advertia os filipenses: “Não andeis ansiosos, em toda e qualquer circunstância, apresentai os vossos pedidos a Deus” (Fl 4, 6).
Nesta civilização da fadiga, buscam-se saídas. Dentre elas, o mercado de palestras e livros de autoajuda estão cada vez mais procurados. A sociedade do cansaço resulta também do barulho. Até nas igrejas, a suavidade do canto gregoriano, que acalma e recolhe, foi substituída pelo som das baterias e guitarras eletrônicas. Não se balbuciam preces, como outrora. A carência de paz interior brota igualmente da agitação. Disso se originam discursos carregados de impaciência e ódio, conduzindo o homem ao desencontro de si mesmo e à inversão de valores. Assim, o poder passa a valer mais que o serviço. O dinheiro na balança da vida pesa mais que o caráter. E isto traz revolta aos cidadãos, tornando-os carrascos uns dos outros. Numa época em que se poderia trabalhar menos, graças ao desenvolvimento tecnológico, fica-se mais tenso e exausto. Perdem-se os objetivos e aumenta a concorrência – quase uma guerra – econômica, política, ideológica e religiosa. Os indivíduos tendem a se digladiar. Essa onda tem gerado um aumento significativo de doenças, como depressão, transtornos de personalidade, síndrome de “burnout” etc.
O Brasil vem se tornando uma sociedade de céticos e insatisfeitos. Ninguém suporta mais políticos, governantes oportunistas e manipuladores. O Covid-19 tem comprovado esta situação. Há os que querem aparecer a qualquer preço e fazem do povo um joguete, a serviço de seus partidos e ideologias. Nossa pátria está exaurida pelos escândalos, abusos e afrontas aos cidadãos. A população não aguenta mais ser lesada e aviltada. O Brasil saturado e extenuado poderá explodir. Exigem-se julgamentos sem iniquidade e subterfúgios políticos. Desejam-se igrejas que falem vivamente de Deus, despojadas de discursos ideológicos. É preciso valorizar a teologia da esperança, solidariedade e partilha, anunciando um Cristo que olhou para a multidão e “teve compaixão dela, pois estava cansada e abatida, como ovelhas sem pastor” (Mt 6, 30-34).